Capítulo 55

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Quando era criança, Jericho chorava a cada vez que seu corpo era usado para testes. Sofria com as muitas coletas de sangue e cortes em sua pele; era adoecido constantemente. Ouvia os técnicos dizerem que sofria para provar a eficácia dos medicamentos produzidos por Mercille. A primeira vez que quebraram seus ossos, desmaiara de dor. Apenas um técnico mostrara compaixão e depois disso não o vira mais. Em todos aqueles anos de tortura Jericho costumava pensar que um dia seria poupado de tanto sofrimento.

No dia que fora libertado, os agentes que abriram sua cela recuaram diante dele. Falaram com cuidado, mas com as armas em prontidão. No motel em que ficara mandaram apenas mulheres grávidas para lidar com ele. Sua aparência assustava a todos. Logo percebera que até entre seu povo causava temor. Doía-lhe pensar que sua aparência significava mais do que quem ele era.

Smiley com sua natureza gentil reconhecera um igual. O amigo sempre o tratara com muita consideração, entretanto agora que Smiley estava acasalado, via pouco o amigo. Jericho conseguia se relacionar bem com a maioria dos espécies, mas sentia falta de alguém mais próximo.

À noite, quando estava sozinho em sua cama, voltava a ser aquela criança sofrida em Mercille. Sentia-se sozinho, desejando companhia e carinho. Seu corpo sentia falta de um toque, uma presença.

Naqueles dias com Francisca achara que fora agraciado. Ela era muito mais do que havia desejado. Mas percebera que esperara demais. Francisca não o queria como ele a queria. E continuou a se sentir sozinho.

Agora estava no escuro, sentindo uma dor excruciante. Sentia lágrimas escorrendo por seu rosto e queria que alguém fizesse algo para diminuir seu sofrimento.

-... acordar para te dizer.

Ouviu uma voz e tentou reconhecê-la, porém sua mente estava confusa. Sentiu toques em sua pele, toques mornos e suaves.

- Eu nunca vou me perdoar se não conseguir te falar...

A voz estava mais forte e ele compreendeu as palavras. O lamento estava presente na voz e pensou se era alguém sofrendo como ele.

- Eu não entendi antes, mas agora eu sei... Eu te amo, Jericho..

Seus olhos abriram. Alguém o amava?

- Jericho?

Ele não conseguia enxergar direito, sua visão estava nublada.

- Ah, meu amor, você acordou!

Seus olhos fecharam, incomodados com a luminosidade.

- Jericho... Bebê...

Bebê?

- Abra os olhos para mim...

Francisca! Era Francisca ali? Fez um grande esforço e abriu os olhos. O rostinho redondo estava acima do seu.

- Meu amor!

Piscou os olhos para enxergar melhor. Francisca trazia um sorriso no rosto, mas lágrimas abundantes molhavam o seu rosto. Ela segurou seu rosto e o beijou.

- Ah, eu sabia que você iria acordar hoje, eu sabia!

Ela não parava de beijar seu rosto, sua boca, esfregava seu nariz no dele.

- Francisca... - ele gemeu.

- Sou eu, meu amor.

- O que... onde...

- Você está no Centro Médico. - ela soluçou.

- O... que... aconteceu?

Ela endireitou as costas.

JERICHO: Uma história Novas Espécies 2Onde histórias criam vida. Descubra agora