CAPÍTULO 12

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Apaguei a bituca no cinzeiro, ouvindo pela terceira vez a ligação cair

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Apaguei a bituca no cinzeiro, ouvindo pela terceira vez a ligação cair. Jamila não queria me atender. Estava com crédito e às sete horas da manhã não era tão cedo assim para alguém que sempre acordou às cinco. Jamila não queria atender a minha ligação. Apoiei a cabeça no encosto do sofá e suspirei frustrado com aquilo. Tive uma noite esquisita, talvez fosse pelo fato de ter ocupado um lugar que não era meu, ou pela simples sensação de estar sendo constantemente vigiado naquele quarto.

De novo o dia estava bom. Devia ir à praia. Ver o mar sempre me acalma, mas a única coisa que conseguia pensar tinha vinte anos de diferença que eu, a mistura do nosso DNA e um nome escolhido por mim. Estava com saudades do meu filho e aquele papo do mês passado já não diminuía a imensidão daquilo.

— Pedi pra não fumar aqui.

— Foi só um cigarro. — Levar uma bronca era a última coisa de que precisava.

— Não interessa.

Inácio estava na entrada da sala, me encarando com aquele olhar inexpressivo dele. Acho que para ambos a existência um do outro era um tanto faz. Ele não estava bem, dava pra ver naquelas olheiras e eu também não, mas isso não importava porque o rostinho bonito só estava preocupado com a quantidade de fumaça que ficaria impregnada nas paredes daquele apartamento. Na verdade acho que nem ele mesmo se importava com aquilo.

Tirei outro cigarro do maço sobre o braço do sofá e acendi entre meus lábios.

Percebi seus olhos revirarem.

Traguei e expeli a fumaça com um certo alívio no peito. Certos vícios eram a praga e a cura.

— Sai daqui.

Umedeci os lábios.

— Você nem se importa com isso.

Soltei as cinzas no cinzeiro ao meu lado no estofado.

— Falei sobre isso com você.

— Não, — neguei com a cabeça. — você impôs algo e eu como um serviçal acatei.

Seus dedos empurraram os cachos para trás com certa impaciência.

— Não tenho saco pra isso.

— Pra mim ou pra você mesmo?

Suspirou.

— Isso é ressaca?

A pergunta soou mais como afirmação do que dúvida. Era engraçado como ele sempre demonstrava certezas sobre mim.

— Você ficou olhando pra mim. — Traguei o cigarro, observando o vinco entre suas sobrancelhas.

— Do que você tá falando?

— Eu dormi do seu lado na cama e eu não tô louco, — ri sozinho. — era você que tava me olhando.

Inácio não reagiu.

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