Tarik Pacagnan
Já é quase fim de tarde e me encontro andando pelo hospital, juntando com Felipe, em uma caminhada comum, que fazemos quase todos os dias. Por mais que já conhecemos esse hospital inteiro, sempre notamos algo que não havíamos reparado antes. Costumamos ir na piscina também, para relaxar os músculos. São as mesmas coisas de sempre, que para alguns, pode até ser chato, mas para nós, é totalmente reconfortante. Até porque, sabemos que precisamos estar aqui e ter a oportunidade de ser paciente em um hospital tão caro, é de fato, uma grande conquista. O que me preocupou durante todo o dia, é que não consegui entrar em contato com Mikhael. Ele não atende minhas ligações e não responde minhas mensagens. E já que o mesmo não costuma fazer tal coisa, é realmente um pouco desesperador. Fora que ninguém o viu no hospital hoje. Sei que algum imprevisto pode ter acontecido com ele, mas de qualquer forma, eu sinto que avisaria a alguém. Ter a companhia de Felipe está sendo crucial para conseguir me manter calmo nesse momento. Por mais que ele tenha muitos problemas, consegue ser alguém bem equilibrado e serve como uma ótima ajuda em qualquer tipo de situação. Perdi completamente a conta de quantas vezes ele me acolheu quando precisei.
— Da uma relaxada, Pac-man. — Me tira de meus pensamentos, com seu jeito tão único de falar com as pessoas. — É bem possível que ele só quis tirar um tempo para si.
— E sem avisar pra ninguém? Ele não tem cara de quem faz isso. — Respondo sincero, enquanto voltávamos para os nossos quartos, de forma lenta por estarmos cansados, por termos ficado tempo demais na piscina.— Isso aí eu concordo. Ele sempre é bem responsável. — Parece pensar em algo para me consolar. Provavelmente, ele está ainda mais preocupado do que eu, mas não quer mostrar, justamente para me ajudar. — Vai ver ele só quis ficar na dele mesmo, né? A gente tem nossos dias desse jeito.
— É, pode ser. — Assim, chegamos em nossos quartos e nos despedimos como de costume, em antes de entrarmos nos cômodos. Todavia, estou completamente incomodado com toda essa situação, não sei se é o melhor apenas ficar parado esperar que ele apareça pelo hospital. — Preciso procurar o Mike! Com certeza, ele faria o mesmo por mim! — Digo determinado e apenas visto uma outra roupa, sendo alguma que estava jogada pelo chão e corro pelos corredores, procurando em locais que eu sei que ele costuma estar. Nesse momento, nada mais importa, apenas quero acha-lo. O meu pressentimento não é bom e preciso tirar isso de minha cabeça. Rafael e Felipe ficaram o dia inteiro tentando me deixar tranquilo, mas sei que eles estão apenas preocupados, apenas querem me ver bem. Sou eternamente grato pelo o que os dois fazem por mim, mas eu preciso encarar a realidade e fazer o que meu coração me indica. Continuo minha corrida, sentindo olhares sob mim, mas eu apenas tenho um objetivo e este não está envolvido com pessoas externas. Não consigo achar Mikhael em lugar algum, mesmo já tendo corrido pela metade do hospital. Estou cansado, mas não irei parar até conseguir encontra-lo. Eu tenho medo do que posso encontrar, mas isso é necessário. Sei que se qualquer coisa acontecer, ele vai recorrer a mim.
— Tarik! — Passo pelo Rafael, que chama pelo meu nome, tentando vir atrás de mim, mas sou mais rápido e logo não vejo mais sua presença nos corredores. Sei que estão preocupados, mas isso é por mim. Preciso disso quanto eu mesmo acho.
