17. | O Homem da Bolha

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Narrado por Shinsou Hitoshi

Sinto minha boca secar no exato momento em que ouvi aquelas palavras. Meus olhos cresceram e era como se todo o meu fôlego tivesse me abandonado, deixando-me à mercê dessa explosão que incendeia meu interior.

Eu quero, oh, como quero, que ele me diga que está bêbado. Chega a ser desesperador; uma necessidade, algo para eu me agarrar e me arrastar para o alívio. Manter-me consciente, na razão, no controle, por mais que, quando trato de Kaminari, tudo isso seja muito mais complicado do que o normal para qualquer outro ser vivo. E apesar de notoriamente alto, eu ainda insisto pela comprovação disso tudo, mas quando a ligação se encerra com aquela última frase, aquela que me deixa na dolorosa dúvida de que ele apenas desligou ou rendeu-se aos seus piores desejos, eu me sinto terrível.

Afasto o aparelho de meu ouvido, encarando-o completamente horrorizado e alarmado, tentando conectar os pontos e tirar minha conclusão. Mal percebo que, parado no meio do corredor que me levaria ao meu aposento, uma sombra surge logo ao meu lado.

— Aconteceu alguma coisa, morcego? — A bufada de ar me desperta, levando-me a fechar minhas feições e guardar meu aparelho. 

A presença de Dabi sempre me incomodou, e isso nunca foi um segredo. Ambos de nós dois temos desavenças que somente se potencializaram com a minha saída da Liga. Mas, vivendo ao seu lado por dez anos ininterruptos me fez, e acredito que a ele também, deixar essas diferenças de lado em certos momentos.

— Kaminari me telefonou, implorando para que eu aparecesse em seu apartamento e o ajudasse. — Expliquei da melhor forma que pude, devido ao torpor que ainda me cerca. — Não sei, mas acho que ele está bêbado e com drogas por perto. Disse sobre não morrer, sobre problemas… eu me assustei. 

Os seus olhos de lagarto percorreram os meus, depois analisaram todo o corredor. Até que soltou outro bufo, um como se estivesse se conformando com algo que não queria, antes de bater a mão em meu ombro de uma forma no qual machucar era a intenção.

— Vou te levar até lá. Mas não se confunda: tudo o que eu fizer não é por você, mas sim pela bolsinha. — Fito-lhe sério, me segurando para não bater em sua mão e deixá-lo longe de mim. — Não sei porquê, mas sei lá, faz tempo que eu desenvolvi uma puta consideração por aquele loiro maluco.  

— Agradeço, mas não preciso que vá comigo. — Me afasto completamente, dando a volta para que eu pudesse me direcionar para a saída do prédio mais uma vez. 

Mas ele me alcança rapidamente, tão sorrateiramente quanto uma cobra, esgueirando-se em meus ombros e me deixando firme em seu aperto, aproximando-se de meu ouvido com aquele sorriso que tanto sinto nojo, arrastando seus lábios mortos em minha cartilagem. Sinto o impulso de afastá-lo, mas minha linha de pensamento é rapidamente extinta quando ouço suas palavras. 

— Eu saquei no primeiro momento que você ama o Kaminari mais do que deveria. Eu te acompanhei por anos, cara. Você não me engana. — Venenoso. Ele é extremamente venenoso em suas palavras, deixando-me paralisado, como se seu veneno estivesse correndo em mim e me deixando neste estado. 

Tão rápido quanto ele me agarrou ele me largou, andando despojadamente pelos corredores, sacando a chave de seu carro do bolso e as girando no dedo indicador como se fosse algum tipo de charlatão de livros e filmes. 

O cheiro de abutre me cerca completamente, deixando-me enojado com alguns pedaços de pele morta que prevaleceu em meus ombros. Realmente, uma cobra de fato troca de pele. 

— Sei como a bolsinha está. E se ela já é desestabilizada desse jeito, imagina como você irá ficar quando o ver em seja lá qual estado da embriaguez ele esteja agora. — Ele para mais uma vez no corredor, olhando-me por cima dos próprios ombros, mas não mais com aquele sorrisinho malicioso ou qualquer resquício de malandragem que ele acha que tem. Dessa vez, é algo equivalente a… uma certa preocupação. — Você sozinho com ele lá é um perigo, Shinsou.

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