Confissão.

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Felipe Batista


Ainda não consigo aceitar que estou preso. Esse não é o meu lugar, não deveria estar nessa prisão imunda com pessoas nojentas. Sei que nessa altura, é muito complicado provar minha inocência, ainda mais quando tudo está indo contra mim. Tive deslizes que me comprometeram e jamais vou me perdoar por isso. Tudo estava indo de acordo com o plano, poderia conseguir sair dessa ileso, mesmo que sem o cargo de Mikhael, mas tudo foi em vão. Desde o início, tudo não valeu a pena. Não consegui nada mais, nada menos, do que ficar em um lugar desses. Sei que é tarde para me arrepender de meus atos, e não me arrependo, mas só agora, percebo o quão burro fui. Minha vida já estava ótima, mas meu ego foi maior. A vontade incessante de ter mais, de conseguir mais, de poder ser reconhecimento, foi cada vez mais intensa. Rafael acabou levando a melhor conseguindo o cargo que tanto queria, sem maiores dificuldades desde que fui preso. Felipe conseguiu melhorar e se estabilizar mesmo depois de diversos remédios que lhe dei sem a permissão devida, justamente para causar uma crise forte. E Tarik... Não tenho certeza de como ele está nesse momento, levando em consideração que existe uma medida protetiva que me impede de vê-lo. No fim, realmente tenho inveja de Mikhael, de todas as formas possíveis. Mas, afinal, do que adiantou me dedicar tanto?

"Confissão", capítulo trinta e dois.


Após uma semana nessa cela, sem maiores novidades, sou chamado para mais um interrogatório. Já pedi a conta de quantos precisei participar. Mas até hoje, não disse nada. Tenho medo de acabar revelando algo que eles ainda não sabem e piorar ainda mais a minha situação. De qualquer forma, não sei se existe alguma possibilidade da minha pena ser mais razoável. Logo um policial chega, colocando uma algema em meus pulsos. Todas essas situações passam em câmera lenta em minha mente. Preciso aceitar a realidade, mas o que tanto me impede? Eu apenas poderia revelar tudo e acabar com a agonia de pensar que no dia seguinte posso acordar com mais algo que eles descobriram. Fiz tantas coisas nesse tempo que chega a ser difícil lembrar de todas. Tudo isso por um cargo. Pensei que poderia ser gigante, aclamado. Gostaria de ser exatamente como Mikhael. Ele não estando mais aqui, faz tudo perder o sentido. Mata-lo fez a situação parecer mais fácil aos meus olhos, mas a verdade, é que os investigadores ficaram bem mais atentos a qualquer pista. Talvez hoje pudesse ser o dia em que vou confessar tudo, com cada detalhe que me lembro. Chegou em um momento, que também preciso de paz. Minha mente não para. Preciso me libertar, mesmo sabendo que tem a possibilidade de passar a vida toda dentro de um quarto com grades.

— Sem enrolação já que você me conhece o suficiente. — O investigador parecia impaciente, visto que já esteve comigo naquela situação diversas vezes. Afinal, tudo está girando ao meu redor. Apenas uma confissão já poderia ser suficiente. — Sobre a pegada que achamos em sua casa, não conseguimos encontrar nada, mas... Com certeza não é sua. — Tudo que envolve ter um ajudante, me fazem ter arrepios. Eu não tenho ajudante. Não entendo de onde tiraram isso. — Batista, nós podemos entrar em um acordo caso você faça sua confissão. — Estava perdido em meus pensamentos, tentando tomar a decisão certa naquele momento. Afinal, quanto eles devem estar gastando com toda essa investigação? Vale mesmo a pena ficar remoendo meus próprios crimes ao invés de apenas dizer? Muitas perguntas e poucas respostas.

