Cara a cara.

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Tarik Pacagnan

Permaneci em meu quarto olhando para a janela que me dava uma bela vista do exterior do hospital. Muito pensativo. Faz pouco tempo que Mikhael foi embora para poder cumprir suas obrigações como médico e profissional. Praticamente não conseguimos pegar no sono, tiramos pequenos cochilos, por conta da preocupação e na esperança de conseguir provas suficientes para incriminar alguém. Isso vem ficando cada vez mais sério. É impossível não sentir extremo medo numa altura dessas. Tento fingir ao máximo que estou bem e que isso não vem me prejudicando, mas para ser sincero, é completamente impossível disfarçar, sabendo que a cada dia que se passa, essa pessoa vem se aproximando cada vez mais de mim. A única coisa que me pergunto é: Por que? Cheguei faz pouco tempo por aqui e não tenho inimigos, nunca fiz nada que fosse me prejudicar aqui dentro. Já fui além e imaginei que pudesse ser alguém de minha família. Vendo o céu sendo tomado por tons alaranjados, pelo nascer do sol, me lembro de bons momentos com minha mãe - os únicos. Sei que ela vem tentando me proteger. O meu maior incômodo é pensar que posso estar colocando meus amigos em perigo. Eles se esforçam tanto para me ajudar, mas me pergunto se estamos no caminho certo, se é correto agirmos assim. Não sei como sair dessa e muito menos, não sei como isso irá acabar. E pensar por esse ponto de vista, me causa desespero.

Decidindo agir e me levantar daquela maca, mesmo sendo cedo, decido ir até a cozinha, para poder achar alguém com quem possa conversar. Sei que tenho Felipe, mas em um horário desses, o mesmo está se preparando para dormir por conta da sua insônia. Com certeza, não gostaria de incomoda-lo. Não havia outras pessoas próximas que fossem pacientes, mas tenho as cozinheiras e algumas pessoas que trabalham na limpeza. Acabo sendo uma companhia para eles, ambos saem com vantagem. Abro a porta lentamente, com medo do que possa encontrar e assim que percebo que não há ameaças, me desloco para fora do quarto e sigo para o local indicado. Cumprimento algumas poucas pessoas que passam pelo corredor. Infelizmente acabei me tornando alguém muito conhecido aqui no hospital, mas essa fama não é boa, até porque, ninguém se esforça de verdade para me ajudar. Demonstrar preocupação e não mover um dedo para ajudar mesmo podendo, não torna a situação mais simples. E é claro que não estão se importando tanto, sou um paciente comum, assim como os outros, não faço tanta diferença, mas se outros estivessem sendo atacados, com certeza, eles iriam começar a levar mais a sério. Provavelmente estou com olheiras fundas e uma aparência não tão boa, mas não se tem sono, quando se está em perigo. Viro mais e mais corredores, todos sendo quase iguais até chegar onde queria, porém antes de entrar ali dentro, vejo uma pequena parte da porta aberta, com alguém chorando. Lentamente me aproximo, tentando não ser notado, ouvindo minimamente a conversa.

— Você tem certeza que é tudo o que sabe sobre ele? — Alguém com uma voz minimamente conhecida por mim, pergunta. Pela sua entonação, dava para notar sua raiva. — Malena... É melhor dizer tudo logo de uma vez! Nessa de salvar o seu amiguinho, você não irá ser salva. — Nesse momento, ouço um grito vindo dela, provavelmente algum golpe foi desferido e eu não poderia ficar sem fazer nada, mesmo sabendo que não sou forte para poder ajudar alguém. Acabo levando um susto pela situação e mexo levemente na porta, fazendo aquele homem notar a minha presença. — Tem alguém nos ouvindo... — Em antes de conseguir sair dali, o homem que estava na cozinha, aparece em minha frente, usando aquela máscara que era completamente impossível saber quem era e sua roupa completamente preta, provavelmente a mesma que sempre usa. Seu olhar me causa arrepios. Nesse momento, eu apenas consegui ficar parado, sem conseguir me mexer. Toda essa situação passou em câmera lenta em minha mente. Mesmo fazendo esforço para tentar notar algum detalhe importante dele, é completamente impossível, ainda mais com todo o medo que estou sentindo. — Ah... É você. — Ele diz indiferente, em antes de olhar para os lados, verificando se havia alguém passando e sair dali rapidamente. Pelo susto, acabei não gravando para onde ele foi e isso provavelmente vai fazer bastante falta. Mas de qualquer forma, a preocupação agora, é com Malena. Ela está ferida e não sei se é grave.

Pac? É você? — Ouço a voz abafada de Malena dentro da cozinha e consigo voltar a realidade, correndo até ela. Vendo um pouco de sangue no chão, o que já me deixa preocupado o suficiente para começar a tremer.

— O que ele te fez? — Consigo ver um corte, que parecia profundo em seu braço esquerdo. Assustado, seguro em sua mão, querendo a guiar para a sala de curativos, mas ela recusa. — Você precisa de cuidados!

— Eu sei, mas antes... Não conta nada do que ouviu da conversa. Diz que chegou depois. Por favor. — Ela diz séria. Provavelmente foi ameaçada a não contar e mesmo com medo do pior, prefiro guardar segredo, pelo menos por enquanto. Não ouvi muito da conversa, na verdade, nem sei de quem ele queria informações, então, ficará essa incógnita, por enquanto. Olho para o interior da cozinha e vejo que ele utilizou uma faca do próprio cômodo e a deixou na bancada. Decido nem tocar. Mesmo sabendo que o mesmo estava de luva, ainda tinha esperanças de ter um pouco de seu DNA.

Seja o que for, estarei aqui para poder me contar, quando se sentir confortável. — Tento a reconfortar, mesmo sendo difícil nessa situação e assim, levo ela até a sala de curativos. Muitas perguntas e poucas ajudas com seu braço. Por isso, acabei precisando ajudar a fazer seu curativo. Sei que todos estão preocupados e querem saber o que aconteceu, mas seu bem, com certeza, está em primeiro lugar. Fiz o que ela me pediu e não contei nada do que eu ouvi, inventando a desculpa de não ter chegado antes. Malena parece com muito medo e não sei como será nos próximos dias. Seja quem for essa pessoa, ela provavelmente tem um alvo e vem fazendo de tudo para tentar pegar o máximo de informações possíveis sobre essa pessoa. Pode ser eu, outra vítima... É uma incógnita numa situação dessas. Assim que seu curativo estava pronto, ela foi colocada em uma maca, para podermos deixa-la mais calma. Logo ficando apenas nós dois por ali e eu me sento perto dela, olhando para o cômodo em que estávamos. A mesma parece pensativa. — Você tá bem, Malena?

— Sabe, Pac... — Ela pensa para dizer suas palavras. — É tão difícil dizer isso, mas... — A mesma fica em silêncio por alguns segundos, em antes de olhar para a janela. — Ele queria informações do Mike.

Falsas pistas (Mitw).Onde histórias criam vida. Descubra agora