19. | Voto de Confiança

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Δ

A décima caneca de café, apesar de fervendo, descia dançante por minha garganta, queimando meu paladar, mas isso não importava para mim. Não agora.

Após a mensagem que mandei para Shinsou — e um medo profundo pois ele mesmo apenas visualizou e não respondeu nada —, eu não me deixei ficar despreparado. Deixei todas as minhas melhores armas fáceis para a utilização, aguardando por qualquer mínimo sinal de ataque a madrugada inteira. E depois daquela ameaça recheada de terror que recebi, eu mesmo me forcei a apertar um botão que eu jamais pensei ter que acionar, mas que acabei o fazendo tarde demais, mesmo que ainda exista uma esperança camuflada em meu âmago. As coisas estão diferentes agora.

Quando os primeiros raios solares começam a surgir, eu ainda me mantenho na ativa, como um tubarão que espera pacientemente que sua vítima se prejudique em sua própria tentativa falha de viver. Não liguei para Eri, até mesmo por segurança, e eu espero que o Shinsou faça isso por mim, tomando certas providências a respeito da segurança dela — que vai ter que ser aprimorada, notoriamente. Tendou é uma carnificina ambulante e quase imparável, que respeita apenas a Mei. Se ela mandar, ou se calhar a ele perseguir a Eri, o desafio que vai ser para matá-lo será muito grande. Por isso eu preciso mudar de perfil; manter a calma, pensar como gente, e recuperar o controle. Não por mim, nem pelo Shinsou e a Liga, mas por aqueles que amo.

E pela Eri.

Tomo um leve susto quando escuto o meu interfone tocar, me deixando extremamente confuso. Ainda falta meia hora para as sete da manhã, quem poderia estar aqui? Sinto meu coração acelerar um pouco com o pensamento, mas mesmo assim eu o atendo rapidamente.

— Diga. — Tento não soar tão nervoso assim, controlando o tom da minha voz o máximo possível.

Bom dia, senhor Kaminari. — A voz de Ukai soa pelo interfone. De cara dá pra saber que está sonolento. — O senhor Iwazumi está aqui. Manda subir?

— ... mande. — O respondo curto e grosso, desligando o interfone em seguida e me afastando, andando de um lado para o outro pela sala.

O que Iwazumi está fazendo aqui uma hora dessas? Será que a Hatsume mandou esse cara pra me matar? Ou sei lá, pra me ameaçar de algo? Ele ainda pensa que eu sou o culpado pela morte do namorado dele? Meu Deus?

— Labaxuria, senhor Cristo... — Sussurro em língua estranha, ansioso. Avisto minha pistola carregada no sofá, e já fico esperto nela.

Enquanto ele não chega, pego um cigarro e o acendo em minha boca, tragando uma única vez, profundamente, prendendo um pouco a fumaça antes de soltá-la. Acreditem ou não, mas isso me relaxa bastante. E também, eu preciso me manter calmo, mesmo sendo algo difícil. Eu lidar com as situações que afetam apenas a mim com a emoção e a inconsequência é uma coisa; agora, lidar com situações desse nível e que afetarão diretamente pessoas importantes a mim igual um viciado bêbado está fora de cogitação. Não agora. 

Ouço minha campainha tocar, e eu atendo a porta rapidamente, dando de cara com Hajime, que parecia bem mais cansado, mas ainda assim, mantinha a sua postura de machão.

— O que você... — Me interrompi ao abaixar um pouco meu olhar e reparar que ele segurava contra seu peito um bloco de notas, que tinha alguma coisa escrita. 

Estreito minha visão para entender aquela letra magnífica, lendo rapidamente enquanto Hajime permanecia parado.

" Hatsume está ouvindo tudo. Aja naturalmente. "

Arregalo os olhos, sentindo meu coração parar por um instante. Encaro Hajime novamente, procurando por uma confirmação, mas tudo o que ele faz é virar a página do bloco de notas e jogá-lo em minhas mãos, entrando em meu apartamento sem eu nem ao menos autorizar alguma coisa.

Purplish Vampire IIOnde histórias criam vida. Descubra agora