Joana estava sorrindo para um casal na porta do asilo. Ela sorria, gesticulava e falava coisas amáveis para o casal bem arrumado. Era a terceira vez em dois dias que rondava aquele lugar.
Saí da casa do Gustavo de um dia para o outro. Catei minhas coisas e fui embora feito um rato, deixando sua bagunça para trás. Ele já sabia que isso era questão de tempo até acontecer e talvez por isso ou pela mágoa ele não me ligou. Há três semanas que eu morava em um quarto de um cortiço de Santa Teresa.
Expeli a fumaça pelos lábios, continuando sem ideia de quais palavras usar, de que maneira conter a minha ansiedade e fingir que estava tudo bem. Era idiotice, pois estava na minha cara e naquele corpo por baixo do gigante casaco cinza, o quanto a semana afogada em dias cinzentos demais, eram típicas no inverno.
Na minha angústia ao longo dos dias, senti falta de certas coisas e de pessoas que nem sabiam que eu existia. Akin estava longe demais, assim como Seu Venceslau, mas por ele ainda conseguiria fazer algo bom.
O casal se despediu e Joana me viu do outro lado da rua. Apesar da repreensão naqueles olhos frios, atravessei a rua na frente do carro.
Ela tentou fechar a porta, mas como da primeira vez, contive sua tentativa.
— Vai embora.
— Bom dia, Joana! — Relaxei a pressão contra a porta de madeira.
— O que que você quer aqui?
— Cadê a Sônia?
— Ela não tá. — Abriu mais um pouco a porta.
Achei graça dela mentindo.
—Uma freira mentindo na cara de pau?
— Deus sabe que é por uma boa causa. — Levou a mão até o grande pingente de cruz no cordão em seu peito.
Concordei com a cabeça.
— Chama ela pra mim.
Suspirou.
— Você não tem vergonha de voltar aqui?
— A senhora, — Tentei ser respeitoso. — não cansa de ser hipócrita? Fica aí pregando coisas boas e me chuta daqui?
Ela sorriu.
— Tenho os meus motivos para fazer isso.
Achei graça.
— É agora que você coloca o todo-poderoso no meio?
— Mais respeito! — Apontou aquele indicador na minha cara.
— E quando recebo o meu?
A mulher me encarou séria e sem uma resposta pra me dar. Pensei que veria algum abalo sentimental, mas não tinha nada além das próprias convicções.
— Saí daqui.
— Por que que eu te incomodo tanto, Joana?
— Os problemas que você trás estão bem aí, no seu rosto. — Gesticulou para mim.
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🏳️🌈| O Mar que Aqui Retorna
Ficción GeneralTobias é ex-presidiário e dependente químico que tenta retomar a vida no mesmo ritmo que o mundo retorna de uma pós pandemia. Através de reencontros, deseja refazer os laços com o filho e zelar pela vida de pessoas que um dia ajudaram ele, mas isso...