Aquele seria o primeiro Natal de Jericho com Francisca. Justice promovera a data nos últimos anos e os espécies a aproveitavam para trocar presentes, já que não sabiam a data de seus aniversários. Francisca decidira que aquele seria o aniversário dele dali para a frente, a véspera de Natal.
Jericho já fora em aniversários dos filhos dos amigos, mas saber que a festa seria para ele o enchia de uma emoção que nunca sentira. Apesar de seu nascimento ter sido movido pela ganância humana, para Francisca representava um presente.
Estavam acasalados e casados há cinco meses. Cinco meses em que se sentira o centro da vida de alguém, de sua mulher.
Estava pendurando uma faixa de parabéns quando ela entrou na sala trazendo o bolo coberto de frutas. Francisca estava linda. Seus cabelos estavam mais curtos, muito encaracolados; os óculos de hastes coloridas mostravam os olhos brilhantes e sorria. Ela toda parecia radiante.
- Ainda não pendurou a faixa?
- Estava distraído com os enfeites da árvore.
Ele adorava ficar brincando com os enfeites da árvore de Natal. Eram tão coloridos e brilhantes!
- Você parece uma criancinha.
- Estou muito feliz.
Francisca deixou o bolo sobre a mesa e foi até ele. Ficou na ponta dos pés para abraçá-lo.
- E eu estou feliz por você.
Ele abaixou a cabeça e a beijou. Jericho não se cansava daquilo. Amava sua companheira e a desejava como no início. Voltava todos os dias para casa, ansiando tomá-la nos braços. Nos primeiros dias ela ficara impressionada com o vigor dele e, brincando, pedia uma trégua de fazerem amor. Entre um orgasmo e outro, Jericho a aconchegava nos braços, satisfeito.
Era muito possessivo com sua mulher, como todo Nova Espécie, mas gostava de se sentir dela. Não tivera braços para consolá-lo na infância, sofrera discriminação de suas próprias fêmeas, mas agora era nos braços de Francisca que encontrava paz quando pesadelos sobre Mercille o atormentavam.
Gostava da sua rotina com ela e Francisca criara mais uma, jantar na casa dos outros espécies acasalados. Mesmo tão tímida ela gostava de se encontrar com as outras mulheres, mesmo que as que tinha mais intimidade morassem na Reserva, Vanny por ser tímida como ela . E Estela por compartilharem a latinidade. Tanto Jericho quanto Francisca usufruíam também do chamego dos filhos dos amigos, se preparando para quando tivessem os seus.
A família de Francisca recebera sua união com discordâncias entre eles. A mãe de Francisca dizia que temia que sua filha sofresse um atentado por ser casada com um Nova Espécie, entretanto Jericho ouvira uma conversa por telefone onde ela dissera a Francisca que se unira à uma aberração da Natureza. Ele ficara muito triste pela companheira e não deixara que ela soubesse que ele ouvira aquilo. Os irmãos de Francisca eram totalmente ao contrário. Mais novos que ela, se acostumaram a visitá-la em Homeland e jogavam bola com os espécies.
Ele e Francisca decidiram deixar o assunto filhos para mais tarde, pois ela queria muito o apoio da mãe.
Mas Jericho não deixava essas dificuldades diminuírem o brilho do amor que viviam. Francisca era tudo para ele.
- Vou te deixar mais feliz. Tenho um presente pra você.
- Outro? Eu gostei do cachecol.
- Você riu dele!
- Tem bonecos de neve!
- Dã! É porque é natalino.
- Eu juro que vou usar.
- Amanhã para ir à festa de Natal?
Jericho fez uma careta. Nunca usara um cachecol e seus amigos zombariam muito dele por usar uma peça de roupa tão feia.
- Usarei na festa, claro.
Ela riu, contente. Soltou-o e saiu correndo da sala.
- Vou pegar o presente!
Jericho suspirou de felicidade. Foi até a árvore e ficou vendo seu reflexo nas bolinhas coloridas. Francisca voltou para a sala com um pacote pequeno, sentou no sofá e deu batidinhas ao seu lado.
- Senta aqui.
Ele sentou-se ao lado dela, porém a puxou para o colo. Francisca riu e lhe deu um beijo estalado.
- Toma!
Ela entregou o pacote para ele; era retangular e ele achou que era um livro.
- É um livro?
- Não. Abra!
Ele sorriu e rasgou o papel de presente com cuidado. Puxou o objeto; era um porta-retrato de prata.
- Que bonito. Vou colocar outra foto do nosso casamento.
- Já veio com uma foto.
Ele observou o que parecia um buraco negro com duas manchas brilhantes sobre borrões em tom de cinza.
- É uma arte sua? - perguntou, achando bem feio.
- É nossa.
Ele olhou novamente. Para ele eram borrões mesmo.
- Eu não fiz isso.
- Ah, fez sim. - ela deu uma risada encantadora. - Leia atrás.
Ele virou o porta- retrato. No verso estava escrito a data de dois dias atrás e dezessete dias.
- Desculpe, amor, não entendi.
Francisca virou novamente o objeto. Apontou para o buraco negro.
- Está vendo essas manchinhas brilhantes?
- Estou.
Francisca tocou seu rosto.
- São seus filhos, meu amor.
Jericho demorou a entender o que ela dissera. Piscou rapidamente e olhou com atenção para a fotografia. Ele nunca vira nada igual. Era uma foto, sim, mas era... "São seus filhos". Encarou-a.
- C-como assim?
-Estou grávida!
Ele se ergueu rapidamente e ela deu um gritinho. Jericho a segurou, com cuidado.
- Está grávida?
- Estou, bebê!
- Mas eu não... não percebi... não vi!
Ela lançou a cabeça para trás, rindo.
- Trisha disse que primatas não têm o olfato apurado igual dos caninos e por isso eu conseguiria te fazer uma surpresa.
Ele engoliu em seco duas vezes.
- Gêmeos?
- Gêmeos!
- Gêmeos! - ele retumbou.
Jericho rodopiou com ela e só parou quando ela gritou.
- Estou tonta!
Ele deitou-a no sofá. Francisca observou abismada quando ele soltou um som altíssimo, o peito retumbando um grito rouco. Jericho bateu nos peitos, pulando, enquanto o som ecoava pela sala.
Batidas fortes na porta o fizeram parar. Ele saltou sobre o sofá e correu para a porta. Fury e Ellie o olharam espantados.
- Está tudo bem? - Fury perguntou, olhando para dentro da casa. - Íamos bater, mas aí...
Jericho puxou o espécie para um abraço apertado.
- Você. Não. Vai. Acreditar!
E lançou sobre o amigo a notícia que o fizera o Nova Espécie mais feliz e que seria um presente para o seu povo.A seguir, um último capítulo muito especial.
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JERICHO: Uma história Novas Espécies 2
FanficFanfic baseada nas obras Novas Espécies de Laurann Dohner