Descobertas.

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Tarik Pacagnan


No momento exato em que ficamos sabendo sobre a confissão de Batista, é como se o mundo tivesse congelado. Demorou tanto que jamais imaginariamos que ainda aconteceria. Pelo o que nos contaram até o momento, ainda tem muitas coisas pendentes, mas que com apenas o que ele disse, é possível associa-lo a diversos crimes cometidos nesse curto período de tempo. Rafael provavelmente já sabe de cada coisa dita, mas ainda não tivemos oportunidade e tempo para nos encontrarmos. Por isso, nós dois, juntamente com o Felipe, decidimos marcar um encontro entre amigos no refeitório do hospital, afim de almoçarmos para discutimos acerca do que aconteceu mais cedo na delegacia. Provavelmente a ficha só vai cair quando a sua sentença for definida, sem possibilidades dele poder sair de lá. Fico aliviado por pensar que aos poucos, a justiça vem sendo feita, mesmo após tanto tempo. Ainda me sinto mal por pensar que se tivessem tomado certas atitudes antes, Mikhael ainda estaria comigo. Tento viver um dia de cada vez e respeitando o meu tempo, mas o luto nunca passa. A dor de perder alguém, principalmente aquela que você ama de maneira tão intensa, é tão forte quanto qualquer dor física. Quando acordo e vejo que não foi apenas um pesadelo, desabo em lágrimas. Mas, sei que esse é apenas um momento difícil e que com o passar do tempo, vai se tornar mais suportável.

Não tenho do que reclamar tendo amigos tão especiais e que me acolheram tão bem. Rafael é um pouco instável mentalmente, mas não deixa de ser um médico tão bom quanto qualquer outro existente aqui dentro. Felipe é um paciente com um transtorno grave e tem muita dificuldade para se expressar, mas sempre demonstra seu carinho e preocupação das formas mais inusitadas. Sei que não estamos no melhor clima, mas isso nunca abalou a nossa relação. A questão, é que desde que perdi Mikhael e aquele beijo entre mim e o Rafael aconteceu, minha mente vem estando conturbada. Sinto meus sentimentos bagunçados. Não tenho dúvidas do que sinto por Linnyker, mas agora que ele não está mais aqui, não existe mais um sentimento bom, a não ser um vazio que não acaba em meu peito. Não sei se o que venho sentindo é pura carência e saudade do que estava vivendo, mas é notável que tem algo de errado com meus sentimentos entre os meus dois e únicos amigos. Nunca me rotulei como monogâmico, mas ao mesmo tempo, é estranho pensar em não ser um. Sei que não tive nenhuma interação amorosa com Felipe, mas desde que ele se mudou para o meu quarto, a nossa relação mudou de alguma forma. Não sei dizer se ele se sente igual a mim, mas digo com certeza que há uma confusão entre nós. E enquanto alguém não tomar uma atitude e falar sobre isso, tende a permanecer e piorar. De qualquer forma, nossa prioridade não é essa, mas sim, conversar sobre Batista. Ultimamente, essa vem sendo a coisa mais importante que estamos fazendo. Não teremos paz enquanto ele não pagar por tudo o que fez.

— Não aguento mais pensar. — Digo para mim mesmo, enquanto como de maneira lenta, a batata frita que havia pedido, esperando pelos meninos. Não estão atrasados, apenas optei por chegar um pouco mais cedo e tentar respirar um pouco para não sentir mais minha cabeça explodindo. Não demorou muito para os dois chegarem, juntos e felizes. Me pergunto se de alguma forma, posso estragar a relação deles sentindo algo tão confuso.

— Fala, Pac-Man! — Rafael ama apelidar as pessoas ao seu redor e é claro que não ficaria de fora. Felipe apenas cumprimentou de maneira simples, como costuma fazer. — Tem muito tempo que tá aqui? Parece distante.

— Ah... Apenas quis um tempo só para mim. — Disse e em seguida, dou pequenos goles na água que também havia pedido. É notável que não venho estado bem desde que perdi a pessoa que amo, então não preciso explicar o motivo de estar assim para eles. É muito bom saber que posso ter meu espaço, assim como eles também.

— Se cuida, garoto. — Mesmo dizendo de uma forma engasgada por não conseguir se expressar tão bem, Felipe mostra sua preocupação, mexendo nos tubos de oxigênio que estão em meu pescoço e que nesse momento, não usava. — Bom... Quero saber o que o nosso querido vilão disse. — Parece bem impaciente, o que é bem comum de sua personalidade.

— Além das coisas que vocês ficaram sabendo por alto, que é o que todos já esperavam... — Rafael faz um pequeno suspense, enquanto parece um pouco apreensivo. Não sei o quão grave poderia sair da boca de Batista, levando em consideração que ele já se mostrou ser um homem bem frio, revelando ter matado duas pessoas. — Ele disse que começou a gostar do Pac romanticamente no meio de seus planos e que manipulou os remédios do Felps e o drogou. — Em nenhum momento durante essa fala, Lange olhou para nós diretamente. É um choque tão grande, que decido olhar para Felipe, que havia a mesma expressão que eu em seu rosto. O quão além a mente de um psicopata pode ir, apenas para conseguir alcançar o seu objetivo. Todos que estavam ao redor de Mikhael de alguma forma, mesmo que de forma indireta, acabaram sendo vítimas de todos esses horrores.

— Então, isso quer dizer que eu não tive uma crise de verdade? — Felipe pergunta, recebendo apenas uma confirmação silenciosa de Rafael. Com certeza, deve estar sentindo um turbilhão de sentimentos. Eu estaria da mesma forma. — Não acredito que aquele babaca tirou a sobriedade de mim! — Coloco uma de minhas mãos em seu ombro, tentando conforta-lo, nem que fosse com a minha presença. — Aliás, quem sequer é ele para achar que teria algo com o Pac? — O seu incômodo parece maior do que o comum, o que é um pouco estranho. — Tipo, é só olhar para ele e perceber que jamais escolheria qualquer homem que encontra por aí. — Logo aponta para mim, fazendo minhas bochechas queimarem de vergonha automaticamente. As vezes, não suporto a forma como Zaghetti é sem filtro.

— Eu concordo, viu? — Rafael diz rapidamente, antes de mudar o rumo da conversa, percebendo que estou envergonhado. — Ninguém te tirou da sobriedade. Essa crise não contou. Você foi drogado, não teve culpa de nada! — Sua voz exala convecção, afim de fazer o outro entender seu ponto de vista. Não era nada esperado saber que Batista conseguiu mexer nas medicações de Felipe, mas ao mesmo tempo, não duvido de nada vindo dele, principalmente por seu histórico bem peculiar.

— Não é hora de ficar se lamentando pelas coisas que aconteceram. É pensar daqui para frente e torcer para que sua sentença venha logo! — Decido me pronunciar quando percebo que após a fala de Rafael, os dois não parariam até tentarem encontrar o certo. — Ainda não estamos seguros, precisamos ficar de olho. Ele pode ter um ajudante, por mais que ainda insiste em dizer que não. — Ainda não consigo engolir a história de que em todo esse tempo, ninguém o ajudou. São planos muito detalhados e para uma pessoa fazer tudo, demoraria muito tempo. Somente se ele tivesse muita determinação.

Falsas pistas (Mitw).Onde histórias criam vida. Descubra agora