Suspeitos.

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Mikhael Linnyker

Após Felipe ter me ligado completamente desesperado pelo bilhete que havia no dormitório de Guaxinim, acabei largando tudo o que estava fazendo e fui até lá para entender melhor toda a situação. Esse homem está cada vez mais presente aqui dentro e me surpreende ninguém e nem mesmo os investigadores, ter notado alguma presença estranha pelos corredores. Se essa pessoa consegue saber tão bem onde estão suas vítimas, é porque conhece tão bem quanto nós esse hospital. Como não sou um profissional, mas estou envolvido em toda a investigação, acabei levando aquele bilhete para uma análise. Meu medo é não ser encontrado nenhuma digital que possa nos levar até esse criminoso. O que realmente foi impressionante, é que a tinta que estava ali, na verdade, é sangue. Não sabemos de onde foi pego, isso ainda está sendo analisado, mas é perceptível o quanto estávamos ansiosos por qualquer atualização sobre isso. Enquanto isso, tentamos ocupar nossas cabeças com qualquer coisa que pelo menos, não nos lembre de todo esse cenário de horror. Hoje, por mais que ainda não seja permitido, decidi levar Tarik para fazer uma caminhada pela redondezas do hospital. Acho que tanto ele precisa sair daqui de dentro mais do que ninguém, porque mesmo tendo outras vítimas, tudo acaba envolvendo ele. Sei que posso ser o principal alvo, mas a isca, é o Tarik.

Hoje está ensolarado e a manhã apenas se inicia. É um ótimo momento para uma caminhada. Enquanto andava pelo hospital, sinto aquele sol em meu rosto, aproveito essa sensação que tanto amo. Ainda é tudo muito recente e eu apenas gostaria de trabalhar da forma que sempre fiz e dar meu melhor para o tratamento de Tarik dar certo, mas sem sombra de dúvidas, isso é o menos importante levando em consideração que estamos correndo riscos aqui dentro. Mas ao todo, nunca deixei de focar em meus pacientes e tentar ajuda-los ao máximo. Quando eles estão aqui, a suas famílias, acabam sendo os médicos, então, eu tenho um papel muito importante na vida de cada pessoa que tá internada aqui dentro. É uma responsabilidade gigantesca e só quem realmente trabalha por amor, é capaz de exercer tão bem. Tarik já está pedindo há dias por essa caminhada e fui capaz de ceder por pelo menos uma vez. Assim que chego no corredor que é localizado seu quarto, o vejo me esperando na porta. Assim que me vê, não existe enrolação e logo vem até mim. Criamos uma amizade muito forte, onde já não existe mais timidez entre nós. Até porque, por mais que ele é bem extrovertido e tenta animar os outros, ali dentro, existe um menino tão tímido quanto os outros.

— Hoje vamos caminhar apenas por aqui perto. Na próxima vez, te levo para conhecer alguns locais que gosto. — Digo enquanto saímos do hospital, sentindo aquele vento fresco batendo em nós. É fato que gostaria de passar mais tempo com ele e leva-lo até alguns locais, mas tenho responsáveis dentro do prédio e tirar esse tempinho para ficar com ele, é um tanto quanto raro.

— Hmm... Por mais que eu queria andar um pouco mais, te entendo. — Ele sorri, respirando fundo. É evidente o quanto o mesmo ficou satisfeito por respirar outro ar que não seja do hospital. — Sabe... Aquele sangue que estava naquele bilhete, você acha que pode ter possibilidade de ser do criminoso ou até mesmo, de alguma vítima dele?

— Sendo bem sincero, tem possibilidade de ser de qualquer pessoa. Provavelmente aquele sangue não vai nos ajudar muito, somente se tiver alguma digital que nos leve até quem está fazendo isso. — O sangue que estava no bilhete pode ser de qualquer pessoa, ou até mesmo, de algum animal. Apenas olhando para aquilo, não da pra identificar do que possa ser. Continuamos o nosso caminho, agora, com novos assuntos, tentando tirar ao máximo isso de nossas cabeças. Por ali, acabamos encontrando diversos vendedores. Não tinha muito dinheiro naquele momento, mas fiz questão de dar ao Tarik, pelo menos, uma pulseira. Sei que ele não estará comigo pra sempre nesse hospital, mas quero que o mesmo sempre se lembre de mim, assim como irei me lembrar dele. O levo até alguns lugares e para finalizar, decidi passar em uma cafeteria que havia bem próximo do hospital, que costumo ir as vezes. Acabamos tomando café da manhã por ali. Sua companhia é confortável. É como se estivesse com uma pessoa que conheço há anos. — Você ainda tá com fome? Quer comer mais alguma coisa?

— Não! Tô satisfeito. — Ele sorri, se levantando juntamente comigo para sairmos dali. Como não conseguimos beber todo o café que pedimos, acabamos levando para poder tomar no caminho. — Esse lugar é ótimo! — O ver feliz dessa forma é realizador. É para isso que trabalho. Por mais que vejo Tarik muito mais do que somente um paciente para mim, sei que meu trabalho traz um impacto imenso em sua vida.

— Prometo que vamos vir aqui mais vezes. — Assim, caminhamos até estarmos dentro do hospital novamente, que não é longe de onde estávamos. Nos despedimos e eu voltei para minhas obrigações. Fomos para lados opostos, já que o local dos médicos ficava em outra parte. Aproveitei para passar no refeitório, pois nesse horário, os médicos estavam por lá e gostaria de encontrar Batista, porque queria ve-lo e saber se sabia de algo sobre a investigação. São poucas pessoas, principalmente médicos, que sabem sobre as atualizações do caso, e nós temos sorte por isso. Consigo encontra-lo rapidamente, já que seus cachos loiros são sua marca registrada. — Eai, Batista! — Bagunço seu cabelo e me sento ao seu lado. — Tá sabendo de alguma coisa? — Não preciso detalhar sobre o que é, já que o que mais é falado aqui dentro, é sobre isso.

O sangue que tava no bilhete é de uma bolsa de sangue do próprio hospital. Agora todas as suspeitas são nos médicos. Ou seja, até nós, somos suspeitos.

Já não era uma surpresa para nós que poderia ser um médico, mas ter essa confirmação, me deixa mais confiante, pois aos poucos, estamos chegando mais perto de quem possa ser.

Falsas pistas (Mitw).Onde histórias criam vida. Descubra agora