Livro 2 - Doce Redenção

Capítulo 39

MALUMA

Não gostava da sensação de calor sobre a minha pele. Calor sempre dá aquela falsa sensação  de conforto, amparo, segurança. E é  por isso que você corre para o colo da sua mãe quando as coisas dão errado. Porque você quer encontrar a paz no meio de todo o caos, mas você já se questionou se isso é  o melhor pra você?

É  somente quando você sente o frio, que o seu corpo e a sua mente se prepara para lutar. É  quando o seu cérebro começa a liberar a adrenalina que você precisa para superar um desafio. Ou deveria ser assim – imagino – já que por vezes - penso com sinceridade – instinto  é  a única coisa que você terá  antes das coisas ficarem ruins. Tem coisas  na vida que será apenas você por si mesmo. E será  que você está pronto?

Quando entro no terno Armani  feito sob medida por um dos melhores alfaiates desse continente, eu sei que o que estou fazendo aqui hoje não teria volta. Posso  sentir o peso do fardo  em meus ombros e não posso deixar de me sentir triste. Triste porque esse é  o único caminho que me sobrou e o único ao qual estive fugindo desde o início. Mas se tem algo que minha tia me ensinou é  que devemos ser responsáveis  por aquilo que nos cabe. Minhas decisões fizeram deste país  uma bagunça e da minha familia um lugar de tristeza e dor.

Não mais.

Às vezes na vida você será sua própria fraqueza, o seu próprio  limite. Quando todos os caminhos te levam para o mesmo destino, fugir deixa de ser lógico – suspiro ao ajustar meu Rolex no punho. Gravata no lugar, barba feita. Um crucifixo pendurado em meu pescoço e as cores pesadas de preto e vermelho, eram tudo o que eu séria.

O juiz, o júri e o carrasco.

Colômbia era como qualquer outro país  - eu gostava de pensar assim. A diferença  é  que as coisas aqui são um pouco diferentes de alguns países, você pode ser o presidente do maldito lugar. Mas quem comanda isso aqui era ele, melhor dizendo, tinha sido ele, Sr. Arias, meu pai.

Sempre abominei suas ações com exceção de hoje. Meu egoísmo não havia entendido. Para que as pessoas que eu amo estivessem seguras e em paz não caberia o meu afastamento e sim a minha proteção.

_Você está pronto? – perguntou Brean parado no batente da porta. Assim como eu, ele vestia um terno preto com sapatos de couro brilhantes. – Sinto-me como se fossemos para um enterro.

_Isso vai depender das respostas que obtivermos – confirmo ainda olhando-me no espelho.

Sem questionamentos, saio do quarto e vou em direção a sala onde vejo que Tia Yudy já vestiu Isabela. Minha filha está em um vestido de babados brancos com minúsculas flores rosas bordado em sua saia. Seu cabelo está preso em um coque, amarrado em um enorme laço.

Ela estava linda.

_Um pouco exagerado – brinco – Mas você sempre quis uma menina. Onde está Romeo?

Tia Yudy fecha a cara e cruza os braços.

_ Tomando banho, vou levá-los para casa.

_Essa é  a nova casa de vocês agora, vou resolver isso o mais rápido que eu puder então vocês podem voltar a sua vida normal – prometo a ela.

Tia Yudy caminha aflita pela sala, sei que ela não estava gostando  daquilo, mas era o melhor que eu tinha para oferecer.

_Você fala igualzinho ao seu pai – xingou ela. TIA Yudi  me arremessa um pano de prato ao qual eu nem faço questão de desviar – Esse lugar é  um caos Maluma, eles precisam  de ensinamentos familiares, respeito. Olhe para esse lugar, latas, cigarros e preservativos!