CAPÍTULO 08

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Estar dentro de um funil depressivo às vezes é mais fácil do que tentar olhar as coisas de outra forma

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Estar dentro de um funil depressivo às vezes é mais fácil do que tentar olhar as coisas de outra forma. Esse lance de "a esperança nunca morre" é papo furado pra quem não tem muitas opções. A gente desiste de tentar, de achar que algo vai ficar bem porque essa merda de positividade exagerada só serve pra adoecer ainda mais a gente.

Acho que entendi os porquês do Inácio, mesmo que observar aquilo tão de perto fosse angustiante, não era de fato tão diferente da maioria das coisas que aconteceram do meu lado, das pessoas que morreram enquanto me davam a mão... me acostumei a não sentir coisas boas. Para as ruins eu já estava acostumado, tinha todas as palavras na ponta da língua. Para a gentileza eu não precisava estar armado e isso me deixava vulnerável demais.

— Que bom que você veio!

E não sabia se aquilo era mais sobre coragem ou covardia.

— Oi!

Não consegui completar nenhuma das ligações que fiz para o abrigo na última semana. Todas as vezes que tentei ligar para ter alguma informação do Seu Venceslau o meu medo foi maior. Medo da rejeição, do apagamento eterno da mente de alguém que eu nunca esqueceria.

— A Joana não tá aqui, entra. — Sônia com aquele sorriso amável escondido atrás da máscara me acolheu. — Eles acabaram de tomar café, tá com fome? — Sem receio, segui seus passos pelo caminho até o prédio do abrigo.

Neguei com a cabeça ajeitando aquela máscara preta na minha cara.

De uma das janelas abertas da casa, consegui avistar a mulher de jaleco lá dentro.

— Tem alguém doente? — Indiquei a mulher.

Sônia sorriu.

— Não, alguns ficaram sem tomar a primeira dose da vacina.

Assenti em compreensão.

Ver aquilo era lembrar que o cara que mais precisava se recusava a tomar por pura lorota e fake news.

— Ele tá bem?

— Tá ali. — Indicou a região com os bancos e mesas de cimento. — Consegui um baralho pra ele, — comentou baixinho feito segredo. — se quiser jogar uma partida... — sugeriu.

— Ele lembrou de mais alguma coisa?

— Em alguns dias mais que outros. — Havia uma mistura estranha de sentimentos naqueles olhos escuros. — Vamos? — Adiantou os passos, mas não me mexi.

— Eu não quero ser um risco.

— Por que seria? — Juntou as sobrancelhas em confusão.

Faltou palavras para explicar a ela e tornar consistente o que eu estava sentindo só por estar ali. Só não queria piorar a situação dele e trazer sentimentos ruins de volta.

— Eu não acho que tenha coisas boas para acrescentar aqui. — murmurei.

— Só em você estar aqui já é algo bom, — me olhou nos olhos. — qualquer sentimento é bem vindo, Tobias. — suspirou abrigando minhas mãos entre as suas. — Ele está se perdendo. Dos dois dias que ele lembra, nos cinco ele não sabe quem é. — Fiquei angustiado. — Não precisa ser tão penoso. Algumas vezes você só precisa estar aqui. — Apesar do sorriso escondido pelo tecido colorido, ela não conseguiu desfazer aquele nó no meu peito.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora