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Diante de tamanha surpresa com a revelação feita a mim por Shigaraki que, acredito eu, como um bom filho da puta, adorou me diminuir daquele jeito, eu me encontro sentado no balcão do barzinho da Liga, bebendo uma dose de whisky enquanto não penso em nada mais do que o quão idiota eu pude ser durante todos esses anos.Shinsou não veio falar comigo — e eu nem queria isso, na realidade —, e se dispensou para sei lá onde, sendo seguido por Toga. Me lembro de ter tido a informação de que ambos eram bem próximos em algum momento, mesmo que Shinsou demonstrasse asco à presença dela, mas acredito que depois de uma fodida guerra e malditos dez anos, eles tenham fortalecido ainda mais aquele laço.
Sendo bem mais sincero, eu acredito que Shinsou a enxerga como uma filha. Assim como enxerga a Eri. E mesmo que ele não tenha me dito nada disso, é fácil de perceber.
Sinto uma presença ao meu lado, e olhando de soslaio, percebo que Yamaguchi está se sentando ao meu lado no balcão. O ambiente inteiro está vazio, tirando eu, ele e o Kurogiri, que estava entretido — ou me observando sem que eu percebesse — com suas bebidas em prateleiras. Inicialmente eu não me importei; seus braços estavam bem a mostra pela regata verde musgo, seus cabelos longos estavam levemente desgrenhados e suas feições com um quê de algum sentimento caindo para a tristeza.
Ele ergueu a mão para Kurogiri, que o entendeu perfeitamente e lhe deu a garrafa de vinho cheia. Voltei minha atenção para a madeira do balcão, até que os dedos de Yamaguchi entram na minha visão, arrastando para mim um cigarro e um isqueiro. O encarei, segurando o copo em mãos, enquanto que ele não me olhava, mas sim, para o que havia me estendido.
— Sei que fuma, e imagino que esteja com vontade de um desses após aquela cena toda. — Justificou, deslizando seus dedos para longe dos objetos e se preocupando em abrir sua garrafa e tomar um bom gole.
Não sou idiota para tentar questioná-lo de onde saiu esse cigarro e esse isqueiro — provavelmente de Dabi —, apenas o colocando na boca e o acendendo, dando um trago profundo e soltando tudo como se fosse um alívio. E realmente era.
Olho para Yamaguchi mais uma vez, que parecia pensativo enquanto rodeava seu dedo indicador na boca da garrafa. Kurogiri encarava a nós dois como se já soubesse sobre o que o esverdeado queria conversar, mas nunca se intrometendo. É, ele não tem mesmo cara de se intrometer nessas coisas.
— Deve ter sido algo espantoso saber sobre Hatsume. — Começou devagar; longe, muito longe. Ele não me olhava. — Deve ter ficado chocado e com medo. Eu entendo, ficaria igual no seu lugar, bolsinha.
— Legal saber que você é empático. — Comento breve, sem nenhum pingo de humor, não querendo mais falar sobre isso. Mas Tadashi pareceu não ligar.
— Eu não sinto medo de muita coisa, bolsinha. De verdade. — Tomou mais um gole de seu vinho, parecendo a coisa mais triste do mundo. — Acho que passo a maior parte do meu tempo bêbado ao ponto de não sentir mais medo de nada. Fico tonto e rindo igual um idiota, sabe? Acho que você também me entende.
Foi quando ele largou completamente a garrafa no balcão, se virando na minha direção com certa urgência, agarrando minhas mãos com força e as erguendo. Assustado, olho para seu rosto, ficando ainda mais incomodado com seus olhos que brilhavam em desespero, ameaçando desmanchar-se em lágrimas.
— Yama…
— Eu não sou de sentir medo, Kaminari, mas dessa vez… dessa vez eu estou morrendo de medo. — Ele friza o fato de estar se cagando por inteiro, e eu acabo me remexendo, ansioso. — Morrendo de medo de descobrir o que quero e perceber que eu viveria melhor sem saber da verdade.
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Purplish Vampire II
Fanfic" Overhaul foi completamente derrotado pela Liga, porém, não foi morto, trazendo novamente a paz no mundo dos humanos e das mitologias. Depois do desaparecimento de Shinsou Hitoshi, Kaminari pensou, mesmo que fosse algo triste, que poderia finalm...