Sumiço.

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Rafael Lange

Hoje íamos finalmente nos investigadores mostrar nossas provas. Estas que foram muito difíceis de serem coletadas e realmente tínhamos certeza que com as mensagens, dava para prende-lo, mas tudo foi anulado a partir do momento que não encontramos Felipe em lugar algum do hospital. O nosso objetivo estava sendo encontra-lo, juntamente com outros do local, mas simplesmente tudo foi em vão, pois assim que tivemos acesso as câmeras do prédio - graças a alguns policiais que liberam a sala para mim e Tarik -, conseguimos vê-lo pelo complexo, talvez fazendo uma caminhada, mas logo um carro estaciona ao seu lado e o leva para algum lugar que não é visível pelas câmeras. Felizmente, com a ajuda das autoridades que estão na investigação no hospital, iremos conseguir acesso a algumas câmeras da cidade, para tentarmos identificar o carro em alguma dessas áreas, só precisamos ser pacientes, pois isso requer um pouco de tempo. Mas apenas pensar que Felipe pode estar em perigo nesse exato momento, me faz entrar em completo desespero. O silêncio ensurdecedor que até mesmo ecoa dentro dessa sala, é pior a cada minuto que esperamos por mensagens dos policiais.

— Eu tenho certeza que ele está em uma crise. — Digo firme, olhando para Tarik. — Para ele ter entrado naquele carro em tão pouco tempo, com certeza, não estava em plena consciência. — Me levanto, andando para os lados, observando a grande tela a nossa frente, ainda vendo aquela filmagem em loop.

— Você tem razão, Rafa. Aliás, você é o médico dele, com certeza tá certo. — Ele se mantem jogado no sofá. Parece pensativo, ou apenas preocupado. — Só espero que nada aconteça com ele... Não aguentaria outra perda. — Dessa maneira, recebo a mensagem que estávamos esperando todo esse tempo: A permissão para ter acesso as câmeras da cidade. Bom, não são todas, mas com certeza pode nos ajudar em alguma coisa. Enquanto ajeitava as coisas, sinto uma mão em um de meus ombros. — Vai ficar tudo bem. Prometo não desistir até encontrar ele. — Sorri leve, sentindo um conforto me preencher, mesmo que de forma momentânea. O fato de saber que ele está tão triste quanto eu, principalmente com a morte de Mikhael, e mesmo assim tentar me confortar, é boa.

— Eu confio em você, Pac! — Coloco a minha mão por cima da sua, finalizando aquele diálogo. Logo começamos a olhar com calma cada filmagem, tentando encontrar aquele carro, achando vários com diversas semelhanças. Mas uma daquelas filmagens, com certeza, nos chamou bastante atenção, onde encontramos o carro estacionando, mas aquele, com certeza, não era o destino do motorista, pois ele continuou, mas dessa vez, caminhando segurando o braço de Felipe, olhando constantemente para os lados e virou para outra rua - que infelizmente não tínhamos acesso das câmeras. Mas por nossas memórias, conseguimos notar que essa rua, é uma que fica bem próxima da casa de Batista, por conta de um mercado. Para nós, não há dúvidas que tudo isso foi armado por ele mesmo. E infelizmente não temos ideia de quem possa ser o motorista, por enquanto. — Até que não foi difícil, porque já imaginávamos que era coisa desse babaca. — Salvo apenas aquelas filmagens, enviando para os investigadores, pois apenas eles poderiam determinar algo, ou até mesmo, decidir se iriam verificar agora ou aguardar dar as 24h - que é o horário mínimo para constar como desaparecido. De qualquer maneira, gostaria de eu mesmo ir e verificar com meus próprios olhos, mas já que isso não é possível, prefiro ficar nessa sala, vigiando as câmeras e avisar caso veja algo que possa ajudar.

— Tenho quase certeza que Batista não irá fazer nada de ruim com Felps. No máximo, faze-lo de refém para conseguir algo. — A ansiedade também era evidente nele, que sempre mantinha seus olhos fixos naquelas filmagens. — Mas... Você acha que Felps pode fazer algo que eles ordenem?

— Bem provável. Quando se tá em uma crise, é difícil ter controle do próprio corpo e às vezes, ele nem se lembra do que aconteceu nesses episódios, por isso me preocupo. — Me levanto, ficando ao lado de Tarik, que agora, está pousado na janela. — Sabe, Rafa? Tudo tá tão confuso. A minha mente tá totalmente sem direção. Desde que Mike morreu, não me sinto vivo e muito menos em paz. São tantos sentimentos que não consigo demonstrar. — O ouço atentamente, me identificando com cada palavra dita. Apenas penso se é melhor ser profissional e trata-lo como um paciente e ajuda-lo, ou apenas ser um bom amigo e dizer o que de fato sinto. Como estamos em um momento tão delicado, decidi ser a segunda opção.

— Sinto o mesmo que você. Te entendo perfeitamente. — O puxo para mim, ficando de frente para ele e lhe dando um abraço apertado. De início, senti o mesmo um pouco assustado, levando em consideração que não costumo ser tão sensível assim, mas ele retribui em seguida. Inalo o cheiro de seu perfume que está em seu pescoço, procurando por conforto. Levanto minha cabeça lentamente, sentindo sua respiração sobre a minha. Realmente minha mente está toda confusa nesse momento. Prefiro não pensar por agora e fazer o que meus sentimentos tão conturbados querem. O que preciso agora, é apenas de um pouco de amor e saciedade para essa carência. Por isso, o beijei. Um ato confuso de ambas as partes, mas de qualquer forma, foi bom e nos preencheu, nem que seja, um pouco. É nítido que ele queria o Mikhael, e eu o Felipe. Por isso, não há nada mais justo do que fazermos isso, nos imaginando com aqueles que tanto amamos. Parece estranho? Sim, mas vai além da compreensão de outras pessoas que não seja a gente. Até porque, isso é apenas sobre nós, ninguém mais precisa saber disso. Um beijo tão real, mas com mentes tão distantes ao ponto de não notarem isso. Isso não precisa ser real, ao menos que a gente queira.

— R-rafa... Eu tô sentindo algo nessa parede. — Voltamos para a realidade, totalmente desnorteados, ainda tentando entender tudo, mas logo o ouço atento. — Parece ser uma parede falsa! — Ele se vira e bate, assim notando que realmente estava oco. Com um mínimo de esforço, conseguimos tirar o que parecia ser um papelão que estava disfarçado com a tinta da mesma cor da parede. De lá, tiramos uma mala média que estava reforçada com algumas coisas, mas conseguimos retirar tudo aquilo, abrindo-a imediamente e ficando totalmente assustados com o que tínhamos nos deparado. — Essa é a maior quantia de dinheiro que já vi em toda a minha vida. — Sussurra assustado, tocando naquelas notas para ter totalmente certeza se é real. — Quem e por que dariam tanto dinheiro a alguém? — Me questiona, olhando para o buraco de onde aquele objeto veio.

— Interesses. Seja ele qual for, nós vamos descobrir. — A partir daqui, já percebo que nossa investigação está apenas começando. Essa mala, é o início da história não contada pelos investigadores. E o motivo pelo qual nunca contaram, pode ser bem pior do que eu mesmo imagino.

Falsas pistas (Mitw).Onde histórias criam vida. Descubra agora