Sem solução.

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Tarik Pacagnan

J

á se passaram alguns dias desde a visita que Batista fizera para mim. Muitos duvidam que eu seja o real criminoso por trás de tudo isso - o que não é muito difícil - e ele está apreensivo com tudo, já que não estava em seus planos a alternativa de eu não ser criminalizado. Com a ideia de que ele ainda é considerado um dos suspeitos - assim como todos os médicos -, ele ordena que eu faça ainda mais coisas. Tais que não são da minha índole. Apenas o obedeço, porque não quero prejudicar Mikhael de maneira alguma, todavia isso está sendo dilacerante. Difícil dizer que vou conseguir sobreviver à isso por muito tempo. Sua fúria é visível. Quer a todo custo tomar o lugar de Mikhael, mas está percebendo que precisa fazer muito mais do que achava que faria. Aliás, ele nem sequer tem um bom plano e fica escorado nos outros - aqueles que o apoiam - esperando por uma boa solução. Essa, que por sinal, nunca acaba chegando. O que mais me preocupa em toda essa situação, é que existe uma forma fácil dele conseguir isso - que é a mais cruel. Basicamente, ele apenas precisaria tirar Mikhael de vista, de forma que seu cargo fosse passado para ele ou a Rafael. Fora isso, acho difícil qualquer esforço dele, leva-lo para algum lugar. Pelo visto, isso tudo não irá dar em nada, é um caminho sem fim, mas sua ganância está o cegando.

Com certeza, sou um dos pacientes mais fracos desse hospital, não trago realmente algo positivo para ajuda-lo nisso, mas ele continua insistindo em mim. Poderia ser inveja por eu ser tão próximo de Mikhael? Bom, é algo que eu nunca irei ter uma resposta, ainda mais vindo dele. Nesse exato momento, estou na sala de interrogatório. Essa que venho quase todos os dias. Minha vontade é de falar toda a verdade, mas eu tenho medo. Existe um receio imenso em mim. O que aconteceria comigo? E com Mikhael? Existem muitas coisas em jogo para simplesmente arriscar seguir o caminho contrário de Batista. Ele não vai me deixar em paz nem tão cedo, então, para pelo menos tudo não ser tão doloroso, preciso seguir os seus passos. Não sei se essa é a melhor decisão, mas estou decidido que isso é o melhor para todos. Confesso ter medo dele. Não sei do que o mesmo é capaz de fazer apenas para ter o que tanto deseja, por isso, prefiro sofrer para que outras pessoas não tenham que passar pelo o mesmo. De qualquer forma, não sei se irei sair vivo dessa. Sei muitas coisas que nem deveria e Batista provavelmente sentirá medo de eu o desmascarar em algum momento, ainda mais se ele conseguir comandar boa parte desse hospital.

— Tarik, estou falando com você. — Sou acordado de meus pensamentos pelo policial batendo na mesa, bem de frente a mim. — Precisamos que você coopere, assim, vamos conseguir te ajudar. — Ele quase implora por informações, para eu lhe contar algo que pudesse ajudar na investigação, que no momento, está parada. — Você esteve com Batista nessas últimas semanas? — Não consigo evitar me assustar com sua pergunta. Como sabem disso? Pelas câmeras? Ou alguém havia o visto entrando em meu quarto naquele dia?

— Não, não estive. — Respondo mínimo, olhando para o lado, não querendo manter contato visual. "Merda!", penso, percebendo que deixava tudo ainda mais suspeito. Preciso passar credibilidade em minhas palavras, mas realmente sou péssimo em mentir. Ele suspira, saindo da sala por alguns segundos. O silêncio é tanto dentro dessa sala, que chega a ser ensurdecedor.

— Não minta. Nós temos provas. — Logo ele coloca um papel com uma foto imprimida em minha frente. É de Batista entrando em meu quarto. Pelo ângulo da foto, provavelmente foi Felipe quem tirou. Eu ainda sou capaz de esquecer o quanto ele é esperto. — Pode me falar o que ele foi fazer em seu quarto?

— Ele... E-ele apenas passou no meu quarto para saber se estava tudo bem comigo, pois mais cedo havia passado mal. — Me enrolo em minhas palavras e me xingo mentalmente mais uma vez. Estou ficando cada vez mais nervoso. É comum ter crises no meio desses interrogatórios, já que estou precisando esconder muita coisa, que está me custando caro, já que é muito pesado para carregar por tanto tempo assim. Só queria que esse pesadelo acabasse.

— Que estranho. Ele nem um médico responsável por você. — O policial diz irônico, já ficando impaciente por eu não dizer nada. E de fato, entendo o que ele está sentindo. — Acharam esse chaveiro no seu quarto e três pessoas alegaram ser de Batista. O que isso está fazendo no seu quarto? E essa chave leva para onde?

— Agora, a autoridade me mostra uma foto impressa, contendo o chaveiro que ele havia deixado para mim. Ali havia apenas uma chave, que leva para uma das salas desativadas do hospital, no andar que não está funcionando no momento. Lá consigo algumas coisas para cometer alguns pequenos crimes que ele me ordena.

— No dia que ele foi até meu quarto, acabou esquecendo por lá. Apenas esqueci de devolver. Bom... Acho que leva para a sala dele, eu nem cheguei a tocar nela. — Sinto lágrimas passando pelo meu rosto. Nessa altura, não havia o que fazer, eles sabem mais do que devem. É muito possível que irão interrogar Batista em breve e não posso fazer nada para tentar impedir. Não importa o que eu fale, eles tem as provas em suas mãos. O meu medo, é de apenas eu sofrer as consequências de tudo isso.

— Você sabe que vamos confiscar aquela chave e investigar até saber de onde ela pertence, não é? — O policial se senta à minha frente, tendo apenas a mesa nos separando. — Vamos fazer assim: Vou considerar o que me disse, mas se caso o Batista não ser coerente e dizer outras coisas, vou precisar te chamar aqui de novo. — Nunca o vi tão sério como naquele momento. O que eu mais temia era o dia que ele seria chamado para ser interrogado, e esse dia chegou. — Tem certeza que não quer contar a verdade? — Por mais uma vez, com um pouco de esperança, ele insiste.

— Não. Acho mais fácil você chamar Batista para esclarecer tudo isso logo. — Mesmo tendo medo, sei que isso irá acontecer. E acontecerá muito antes do que eu estou prevendo. —

Falsas pistas (Mitw).Onde histórias criam vida. Descubra agora