JERICHO: Uma história Novas Espécies 2

Capítulo 25

Furioso, Jericho não conseguia se conter. Andava de um lado para o outro, tentando gastar a raiva que sentia. Francisca não tinha problemas com ele, com sua aparência, mas mostrou o preconceito que sentia pelos Novas Espécies.

O desgosto que sentiu quando ela disse que os grupos de ódio poderiam ter razão o encheram de uma raiva visceral. Como dar razão às pessoas que odiavam o seu povo?
Os Novas Espécies andavam armados? Com razão, pois foram atacados diversas vezes. Escondiam-se atrás de muros altos? Sim, porque seu modo de vida não era entendido. Tudo o que faziam era se proteger e defender.

Jericho lembrou de como era maltratado, de como era torturado em nome da ciência, de como era visto como menos do que humano por causa da sua aparência.

Nos dias que convivera com Francisca viu seu interesse por ela aumentar. Era mais do que por seu rosto bonito ou curvas suculentas; gostava dela, gostava de sua timidez, da forma como seu olhar mudara de medo para desejo.

Mas agora não era afeto que sentia por Francisca. Sentia raiva, muita raiva.

Você me chamou de sua. Era para o que, me envolver para ficar aqui?

Ele fora ensinado que não tinha beleza, que seu físico apenas espantava as pessoas, assim como acreditar que seria capaz de envolvê-la, seduzi-la? Ele fora seduzido por ela. Ele ficava quase sem fôlego quando a tocava.

Desde que a carregara no helicóptero sentira algo diferente por ela. E quando ficaram juntos na festa a sensação de posse dominara o seu coração e ele declarara que ela era sua. E depois  Francisca mostrara que poderia ser sua.

Ah, e a loucura que sentira com o toque dela... Ela o segurara com delicadeza, mas se ela pedisse seria capaz de ficar de joelhos só para continuar em sua mão.

Passaram momentos tão incríveis durante o almoço e ela... Ela considerava seu povo como monstros e isso queria dizer ele também.

A porta do elvador se abriu e Wind surgiu.

- Demorei?

- Hum.

- Vengeance não queria se acalmar. Tiger mandou Trust  para ficar com ele.

- Aquele macho é muito instável.

- Você não seria também se seu filho estivesse em risco?

Jericho balançou a cabeça.

- Eu mataria se meu filho corresse perigo.

- Eu também.

Jericho respirou fundo.

- Você pode me cobrir?

- Claro.

- Francisca está com Rodney.

- Ela não reagiu bem à Vengeance. Pobres humanos covardes.

Jericho acenou com a mão, foi até o quarto, pegou um short e desceu.. Saiu do Hotel direto para o ginásio de treinamento. Precisava gastar energia!

Chegou no ginásio e viu que estava fechado para humanos. Era o que queria. Entrou no ginásio e viu várias duplas lutando na quadra, a maioria gargalhando, porque lutar era uma recreação para eles. Viu alguns machos sentados, esperando a sua vez. Calculou que haveria alguns para lutar com ele.

Trocou de roupa e voltou para a quadra. Dirigiu-se aos espécies sentados. Todos o cumprimentaram.  Torrente fez sinal para ele.

- Ei, Jericho, não sabia que estava aqui.

- Cheguei ontem. Estou de escolta com humanos.

- Detesto isso.

- Foi um pedido de Flame; ele estava em outra missão.

- Nunca vi um macho gostar tanto de humanos. Vai lutar?

- Preciso.

- É estressante mesmo ficar com humanos.

- Você não imagina o quanto. Luta comigo?

- Claro, parceiro.

Jericho olhou para Reliance.

– Quer lutar também?

Reliance sorriu.

- Desde quando primatas gostam de lutar?

- Desde hoje.

- Então, vamos.

Os machos sentados assobiaram e brincaram, pois sabiam que Jericho evitava lutar, se pudesse.

Os três machos se reuniram num canto da quadra. Reliance deu pulinhos, balançando as mãos.

- Me mostre o que sabe fazer.

Torrent deu um assobio.

- Nunca provoque um macho, rapaz.

Reliance deu uma risada e fez sinal com a mão,  chamando-o para a luta. Jericho sentiu-se autorizado. Queria extravasar a raiva que sentia. Avançou para Reliance, segurou seus braços e o puxou com força; Reliance o olhou surpreso, enquanto Jericho o girava e o lançava longe. O macho caiu de costas e girou várias vezes antes de parar contra a parede.

Torrent abriu a boca e atacou. Jericho deu-he um chute na perna e Torrent tombou para a frente.

Recuperado, Reliance se ergueu e, com um urro, se jogou contra Jericho, que agarrou sua cabeça e ergueu o joelho acertando-o no abdômem.

- Ei! – gritou Torrent, quando viu Reliance novamente no chão. – Está estressado mesmo!

Torrent agarrou Jericho por trás e tentou erguê-lo. Jericho inclinou o corpo para a frente, agarrou o macho e o lançou por cima da cabeça.

Reliance ainda estava encolhido no chão e Torrent gargalhou.

- Que surra!

Dois machos que estava sentados se aproximaram.

- Podemos entrar, Jericho?

- Agora!

Jericho não gostava de lutar. Sabia, mas não gostava. Quando era forçado a lutar em Mercille algumas vezes feria seus companheiros e depois de ser libertado evitava lutas. Aquele dia, porém pedia que colocasse sua agressividade para fora. Um macho correu para ele e Jericho, retumbando como nunca fizera antes, agarrou-se a ele. Trocaram golpes potentes, Jericho foi acertado várias vezes, mas não recuou. Cinco minutos depois, pisava sobre o macho, que gemia no chão. O outro macho simplesmente ergueu as mãos e desistiu.

Reliance e Torrent ainda tentaram mais uma rodada, mas não eram páreo para Jericho naquele dia.

- Eu desisto. – gemeu Reliance, segurando o queixo vermelho.

- Eu também! – gritou Torrent, descansando as mãos nos quadris.

Vários machos aplaudiram Jericho, mas nenhum se ofereceu para lutar com ele.

Jericho estava cansado, sentindo dor em várias partes do corpo, seu rosto queimando de um soco, entretanto finalmente sentia-se apaziguado.

Despediu-se dos companheiros e foi tomar um banho.

Debaixo d'água se perguntou que sentimento era aquele que se instalara no lugar da raiva. Era amargo, pesado e nunca o sentira antes, nem em Mercille.

A imagem de Francisca cheia de desejo o fez gemer. Sim, era uma dor diferente, uma dor que viera com ela.

E não parecia que passaria...