Capítulo 51

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Aqueles últimos dias foram um inferno para Jericho. Como se não bastasse passar o dia pensando em Francisca, também havia os sonhos.
Em Mercille, seus sonhos eram longas lembranças do seu sofrimento. Sonhava com seringas e agulhas, correntes, com o som de seus ossos quebrando e da ardência das chicotadas em sua pele. Quando se tornara livre, os pesadelos o acompanharam por um longo tempo. Então, começara a sonhar com as florestas da Reserva, com seus amigos e com a rotina em Homeland. Acordava feliz por sonhar com sua nova vida.
Agora, acordava infeliz e com seu corpo em chamas. Já sonhara com fêmeas e sexo antes, mas nunca sonhara com uma companheira. Nos seus sonhos, Francisca estava sempre ao seu lado. Eles viviam juntos em Homeland, passavam dias nas florestas da Reserva... Nessa última noite sonhara que tinha um filho com ela e ela amava que a criancinha parecia com ele. Acordara com o rosto molhado de lágrimas.
Mas na vida real ela não o queria de verdade. A última vez mostrara que ela sentia muito desejo por ele e era só. Naquela tarde ele decidira deixá-la escolher se queria ficar com ele, decidira parar de implorar que se tornasse sua companheira . Ele fizera de tudo para mostrar que seria um bom macho para ela, mas não fora o bastante.
Lembrou-se das fêmeas que compartilharam sexo com ele, mas não o queriam em sua vida.
Ainda assim, sofrera de esperanças no dia seguinte que ela partira. Esperara até o fim do dia que ela entraria em contato com Homeland e ligaria para ele. Quem sabe não viria até ele.?Fury lhe dissera que a entrada de Francisca seria autorizada a qualquer momento que ela quisesse. Mas o primeiro dia passara e ela não o procurara.
O dia seguinte reacendera sua esperança. Pedira para patrulhar nos portões querendo recebê-la logo. Entretanto, o segundo dia também se fora!em decepção.
Wind perguntara por ela no terceiro dia, porém ele não tivera nada a dizer. Finalmente, naquele dia entendera que ela não o procuraria. Aceitara que eles tiveram um caso, como diziam os humanos. Fizeram sexo, um sexo muito bom, mas ele fora demais para a pequena Francisca. Afinal, que fêmea iria querer um macho atemorizante como ele? Nem mesmo suas próprias mulheres aceitavam seus horríveis olhos vermelhos!
Cinco dias depois que ela o deixara descobrira que ela viria trabalhar em Homeland. Inocentemente, Flame transmitira para ele a responsabilidade.
Mas ele não queria reencontrá-la, não com todos aqueles sonhos o atormentando! Era doloroso demais ter se sentido pertencer a alguém e perceber que não passara de um sonho tolo. Então pedira à sua grande amiga Star que fosse em seu lugar. Ela era uma fêmea gentil e seria perfeita para a timidez de Francisca.
Fora difícil se manter longe do Laboratório de Informática, mas não forçaria sua presença a ela. Passara a manhã no Centro Médico, fingindo que se interessava pela aula de primeiros socorros que o enfermeiro Paul dava. Praticamente se arrastara durante aquelas horas.
Breeze, que fora à aula só para atazanar Paul, o acompanhara até o refeitório contando as últimas traquinagens de Salvation, sua criança preferida. Jericho mal a ouvira. Todo o seu esforço estava em evitar procurar por Francisca entre os humanos no refeitório. Queria vê-la com todas as suas forças, mas tinha medo de se jogar aos pés dela e implorar por seu afeto.
Então, Breeze o fizera se virar para alguém. E seus olhos a fitaram diretamente. A fêmea se animara ao ver Star e tentara puxá-lo até ela.
Jericho se negara. Por nada iria até Francisca, já que ela o evitara claramente!
Continuou na fila, mas seu coração se apertou ao vê-la se levantar e se afastar rapidamente. Era tão terrível vê-lo?
Lembrou-se dela se entregando a ele, gozando nos seus braços, acariciando seus cabelos até adormecer. Nada daquilo fora bom?
Breeze caminhou até ele.
- Por que não me disse que aquela era a sua mulher?
- Não é minha mulher e não me lembro de ter falado dela com você.
- Justice me contou.
Jericho franziu a testa. De fato, os Novas Espécies eram fofoqueiros. - Eu achei que estavam juntos.
- Não estamos.
- Mas ela pareceu bem abalada com Star.
- Como assim?
- Star deu a entender que vocês são amantes.
- E daí?
Breeze balançou a cabeça.
- Daí que as humanas não aceitam isso muito bem. - jogou os cabelos para trás. - Jessie quase pirou quando soube que Justice transou com Kit.
- Por quê?
- Ciúmes.
Ele balançou a cabeça.
- Francisca não tem ciúmes de mim.
- Não é o que me pareceu.
Jericho abaixou o olhar.
- Ela não me quis.
Breeze lhe deu um olhar de entendimento. Sabia que as fêmeas tendiam a temer Jericho.
Chegaram até as mesas de buffet e se calaram. Só quando se serviram e saíram da fila Breeze continuou.
- O pouco que sei sobre humanos me diz que aquela fêmea ficou sentida.
A esperança fez o coração de Jericho acelerar. Seria possível que Francisca sentira ciúmes dele?
Olhou na direção do banheiro e sentiu uma vontade imensa de procurá-la. Se aquela fêmea sentisse metade do que ele sentia, lutaria por ela!
Uma sirene começou a tocar e todos os espécies ficaram atentos. Só havia um motivo para a sirene tocar e era se estivessem sendo atacados. Jericho deixou sua bandeja sobre uma mesa e fez o que todos os machos Novas Espécies fizeram. Correu para se apresentar nos postos de combate.
Enquanto atravessava o salão junto com uma centena de machos forçou seus pensamentos em Francisca para um canto de sua mente. Aquela era a hora de lembrar que eram espécies ameaçados, era hora de sobreviver.

JERICHO: Uma história Novas Espécies 2Onde histórias criam vida. Descubra agora