Tarik Pacagnan
Faz alguns dias desde que ganhei alta da internação e me mantive trancado em meu quarto por grandes períodos. Não sinto vontade de fazer muita coisa. O único que vem me ver, é Rafael. Ele é bem atencioso comigo e vem sendo um conforto em dias tão complicados. Olho para esse quarto e lembro dos momentos que passei com Mikhael. Sinto sua falta imensamente. Se eu pudesse ter ido no lugar dele, assim faria. E o que me deixa ainda mais revoltado nisso tudo, é saber que Batista continua solto, mesmo todos tendo quase certeza que foi ele quem assassinou Mikhael a sangue frio. É nítido que os investigadores estão acobertando ele faz um tempo. Talvez, por dinheiro? Ou por promessas? De qualquer forma, preciso tentar investigar tudo mais a fundo e descobrir algo que incrimine todos eles. Mesmo sabendo que existe a medida protetiva e que Batista não pode mais se aproximar de mim, eu sinto que isso jamais será uma barreira para ele. Ainda continuo correndo risco de vida aqui dentro, preciso o quanto antes, me juntar ao Rafael para tentarmos conseguir provas. Ele é bem esperto quando o assunto é investigação, por isso, quero fazer isso com o mesmo. Aumento meus passos pelos corredores, indo em direção a sala de Rafael, pois sei que vou encontrar ele por lá. Bato na porta e entro em seguida. Vejo Felipe também. Ele se recuperou bastante, mas ainda está tendo suas recaídas.
— Atrapalhei o momento do casal? — Brinco, rindo um pouco. Isso é um pouco doloroso, porque lembro de Mikhael. Suas lembranças em minha mente sempre serão carregadas por dor. Não importa, essa dor jamais será amenizada.
— Hãm? Se manca, Pac. — Rafael diz, com seu jeito meio bravo. Não entendo o porquê ele fica tão bravo com tal assunto, até porque, os dois realmente tem um certo envolvimento. — Mas, o que veio fazer aqui? Precisa de algo? — Pergunta, em uma tentava de desviar daquele assunto. Felipe só se joga no sofá e parece não se importar com a reação do mais novo.
— Vim falar sobre começarmos a investigar tudo novamente. — Digo empenhado e ele me olha assustado. Provavelmente não pensava que iria querer voltar a fazer isso, pelo menos, não tão rápido.
— Que ótimo! Sua ajuda vai ser muito necessária pra gente! — Ele se refere a si mesmo e a Felipe. Os dois, desde então, vem investigando sem mim.
"Notificações", capítulo vinte e cinco.
Olho para o relógio da parede que aponta ser mais tarde do que esperávamos acabar tudo isso. Estamos em silêncio faz muito tempo, tanto ao ponto de estar me incomodando, mesmo sendo pessoas tão próximas a mim. É como se todos os nossos sentimentos falassem dentro dessa pequena sala. Cada um com um sentimento que é incontrolável, que é difícil se explicar. Guarda-los realmente é a melhor das opções? Quando o limite for alcançado, o que acontecerá? Só vamos saber quando isso acontecer. E pensando bem, isso realmente é necessário? É como se estivéssemos sendo feitos de idiotas, enquanto Batista está saindo totalmente inocente disso tudo. Sabemos que o DNA dele estava na cena do crime, então, por que simplesmente não o prenderam? Nada do que fizermos aqui será tão relevante quanto um DNA coletado. Mas, por outro lado, não quero deixar de cumprir a promessa que fiz a Mikhael. Isso é mais importante do que qualquer outra coisa em minha vida. Para muitos, pode até não fazer sentido, todavia existe um sentimento muito maior aqui dentro que é capaz de me dar forças todos os dias. Ele se faz presente para mim, acredito muito nisso.
— Que cansativo! Não conseguimos achar nada de relevante. — Felipe quebra o silêncio absurdo daquela sala, suspirando pesado. — Por que só não deixamos rolar? Uma hora, ele vai ser preso. — Ve-lo querendo desistir, só prova o quão está cansado. Na verdade, todos nós estamos.
— Ficou maluco? Já conseguimos ir tão longe, não podemos parar agora! — Rafael reluta, tentando trazer ânimo para nós. Perder um melhor amigo de tanto tempo deve ser extremamente doloroso, por isso, entendo sua insistência nisso, mesmo sabendo que é provável que isso não resolva nada. É algo que nos mantém juntos e fortes. — Falta pouco... Literalmente muito pouco. — A voz exala cansaço. Me orgulha saber que ele está tentando ser forte por nós dois, mas essa carga vem sendo demais para o mesmo.
— A gente vai continuar, tudo bem? Só--... — Fui interrompido por sons de notificações vindo de meu celular. Franzi o cenho, pensando em quem poderia ser, já que não havia iniciado uma conversa com ninguém o dia inteiro. Sutilmente, seguro em meu aparelho celular, a tela acesa revela mensagens de um número desconhecido, mas apenas pelo conteúdo, é possível identificar quem mandou. Somente por ali, já consigo ler tudo.
Mensagens On
Número desconhecido: Não lembra das minhas ordens, Tarik? Quer morrer por acaso?
Ou melhor, quer que seus amiguinhos morram? Consigo acabar com eles tão rápido quanto fiz com Mikhael, seu viadinho de merda.Mensagens Off
Leio tudo em voz alta, extremamente em choque. Sabia que algo assim poderia acontecer, mas o meu maior medo, de fato, é que algo aconteça com meus amigos, ainda mais, pela minha culpa. Preciso tentar evitar um outro desastre, e para isso, preciso ter coragem e mostrar essas mensagens e todas as provas que coletamos para os autoridades. Não da para saber quem está acobertando Batista, mas precisamos tentar, assim como fizemos até agora. Continuar é a melhor opção, pois só assim, será evitado outros crimes aqui no hospital. Esse criminoso não pode mais ficar solto. — Isso sim são provas concretas! — Ainda trêmulo, digo com convicção, tirando fotos da tela, desde as notificações, até dentro da conversa em si, antes mesmo dele apagar - que é algo que com certeza irá fazer daqui um tempo.
— Vamos levar isso amanhã de manhã para os investigadores. Dessa vez eles não vão ter como acobertar Batista, as provas estão aí! — Rafael sente uma raiva gigantesca, seus punhos estão serrados. Tudo isso está em nossas mãos. — Felps, tá tudo bem? Você ouviu o que o Pac disse? — É evidente o quanto Felipe está distraído hoje, não se importando muito com a investigação. A gente teme por uma nova crise, precisamos tomar cuidado redobrado.
— Tô de boa, pô! Eu ouvi sim e espero que a gente consiga prender logo esse babaca. — Fala da forma de sempre, colocando suas mãos para trás de sua cabeça. Por mais que ele está normal, qualquer ato diferente que o mesmo tem, é bom ficar em estado de alerta. Tantas preocupações, mas tão pouco tempo para resolver.
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Falsas pistas (Mitw).
Mystery / ThrillerÀs vezes, não é necessário procurar pelo culpado. Ele pode estar nesse exato momento, ao seu lado.