Over The Rainbow • Jemma

37

Jenna estava há quase dez minutos parada na soleira da porta analisando cada movimento de Nicole. A mulher preparava waffles com precisão e agilidade. Usava um avental branco por cima da camisa de botões preta que Jenna uma vez lhe presenteara e uma calça jeans comum. Seu cabelo estava preso em um coque perfeitamente alinhado enquanto os olhos não perdiam um movimento sequer de seu trabalho de mexer a massa.

— Deseja alguma coisa, Senhora? Estou te vendo aí. — A mulher disse sem sequer olhar para Jenna. Jenna até riria caso não estivesse tão magoada e nervosa. A mulher sempre tinha a habilidade de perceber a presença de Jenna.

— Você… Emma…

— Respire e foque no que quer me dizer, criança. — Nicole disse calmamente, conhecendo Jenna o suficiente para saber que ela costumava falar nada com nada quando se sentia insegura. A mais nova assentiu lentamente enquanto se aproximava.

— Emma me pediu para conversar com você. — Ela disse sem fitar a mulher nos olhos.

— Oh, ela já acordou?

— Não. Ela ainda está dormindo. Tomei um banho e vim fazer o que ela me pediu ontem. — Falou.

— Essa garota vale ouro. — Nicole disse sorrindo, ainda mexendo a massa.

— Sim. — O sorriso de Jenna se abriu verdadeiramente.

— Sabia que ela que me pediu para te contar a verdade? — Nicole disse lhe olhando pela primeira vez. — Essa garota gosta mesmo de você.

— Gosta? Por quê? O que ela disse? — Jenna perguntou animadamente, puxando uma cadeira e olhando atentamente para Nicole. Emma já lhe havia dito que era apaixonada por ela, mas saber que dizia isso para outras pessoas a deixava ainda mais segura disso. Nicole riu e balançou a cabeça.

— Oh, eu não lhe direi o que ela me disse. Isso seria errado. — Ela disse sorrindo. — Mas pelo que ela disse posso garantir que ela gosta de você.

— Ela é incrível. — Jenna disse com os olhos brilhando. — Hey… Espere! Você está me enrolando. Não vim falar de Emma. — Nicole riu e lhe fitou.

— Não estou te enrolando, criança.

— Então podemos… conversar? — Nicole assentiu. — Ótimo. Sente-se aqui comigo.

— Eu preciso…

— Depois! Quero conversar direito. — A mulher assentiu e parou o que fazia. Lavou suas mãos rapidamente e as enxugou, levando uma mão ao laço do avental e o soltando. O pendurou por ali e se aproximou, puxando uma cadeira e se sentando.

— Certo. O que quer saber? — Apesar de tentar parecer calma, Nicole estava quase tremendo.

— Como você teve certeza que meu pai era o…? Você sabe…

— Eu fugi por um mês com ele. Não me entreguei a ninguém nesse tempo. — Falou olhando para Jenna.

— Ele acreditou? — Nicole negou com a cabeça.

— Ele aceitou me dar comida e um teto até você nascer para fazer o exame. — Confessou. — No dia que você nasceu… — O sorriso de Nicole se abriu e seus olhos brilharam. — Chovia muito. Me lembro de ter medo do futuro, mas aí escutei seu chorinho, filha… — Ela tentou segurar na mão de Jenna, mas a mesma recuou. — E então eu soube que não importava mais nada desde que você estivesse comigo.

— Então por que nunca me disse? — Era mágoa em sua voz.

— Após o exame que comprovou ao seu pai que você era filha dele… — Ela limpou a garganta. — Ele disse que eu deveria ir embora. Ele sempre dizia isso durante a gravidez, mas eu nunca levei a sério.

— E o que você fez? — Jenna perguntou curiosa.

— Implorei. — Uma lágrima solitária rolou de seus olhos, até ela enxugar a mesma. — Me ajoelhei, me humilhei, mas ele continuava dizendo que eu não seria um bom exemplo de mãe. — Falou e logo respirou fundo. — Então me propus a trabalhar de graça para ele. Ele só aceitou depois que jurei nunca te revelar quem eu era.

O silêncio predominou o lugar. Jenna não sabia o que pensar e nem o que dizer, não podia acreditar no que seu pai havia feito.

— Você trabalhou de graça todos aqueles anos? — Perguntou chocada, vendo Nicole assentir.

— Comecei a receber apenas depois que ele faleceu. Não queria levantar suspeitas para a senhora. — Nicole disse abaixando a cabeça.

— Por quê nunca me contou? Depois que ele morreu você poderia…

— O que eu diria? — Nicole perguntou firme. — "Hey, sou sua mãe, a ex prostituta que seu pai fez questão de manchar a imagem durante toda a vida."

— O que você fazia não iria interferir em nosso relacionamento, mãe! — Jenna gritou, fazendo Nicole arregalar os olhos, para sorrir logo depois. Lágrimas de felicidade rolavam de seus olhos ao ouvir Jenna lhe chamar de mãe.

— Quero que saiba de algo. Eu jamais desejei fazer o que fazia no passado. — Esclareceu. — Meu tio me forçava e me espancava caso eu não fizesse. — De seus olhos não parava de descer lágrimas. — Tentei fugir várias vezes, mas ele era muito conhecido, sempre lhe diziam onde eu estava… Eu jamais quis… Acredite em mim, eu nunca quis…

— Eu acredito! — Jenna disse, estendendo a mão para segurar a de Nicole. — Posso te pedir algo? — Nicole assentiu. — Poderia… me abraçar? Igual quando fazia quando eu tinha quatro anos?

— Você lembra? — Nicole perguntou chocada.

— Jamais esqueceria. — Ao ouvir isso Nicole abraçou forte sua filha. Sentir o cheiro de seu neném já crescido era maravilhoso, mas a sensação de saber que Jenna finalmente sabia era libertadora. — Eu sempre te considerei uma mãe, de qualquer forma. — Jenna sussurrou, fazendo Nicole chorar ainda mais. — Desculpe fugir de você.

— Oh, criança. Filha, minha filha… — Disse. — Eu que lhe devo desculpas. Eu te amo tanto, meu neném!

— Também te amo… mãe! — Nicole havia sonhado por anos com o som dessas palavras sendo proferidas por Jenna para ela, mas a realidade era ainda mais cativante.

— E que tal se prepararmos uma bandeja especial de café da manhã para a sua esposa, hm? Acho que lhe devo uma vida de favores.

— Ótima ideia! — Jenna disse, dando um beijo no rosto de Nicole. — E, mãe…

— Sim?

— Obrigada por nunca ter saído do meu lado. — Nicole sorriu emocionada.

— Emma tinha a razão, afinal.

— Em quê? — Perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Você é mesmo madura e quero que saiba que me enche de orgulho, criança. — Jenna abriu um sorriso sincero ao ouvir aquilo.

— Senti sua falta esses dias.

— Eu também, filha. Eu também.