Paz.

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Tarik Pacagnan

Após um dos investigadores aparecer na porta do meu quarto, dizendo que encontrou minha digital na faca que foi usada no crime do dia anterior, fomos guiados até a sala em que eles trabalham, que é dentro do hospital para facilitar, mas é totalmente protegida. Provavelmente quem está fazendo tudo isso, jamais vai conseguir entrar ali dentro para tentar pegar alguma informação. Nunca tinha visto Mikhael tão nervoso quanto naquele momento. Realmente, é notável o quando o mesmo se preocupa comigo e quer o meu bem. Acho que jamais senti de verdade o que é ter alguém assim, como o tenho. Ele olhava as câmeras e tentava entender como minha digital foi encontrada ali, sendo que eu nem sequer encostei naquela faca. O que acabou me salvando foram as filmagens onde eu aparecia cara a cara com quem fez tal coisa. Mas de qualquer forma, isso não prova totalmente minha inocência, já que eu poderia ter ajudado nisso tudo, coisa que nem faz sentido, já que ajudei Malena. Se fosse um fio de cabelo, até iria ser compreensível, mas agora, uma digital? Fiz questão de nem chegar perto daquela faca, justamente para não atrapalhar qualquer digital que estivesse ali, para poder ajudar na investigação. É como se tudo fosse armado para mim. Mas, como alguém conseguiria colocar minha digital em algo? Tudo o que sei, é que estou sentado de frente para eles, enquanto conversam - ou até mesmo, discutiam - tentando encontrar a resposta correta, já que ambos estavam tendo opiniões contrárias.

Pela câmera, da pra ver perfeitamente que Tarik nem sequer chegou perto dessa faca. Ele apenas entrou para ajudar Malena, tanto que eles saem segundos depois da cozinha. — Mikhael diz mais uma vez para um daqueles investigadores, que dessa vez, ouvia sem interromper. — Não sei como essa digital foi parar ali, mas vocês sabem que não foi ele. Deu pra ver todo o trajeto que ele fez até a cozinha e enquanto isso, tinha outra pessoa lá dentro.

— A digital não mente, Mikhael. Sabemos que não foi Tarik que cometeu o crime, mas gostaríamos de saber o porquê sua digital estava lá. — O investigador diz, tomando mais um gole de seu café. — Não estamos incriminando ninguém, até porque sabemos que Tarik, inclusive, foi uma das vítimas. Mas pensamos que, talvez, ele pudesse nos contar algo. Com certeza, Tarik, você sabe de algo.

— Sinceramente, se eu soubesse, com certeza teria contado para vocês no mesmo momento! — Me levanto da cadeira, entrando em estado de choque. Como poderiam pensar que eu estou envolvido nisso? Já não é suficiente ser a maior vítima de tudo isso e ainda preciso ter que ouvir esse tipo de coisa?

— Olha... Se tiver alguém te ameaçando a não falar, prometemos sigilo total. — Ele diz, tentando me acalmar, se aproximando e me colocando sentado na cadeira novamente. — A digital estava lá, Tarik. Sabemos que você é a maior vítima, por isso não queremos te culpar, só queremos que colabore.

— Por saberem exatamente que Tarik é a maior vítima, por que não pensaram na hipótese de terem colocado sua digital lá? — Mikhael diz, deixando todos confusos. — Esse cara, ele entrou no quarto de Tarik. Não acha que foi facil para ele pegar algumas digitais com uma fita, por exemplo? — Todos ficam em silêncio por segundos agoniantes. É como se eles tivessem sido pegos de surpresa, já que se entre olhavam, tentando pensar no que poderiam falar para nós.

— Você tem um bom ponto. — O investigador apenas diz isso, em antes de olhar para seu computador novamente. — Bom, vocês estão liberados. Não tem nada que incrimine Tarik, já que nas filmagens da pra notar que ele realmente não chegou perto da faca, nem mesmo, nos dias anteriores. — Suspiro completamente aliviado com sua fala. — Irei pensar no que disse, Mikhael. — E em seguida, saímos daquela sala rapidamente, pois a tensão era grande. Se não fosse por ele, não sei se iria conseguir sair dali sem ser pelo menos, um suspeito. Suas palavras fazem completamente sentido. Fora que jamais seria capaz de machucar alguém. Provavelmente já sabiam de tudo isso antes dele falar, mas queriam nos manter ali para saber como iríamos reagir com tudo.

Assim que saímos da sala, começamos a andar para meu quarto. Olho para o lado e fico paralisado assim que vejo aquele homem novamente. Dessa vez, ele estava em uma sala, me olhando através da janela. É distante, mas ainda sim, da medo. É como se o mesmo já sabia que estava ali. Conseguia ver apenas seus olhos, já que seu rosto - assim como seu corpo - estava coberto por um tecido preto. Quando Mikhael notou sua presença, ele sai dali rapidamente, nem dando tempo de conseguir avisar a alguém. Logo começamos a andar novamente, ainda mais próximos, tendo seu braço envolvido em meu ombro, enquanto segurava sutilmente sua cintura. Sei que ele está com medo também, mas quer passar total segurança para mim. Afinal, nós dois estamos no jogo. Estou sendo o principal alvo, porque esse homem quer se aproximar de Mikhael. Não sei como será daqui para frente, mas prefiro que aconteça algo comigo, do que com ele. Jamais me perdoaria se algo acontecece com o mesmo. Apenas fico apreensivo com o fato de não poder te-lo ao meu lado o tempo todo, para saber se está bem, ou para me proteger, pois sei que nós dois juntos, somos mais fortes do que aquele que quer nos fazer mal. E parando para pensar, esse homem quer atingir todos que são próximos a nós, então, muitas pessoas precisam tomar cuidado, além de nós. Entramos no local desejado e conseguimos olhar para as janelas. O por do sol está lindo. Nos olhamos e ali, já conseguimos sentir tudo. Cansaço. É assim que ambos se sentiam.

— Sabe, Mike... Eu nunca tenho sorte. Quando finalmente consigo sair de perto da minha família, algo vem pior. — Me aproximo da janela. — Quando conseguirei ter paz? — Realmente, não gostava de desabafar com ninguém. Mas o Mike é além de qualquer outra pessoa. Eu confio nele.

— Da mesma forma que você conseguiu lutar com sua família e sair de casa, tenho certeza que conseguirá passar por mais essa. — Ele fica ao meu lado e eu me viro de frente para o mesmo. — Antes você não tinha ninguém, agora, você tem a mim. Jamais vou desistir de você. — Sorrimos juntos, em antes dele se aproximar sutilmente de mim, colocando a mão em minha bochecha. Nos olhamos por muitos segundos, sendo capaz de notar cada detalhe dele. Novamente, estávamos bem perto.

Mas, dessa vez não recuei. Eu o beijei. Segurei em seus cabelos como nunca havia feito antes. O senti como jamais imaginei que sentiria. E essa é a resposta para a minha pergunta: Ele é a minha paz.

Falsas pistas (Mitw).Onde histórias criam vida. Descubra agora