— Tudo começou assim que Mikhael ganhou seu cargo. — Suspiro pesado, ainda sentindo minha voz trêmula e pensando nas palavras exatas para indicar aquilo. Logo recebo toda a atenção do investigador e daqueles que acompanham ao longe. — Eu achei injusto e comecei a desejar estar ali como nunca antes, mas, diferente do que vocês acham, essa oportunidade veio até mim. Como? — Olho para minhas próprias mãos, não tendo coragem de olhar para ninguém naquela sala. — Quando Tarik apareceu. Naquele momento, com a minha intuição sussurrando, tudo se movia gradualmente como imaginava. Eu consegui me aproximar dele de uma maneira tão amena e satisfatória. — Acabei rindo de forma amarga, me relembrando de cada detalhe, como um filme. — Eu errei. Ele se afastou. Por isso, foi como uma ameaça quase perfurando os meus olhos. Mostrei a todos, principalmente a Tarik, que os perigos vinham de palavras avulsas. — Percebi falando, o quanto tudo isso foi uma verdadeira idiotice da minha parte. — Infelizmente, no meio disso, desenvolvi sentimentos por ele. — Levanto minimamente a cabeça. — Foi quando percebi o quanto Mikhael estava presente. Quando os vi se beijando, gravei. Ações são mais ameaçadoras que palavras, obviamente. Assim como Cauê morreu por estar interessado demais nas minhas coisas. — Fiz uma pausa, estando exausto, mesmo tendo falado tão pouco até o momento.

— Ótimo, Batista! — O investigador parecia muito satisfeito, parecendo anotar freneticamente coisas em seu pequeno caderno. Enquanto, simultaneamente, outra pessoa digitava tudo o que eu dizia, da maneira mais rápida que já pude ver. — Você pode continuar quando se sentir confortável. — Sei que esse tratamento, é apenas por manipulação. Assim que terminar minha confissão, serei tratado como todos os outros. Mas, agora que iniciei, pretendo ir até o fim.

— Tarik cometeu crimes, fez coisas errôneas. Tudo isso para conseguir tirar a atenção de mim, não queria me tornar um suspeito. — Articulo as mãos, tentando encontrar as palavras corretas. — Mas, não escolhi a pessoa certa. Ele é fraco. — Difícil sentir algo nesse momento. Já serei condenado, de qualquer forma. — Quando notei que havia ficado sem saída e que não conseguiria derrubar Mikhael, nem mesmo, com suas maiores fraquezas, não teve jeito, precisei mata-lo. — Não me arrependo por ter cometido tal ato, mas perdeu o sentido lutar por algo que já não é dele. — Com Rafael fazendo de tudo para ter o cargo dele, precisei, novamente, pensar em algo. — Suspiro, pronto para confessar algo que ninguém sabia. — Manupulei os remédios de Felipe e o droguei. — Sinto o investigador se ajeitar em sua cadeira, ainda mais instigado com cada palavra que digo. — Do que adiantou, afinal? Ele não matou Rafael. — Finalmente, consigo olhar para alguém daquela sala, não esboçando o mínimo de reação. — Meu próximo passo era fazer Tarik me obedecer novamente e assim, conseguir fazer o que Felipe não foi capaz. — Sinto um ar de dúvida predominar o local, indicando que ainda tenho muito a dizer.

— Só algumas perguntas e eu já te libero. — Ele verifica seu celular durante alguns segundos, antes de dar continuidade ao interrogatório. — Você acabou de confessar que matou duas pessoas. Com suas reações, não aparece se arrepender. — Apenas assenti com a cabeça, sem maiores dificuldades. — Então, por que não matou Rafael? Digo, não é como se precisasse de alguém para fazer isso, levando em consideração que não parece ser um incômodo para você.

— Não queria ser um suspeito em outro assassinato. — Digo de maneira simples. — Se o culpado fosse o Felipe, não teriam como me envolver. — O investigador apenas concorda. Não havia mentiras, realmente irei ser sincero até o fim.

— E o seu ajudante, Bastista? — Ele ainda reforça essa ideia e eu suspiro, não entendo o motivo de tamanha existência. — Seja sincero, todas as provas indicam para isso.

— Eu não tenho nenhum ajudante! — Digo de maneira convicta. Não faria sentido querer mentir logo agora. Se realmente existisse alguém, não iria aceitar pagar pelos meus crimes sozinho. Logo o investigador parece entender que de qualquer forma, não iria dizer mais nada. Gostaria de entender em que momento eles assimilaram que existia mais uma pessoa envolvida nesses crimes.

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