Sinto meu coração doer a cada passo que eu dou, é como se tudo estivesse em câmera lenta, mas não paro um segundo de correr. Sei que mal tenho forças em meu corpo para fazer tal coisa, mas pelo Mikhael, não há limites. Eu sinto que ele está aqui dentro, mas ninguém o viu, como isso é possível? De qualquer forma, apenas irei parar quando andar por todo esse hospital. Sei que nessa altura, estão me procurando para conseguir me parar e me manter calmo como estão fazendo desde o início do dia, mas por ele, sou capaz de perder a minha própria vida. Mesmo me esforçando e procurando em todos os lugares que poderia, não o encontrei. O único lugar que havia sobrado, é sua sala e eu estou quase de frente e ela. Nesse momento, começo a me sentir cada vez pior, como se meus pulmões me mandassem parar, mas usei as últimas forças que havia em mim, alcançando a porta e abrindo-a sem pensar duas vezes, tendo a pior cena que já vi em minha vida: Mikhael jogado no chão, coberto por sangue, mas ainda é possível ver seu pulmão subindo e descendo, mesmo de forma fraca. Ele ainda está respirando. Essa é a minha única chance de salva-lo, preciso ser extremamente rápido. Logo aperto o botão de emergência freneticamente, não sabendo se isso seria suficiente. Nesse momento, minha visão está turva por conta das lágrimas que caíam de meus olhos. Eu preciso conseguir ajuda-lo.
— P-pac...? — Ouço uma voz fraca, quase como um sussurro atrás de mim, sabendo muito bem quem é. — Você tá aqui... Eu queria tanto te ver. — Me viro, vendo-o sorrir. O que me faz chorar ainda mais.
— Mike, eu prometo que vou te ajudar! Você vai ficar bem! — Digo de forma desesperada. Vou até ele e me sento ao seu lado, colocando sua cabeça apoiada em meu colo. — A ajuda tá chegando, por favor, aguenta mais um pouco! — Olho para seu corpo, vendo que foi acertado algumas vezes no abdômen com algo afiado.
— Eu não sei se vou conseguir, mas ter você aqui me conforta. — Ele parecia cada vez mais fraco, até mesmo, para falar. Olho para a porta algumas vezes, ainda não vendo sinal de ninguém.
— Não fala, você tá muito fraco! — Coloco as mãos em seu rosto, fazendo um carinho, enquanto sinto sua mão, que está coberta por sangue, segurar meu pulso de forma fraca.
— Você promete colocar Batista na prisão? Promete isso pra mim, Pac. É a única coisa que te peço. — Eu sinto como se aquela fosse suas últimas palavras e começo a soluçar pelo choro tão sofrido.
— Eu prometo, Mike! Eu sou capaz de fazer tudo por você. — Seus olhos estão cada vez mais sem brilho. Não quero que isso seja uma despedida.
— Nunca amei ninguém o quanto eu amo você, Pac. Prometo te encontrar em uma outra vida. — Seguro sua mão como forma de conforto para nós dois. Sentindo um carinho ameno e fraco com o polegar, vindo dele.
— Eu te amo, Mike. Você vai ficar bem, vou cuidar de você! — Após essas palavras, ele sorri para mim e logo fecha seus olhos lentamente, e deixando de segurar minha mão, pois ela caiu no chão. — Mike?! Ei, por favor, Mike! Não faz isso comigo! — Mexo freneticamente em seu corpo, não tendo nenhuma resposta e começo a me desesperar. — Não... Isso não pode tá acontecendo! — E dali, eu realmente começo a me conformar do que havia acontecido.
Logo vejo os médicos chegando. Eles são muitos, mas agora, já é totalmente tarde. Assim, vejo Rafael vindo até nós. — Pac... E-eu sinto muito! — Mantive o corpo de Mikhael abraçado a mim, não me importando com o sangue, ou se ele já estava sem vida. Esse é o único conforto que posso receber nesse momento. — A gente vai ficar bem, vou cuidar de nós! — Vejo seus olhos marejados. Ele está tentando ser forte para me passar segurança, mas Mikhael era seu melhor amigo.
— Eu nunca fui amado da forma que Mikhael me amou. — Digo baixo, sendo audível apenas para ele. Estou totalmente sem forças. — Ele merece o melhor, Cellbit. — O mesmo acaba não aguentando e desaba em lágrimas, igual mim. Nos abraçamos como nunca, procurando refúgio em um momento tão destruidor.
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Falsas pistas (Mitw).
Mystery / ThrillerÀs vezes, não é necessário procurar pelo culpado. Ele pode estar nesse exato momento, ao seu lado.