Ligação.

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Tarik Pacagnan


Desde que ocorreu a visita, minha ansiedade vem tomando conta de meu corpo. Infelizmente, a cada dia que se passa, parecemos mais distantes de uma possível confissão de Batista. A única notícia que tivemos, foi que o mesmo vem estado cada vez mais solitário, preso em seus pensamentos. Isso ainda me traz um fio de esperança. Para passar o tempo, decidi me dedicar a algumas tarefas que o hospital oferece. Além de poder ajudar outros pacientes, minha mente se mantém ocupada. Pensar demais é um dos meus maiores pontos negativos. Aos poucos, minha saúde vem se estabilizando. Mesmo melhorando, no fundo, sei que não sairei daqui nem tão cedo, principalmente por minha família. Se eu ganhar alta, é garantia de que estarei na rua. Ou não. Rafael e Felipe vem se aproximando cada vez mais de mim e me inserindo na relação deles. Ainda é tudo muito recente, a minha mente acabou não assimilando isso tão bem, mas estou disposto a tentar o novo, sabendo que pode me ajudar a ficar bem. No fim, Mikhael sempre será meu primeiro e verdadeiro amor, mas saber que existem pessoas que estão dispostas a tentar por mim, me permite querer tentar também.

— Entreguem o almoço dos médicos, por favor! — Uma cozinheira pede para nós, após já levarmos de alguns pacientes. Pego o máximo de marmitas que consigo e saio em direção aos corredores do hospital, disposto a terminar isso o mais rápido possível e ter um tempo livre.

Cada paciente tem o seu bloco e por isso, nos separamos no meio do caminho. Já tenho conhecimento o suficiente para conhecer a maioria dos lugares desse complexo, por isso, não é uma tarefa difícil encontrar a sala dos respectivos médicos. Alguns, tenho uma certa afinidade e paro para ter uma breve conversa. Outros, apenas tento ser o mais educado e breve possível. Pensar que minha vida será assim pelos próximos meses e até anos, não me assusta. Passei por muitos altos e baixos na casa de minha família e não gostaria de retornar. Tenho uma vida boa aqui, além de todas as circunstâncias. De alguma forma, penso que meus familiares estão envolvidos nos crimes que ocorreram no hospital, por isso, me preocupo de Batista nunca revelar seu ajudante. A internação foi repentina e a probabilidade de já ser algo planejado antes mesmo de eu vir para cá, é alta. De qualquer forma, não me arrependo de ter parado aqui. Mesmo sem Mikhael, existem outras pessoas que estão sempre dispostas a me ajudarem. Após terminar de entregar as marmitas, vou em direção a sala de Rafael, que fiz questão de deixar como a última, para que assim, pudéssemos ter um tempo para conversar.

— Tô entrando. — Nem me dou o trabalho de bater em porta de sua sala, levando em consideração que ele já está me esperando. — Vim ficar com você!

— E quem te convidou, hein? — Ele arqueia as sobrancelhas, tentando não rir.

— E preciso de convite? Sou eu, Tarik Pacagnan! — Enfatizo o meu nome e acabo na risada. Amo ter a companhia dele, me deixa totalmente despreocupado sobre tudo. Assim como Felipe faz, me sento naquele sofá, todo largado.

— Cadê o seu oxigênio? — Pensei que ele não notaria a falta dele, principalmente por já estar melhor. Faço uma expressão insatisfeita e ele percebe, cruzando os braços. — Você sabe bem que ainda precisa dele!

— Eu sei, Rafa! Não da para você ser um pouco menos profissional nesses momentos? — A verdade é que passo tanto tempo focando em meus problemas, que às vezes, só desejo ter um momento de paz. Mas, no fundo, entendo Rafael e sei que sua preocupação acaba falando mais alto. — Fiquei sabendo que tem mais pacientes com doenças mentais no hospital. — Tento mudar o assunto.

— Hm... Sim. — Mesmo inconformado, decide não falar mais sobre a falta de meu oxigênio ou algo de meu tratamento. — Tem um com bulimia purgativa. Talvez consiga se aproximar de alguém que te entende! — Mesmo os transtornos não sendo iguais, lutamos contra o medo de comida todos os dias. 

— Pretendo tentar! — Digo de maneira animada, pensativo sobre isso. — Felps saiu bem cedo hoje. O que ele foi fazer? — Mal tive tendo de conversar com Felipe hoje, levando em consideração que o mesmo parecia apressado, além de atrasado. 

— A família dele ligou para mim. — Deu uma pausa, enquanto digita algo freneticamente em seu computador. — Queriam passar um dia com ele e permiti. — Fico feliz por saber que o mesmo tem uma família que o ama. Gostaria de ter o mesmo. — Provavelmente não te disse nada por medo de ficar triste, sabe? — Mesmo diante todas as circunstâncias, gostaria que ele compartilhasse algo tão simbólico comigo. Com certeza irei conversar com ele sobre isso.

— Ele podia ser mais aberto comigo. — Digo de maneira simples, olhando para o teto, bem pensativo com muitas questões. Quanto mais tento me desfazer dos problemas, eles retornam para mim.

— Isso demanda tempo. Muito tempo. — Sua sinceridade revela que não foi nada fácil desenvolver a relação que tem hoje em dia com Felipe. O que não é uma surpresa, já que o mesmo é alguém bem fechado. Paciência será crucial em todo esse processo. Após isso, resolvo ficar em silêncio, levando em consideração que Rafael está trabalhando e poderia incomoda-lo de alguma forma. Ter sua presença já é crucial para não me sentir tão sozinho. Com certeza, aumentar o meu ciclo de amizades pode me fazer bem. Não gostaria de me sentir tão sozinho, principalmente quando Felipe não está presente, pois isso pode se tornar uma dependência emocional e é tudo o que não preciso ter nesse momento. Foi com esses pensamentos que ouço o meu celular tocar e estranhando uma ligação nessas horas, decido me apressar para pega-lo. É o investigador. Sinto meu coração errar uma batida ao ver aquele nome na tela.

— Oi? Por favor, tenha notícias boas! — Suplico quando inicio a ligação. Rafael me olha apreensivo, provavelmente já sabendo quem é pelas minhas palavras.

Demorou alguns segundos para receber retorno, mas me mantenho ativo na linha, ansioso por qualquer palavra. — Ele confessou tudo, Tarik.

Falsas pistas (Mitw).Onde histórias criam vida. Descubra agora