Tarik Pacagnan
Mike foi super simpático - mesmo com seu jeito sério - e me apresentou algumas áreas bem importantes do hospital. Além de tudo, consigo ver o quanto ele se importa com seus pacientes e que a sua feição séria não quer dizer nada negativo. Com o tempo irei me acostumar com seu jeito. Neste momento, estou no berçário de recém nascidos, onde ele havia me deixado. Parece que o Mike tem muitos pacientes, o que indica que eu fui sortudo por ele ter me colocado como mais um entre os outros. Porém, somente por ter um quarto tão confortável como aquele, já é mais do que o suficiente para mim. O prédio é imenso e provavelmente poderei fazer muitas caminhadas por aqui na intenção de conhecer o local por completo. Não sei bem se poderei sair do prédio, pelo menos, por enquanto, mas irei perguntar ao Mike sobre isso depois. Na verdade, tenho muitas dúvidas além dessa. Basicamente é como se eu estivesse renascendo. Jamais imaginaria que iria sentir que um hospital seria minha casa. Mesmo com tudo o que terei que passar no tratamento, sei que será tudo bem sereno. Sei que aqui não precisarei ter medo de muitas coisas. Irônico pensar que sempre odiei hospitais e agora este se tornou um conforto para mim. Sair daquela casa e poder vivenciar até mesmo, minutos de paz, já é perfeito.
Após passar mais algum tempo por ali, decido ir. Menti para Mike sobre saber voltar sozinho, pois não queria incomoda-lo, porém tem muitos médicos por aqui, então posso tentar tirar dúvidas com eles. Andando mais pelo prédio, consigo ver diversos corredores com muitas portas. Realmente, é muito fácil se perder aqui caso você não seja acostumado com o local. Eles dividem os corredores de acordo com doenças. Por exemplo, estou em um corredor que contém apenas pessoas com doenças mentais. Acho que assim eles conseguem tornar tudo um pouco mais organizado, levando em consideração que o hospital é muito grande e qualquer desorganização é um risco. Cada médico possui uma lista de pacientes, mas percebi que toda a equipe se ajuda e acaba tomando responsabilidade de pacientes que não são deles. Mesmo sendo um local agitado e com diversos médicos se locomovendo rápido de um lado para o outro, sinto uma calmaria que jamais fui capaz de sentir onde morava. Vagando mais um pouco por aqueles corredores, vi que estava perdido. Olho para o lado e vejo um médico parado, encostado na parede, anotando algo em sua prancheta. Não queria incomoda-lo, mas ele parecia ser o único que não estava tão ocupado quanto os outros.
Vou até ele lentamente e sinto minhas pernas tremerem por timidez. — É... Meio que me perdi do meu quarto. — Digo um pouco sem graça e ele me olha, rindo um pouco.
— Qual o seu nome, garotinho? — Ele pergunta, sorrindo para mim. O mesmo parecia ser simpático, o que me deixou aliviado. — Não precisa ficar nervoso, isso é mais comum do que você imagina.
— Tarik! Sou o novo paciente do Mike. — Assim que falo, ele da uma olhada em seu celular, provavelmente verificando alguma coisa que a equipe tem para se comunicar sem ser na sala de reuniões e parece saber quem sou segundos depois, pois o mesmo me olha um pouco animado.
— Sei onde é seu quarto. Me acompanha que te levo até lá. — Ele começa a andar e eu sigo bem ao seu lado. Acabou ficando um silêncio em seguida, mas não era desconfortável e o caminho não era tão longo. Assim que chegamos ele aponta para a porta. — É bem ali! Pode me chamar de Batista e sempre que precisar, não hesite em procurar! — Sinto confiança em suas palavras. Pelo visto, não é apenas Mike que é um bom médico por aqui.
— Obrigado por ter me ajudado e desculpa se eu acabei te incomodando de alguma forma! — Ele sorri e passa a mão em meus fios de cabelo, bagunçando-os um pouco e sai andando em seguida.
A minha porta é comum igual as outras, provavelmente isso me faria confundir facilmente, por isso, decido decora-la. Dentro do meu quarto havia alguns matérias de papelaria, então decido começar a decorar para não ter nenhum tipo de dificuldade depois. Fora que por estar em um hospital, se não arranjar algo para fazer aqui dentro, terei um dia tedioso. Não sei quantas vezes Mike virá me ver por dia, mas tudo que sei é que ele vai me dar espaço nesses primeiros dias para conhecer o local e me adaptar. Aliás, ele deve ter seus horários alternados e não um fixo, o que me faz ficar mais pensativo sobre quando ele realmente virá. Pego todos os materiais que acho necessários e levo para fora do meu quarto e em seguida, me sento ali no chão, de frente a minha porta, começando a fazer algo diferente. Olhando para o redor, algumas portas tem coisas diferentes, mas havia uma em frente ao meu quarto que chamava muito a atenção, pois é toda pintada. Queria que a minha ficasse assim também, mas provavelmente não irei conseguir terminar tudo o que planejo hoje. Pelo menos irei ficar bem entretido com isso durante alguns dias.
— Você também vai decorar sua porta igual a minha? — Ouço uma voz atrás de mim e olhando em direção a ela, vejo um menino, que era nítido ser um paciente. — Com todo esse material, você consegue fazer algo bacana.
— Qual é a sua porta? — Ele aponta para a que estava falando a minutos atrás, que era de frente para a mim. — Ah... Eu estava observando ela agora mesmo, porque achei muito linda. — Vejo ele se sentando ao meu lado. O mesmo era bem diferente de mim em questão de personalidade e estilo, mas isso não tirava o fato dele parecer ser legal.
— Posso te ajudar? — Assenti instantaneamente e ele pega um pincel em seguida. — Bom... Todos me chamam de Felps. Sou paciente do Rafael. — O mesmo diz, bem concrentado no que estava fazendo, pintando com toda calma possível. Ele era estranho. Na verdade, todos os que estão nesse corredor, incluindo eu, são dessa forma, pois todos temos condições mentais ruins. Além de tudo, colocar todos nós em um mesmo corredor é muito mais fácil por conta da convivência. No final, só nós conseguimos nos entender realmente. — E sem enrolação por aqui, até porque, sabemos que não estamos aqui atoa. O que você tem? — Pelo visto, ele também é bem sério, igual ao Mikhael.
— Pode me chamar de Pac. Sou o novo paciente do Mike. — Digo enquanto também tentava me concentrar igual a ele, mas para mim, era impossível focar em duas coisas ao mesmo tempo. — Bom... Tenho transtorno alimentar. E você?
— Hm. Sou esquizofrênico. — Ele diz sem manter contato visual comigo em nenhum momento. — Se não quiser ser meu amigo, eu vou entender. — Provavelmente muitas pessoas se afastaram dele por conta de sua doença, mas sendo sincero, não acho que isso seja um motivo plausível para se afastar de uma pessoa. Por mais que ele possa ter seus problemas, o mesmo é como uma pessoa qualquer, assim como eu.
— Quero ser seu amigo sim! Estamos aqui para se tratar e melhorar! — Digo animado e ele olha para mim, ainda estando sério, mas sentia que o mesmo estava feliz por eu ter aceitado ser seu amigo, só não deve saber direito como demonstrar isso.
É bom ter uma companhia por aqui. Mesmo ele tendo esse jeito bem sério, sua companhia é agradável.
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Falsas pistas (Mitw).
Mystery / ThrillerÀs vezes, não é necessário procurar pelo culpado. Ele pode estar nesse exato momento, ao seu lado.