✿27 - Quando assumimos a responsabilidade✿

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Eu não me lembro muito daquela noite, não só pelo Alzheimer, me permiti ficar bêbado, seria uma das poucas vezes que poderia me deixar tomar pelo álcool

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Eu não me lembro muito daquela noite, não só pelo Alzheimer, me permiti ficar bêbado, seria uma das poucas vezes que poderia me deixar tomar pelo álcool. É estranho notar que vou sentir falta da ressaca. Mas lembro, talvez, não com muitos detalhes, de uma conversa que tive com Priscilla e uma mulher, Sandra, lesbica tinha 50 anos ou era 52? Ativista, acho que era branca com cabelos ruivos.

— Foram tempos difíceis, perdi muitos amigos — Sandra suspirava enquanto bebia, acho que era vodka, o líquido era transparente. Ela me olhou.

— Não era muito próximo de ninguém, não podia correr o riscos — confessei —, sinceramente eu fazia questão de não manter vínculos, mesmo frequentando bares. Doei para várias ONGs. — Não contei isso como uma falsa redenção ou justificativa e elas sabiam disso. — Foi meu jeito de me sentir menos culpado.

— Eu perdi... — Priscilla começou a falar e se interrompeu, dava para ver a dor em seus olhos. — Ah, eu sou bicha velha, todos aqui somos... sabemos que é difícil, eu vejo esses fraguinhos, tenho inveja... é um pouquinho mais fácil agora. A maioria deles não terá que ver muitos dos seus morrendo de AIDS.

— Eu tinha uma amiga travesti, como era o nome? Roxane! — Sandra contou.

— Como em Moulin Rouge!? — Priscila sorriu e cantou a versão do musical : — Roxanne, você não tem que colocar a luz vermelha. Esses dias acabaram, você não tem que vender seu corpo para a noite. Roxanne, você não tem que vestir esse vestido à noite, vender seu corpo por dinheiro. Você não se importa se isso é certo ou errado.

A voz grave de Priscilla combinava com a música, ela seria uma incrível estrela da Broadway. Eu a imaginei em um show de Moulin Rouge, descendo as escadas com uma luz a deixando em foco enquanto vestia um vestido vermelho com espartilho. Eu iria nesse show.

— Ela morreu? — perguntei.

— Quem? — Sandra indagou.

— A Roxane, mulher, estávamos falando de gente que morreu e você falou dela — Priscila explicou.

— Oh, não... — Ela sorriu e bebeu o resto do líquido transparente. — Ela virou amante de irlandês rico e foi embora com ele, no ano de 2000 se não me engano. — Olhamos para ela tentando entender. — Só lembrei dela porque ela era amiga de um amigo meu que morreu e porque ela era uma grande gostosa.

Quando eu tinha 60 anosOnde histórias criam vida. Descubra agora