Red Thread - one shot book

quase sem querer

_lilibianchi <3

James para por momento na batente da porta, observando atentamente enquanto Regulus se movia graciosamente pela cozinha, agarrando sua xícara favorita no armário (uma porcelana branca enfeitada com espirais rosas e azuis e letras garrafais que diziam "I don't fit your standards #transpride") e servindo-se uma dose generosa de café puro.

Seu cabelo era aquela bagunça cacheada que ele adorava usar quando estavam apenas os dois no apartamento, reservando para James a visão que era observá-lo caminhar com o balançar de seu cabelo macio.

James escondeu o rubor que ameaçou pintar seu rosto quando Regulus se virou em sua direção, sorrindo docemente para ele com suas covinhas e barba por fazer da qual ele tanto se orgulhava.

— Bom dia, James.

— Bom dia, Reg.

James retribuiu o sorriso, não deixando que Regulus percebesse a forma como sua postura amoleceu ainda mais ao simplesmente ouvir a voz do outro homem.

— Tem café passado, torradas e algumas frutas na geladeira que eu comprei ontem se você quiser comer alguma coisa — Regulus murmurou vagamente sentando-se na pequena mesa redonda da cozinha, onde seu laptop já o esperava aberto.

— Claro, obrigado — James respondeu ao se mover até o armário para pegar uma xícara e servir café também. Ele olhou de canto para Regulus, que parecia absorto teclando no laptop — Encontrou uma música nova?

— Encontrei — Regulus sorriu brilhantemente para ele, fazendo com que James fosse até ele para dar uma olhada na tela do eletrônico — É de uma banda de rock brasileiro dos anos 80 e 90 chamada Legião Urbana. Eu passei a madrugada inteira escutando as músicas deles, mas uma me chamou atenção em especial. Chama-se Quase Sem Querer.

— Posso ouvir? — James perguntou desviando o olhar de onde o play da música estava na tela e observando Regulus sorrir.

— Claro.

☽

James Potter e Regulus Black dividiam um apartamento. Se você perguntasse para muitas pessoas, isso seria a única coisa que elas diriam que eles têm em comum. Mas James sabe melhor.

Há quase dois anos atrás, quando Sirius decidiu em seu segundo ano da faculdade que iria morar com seu namorado, Remus, e se mudar do apartamento que ele e James dividiam, James apoiou seu amigo com entusiasmo, mas também não pode negar que entrou um pouco em desespero. Ele não sabia como iria fazer para equilibrar suas despesas acadêmicas, conta de luz, água, telefone, internet e ainda o aluguel do apartamento com apenas seu salário de meio período numa cafeteria perto do campus.   

Isso foi até que Regulus Black, com seus cachos negros, olhos azuis e pele polida, apareceu em sua porta como um verdadeiro anjo. Ou de uma forma menos dramática, como um calouro que precisava de um lugar para morar e acabou ali por recomendação de seu irmão mais velho.

James sabe que no momento em que colocou os olhos em Regulus - em seus piercings, em suas camisetas de bandas antigas que sempre pareciam largas demais com a alça do top esportivo aparecendo e em sua pequena e estranha tatuagem de um minúsculo útero mostrando o dedo de meio quase que imperceptivelmente que ele tinha na parte interna do dedo anelar - que ele estava perdidamente apaixonado por ele e que aquele garoto lindo pra caralho seria a sua ruína.

No começo Regulus era tímido, como,  muito tímido. Ele mal saia do quarto quando estava em casa e quando não estava, ele parecia sempre ocupado demais com trabalhos da faculdade e provas. A primeira vez em que eles tiveram realmente uma conversa, foi em uma tarde chuvosa quando James saiu mais cedo do trabalho e encontrou Regulus chorando no banheiro de casa. Não foi um bom começo, mas foi o suficiente para que eles se tornassem amigos quase que no mesmo momento.

Mesmo que James sempre quisesse ser algo mais daquele garoto que roubou seu coração e adoração no exato instante em que apareceu em sua vida.

☾

Algumas horas após o café da manhã, James respira fundo antes de bater na porta do quarto de Regulus, mantendo-se estável para não desmaiar ali mesmo. É agora ou nunca.

— Pode entrar.

Potter abre a porta hesitantemente, espiando o quarto e encontrando Regulus sentado de pernas cruzadas na cama. O homem mais jovem sorri para ele e imediatamente James sente seu coração se acalmar.

— Ei, Reg, tudo bem? — James pergunta nervosamente, notando Regulus fechar o laptop para focar toda sua atenção nele.

— Oh, sim. Apenas adiantando algumas coisas da faculdade pra semana que vem.

— Bom, muito bom...

Eles ficaram naquele silêncio constrangedor por um momento, Regulus esperando que James falasse algo mais e James murchando cada vez mais por dentro.

— Eu gostei muito da música — Regulus pareceu agradavelmente mais animado com o assunto — Ela é muito bonita.

— Fico muito feliz com isso, James. Ela é realmente belíssima. Se você quiser eu posso te mostrar mais músicas da banda qualquer dias desses.

— Eu ia adorar, Reggie — James não pode evitar o sorriso que rasgou seu rosto quando Regulus corou com o apelido. Uma onda de coragem caiu sobre ele e as palavras saíram de sua boca sem permissão — Você vai fazer alguma coisa amanhã?

— Amanhã? Não sei... que dia é amanhã?

— Quinta — oh, James sentiu a insegurança tomar lugar da coragem em alguns instantes, que diabos ele estava fazendo?

— Oh, amanhã eu tenho que sair com Remus. Sabe, coisas de meninos trans — Regulus deu uma risada sem jeito, coçando a nuca. James estava prestes a pedir licença e ir se lamentar em silêncio em seu quarto quando Regulus continuou falando, mais suavemente desta vez — Mas.... Eu estava pensando se, sei lá, podíamos tomar um brunch sexta-feira naquela cafeteria perto da biblioteca municipal.

— Isso seria...

— Um encontro, sim.

— Você está me convidando para um encontro? — James tem certeza de que sua voz soou no mínimo esganiçada, mas ele não poderia se importar menos.

— Sim, eu estou — James jurou que poderia morrer ali mesmo, com os olhos fixos na forma como a luz do sol invadia o quarto e refletia as sardas que enfeitavam as feições genuínas de Regulus.

Ele morreria feliz.

— Mal posso esperar por sexta-feira.