Troquei toda a tranquilidade de um asilo que precisava ficar em paz para acalmar os moradores, pelo barulho quase insuportável de uma construção. Beto era um pedreiro conhecido e todas as suas reformas eram muito bem feitas e no meio dele e dos ajudantes eu não sabia fazer nada mais além de recolher os entulhos e colocar pro lado de fora da casa. Trabalho mecânico para um cérebro que sempre parecia a um passo de entrar em pane.
Trabalhar junto com o Gustavo fazia com que a gente acordasse cedo e passássemos o dia todo juntos até voltar pra casa. Na maior parte das vezes nós dois e alguns ajudantes parávamos em algum bar nos arredores da casa em Vicente de Carvalho, mas eu sempre preferia ficar em casa com ele. Eram as cervejas que dividíamos nos fins de semana e as vezes que íamos no Beco do Rato atrás de uma roda de samba.
Essa sensação ainda era estranha. Estar com alguém era estranho.
Mas isso não era suficiente para me fazer ignorar tudo o que havia fora daquele lugar onde só cabia nós dois.
A Sônia me enviava mensagem toda semana sobre o Seu Venceslau. A minha falta de retorno não era algo que a fizesse desistir e eu gostava daquilo, mesmo tendo apenas as mesmas informações. Seu Venceslau, depois de um mês, só se perdia ainda mais, enquanto eu só sabia relembrar dele.
Enquanto as memórias desapareciam dele, em mim elas se tornavam mais vivas.
— Tá tudo bem?
Seus braços abraçaram meu tronco por trás, depositando beijos na altura dos meus ombros carentes da camiseta. Adorava quando ele fazia aquilo.
— Tá. — Deixei o telefone sobre o móvel antes de buscar pelos seus olhos por cima do ombro.
— Ele tá bem?
Não tinha muito o que dizer, mas concordei com a cabeça.
Gustavo passou o nariz pela curva do meu pescoço, pondo a ponta da minha orelha entre seus dentes. Encolhi os ombros. Sua risada soou baixa enquanto os dedos desceram pela minha barriga, até a cueca samba canção. De mansinho, ele entrou pelo tecido, alcançando o membro entre minhas pernas. Relaxei a cabeça em seu ombro atrás de mim, com o corpo reagindo à pressão da mão abaixo do meu queixo e os dedos que subiam e desciam na mesma velocidade que aumentava a pressão em meus pulmões. Arfei com o peito batendo forte. Agarrei o lençol da cama, com a sensação trêmula, que parou de maneira abrupta.
— Aylla? — O nome surgiu no pé do meu ouvido e só percebi quando as mãos do Gustavo relaxaram.
Porra! A garota estava de pé em frente a porta. Demorou um instante para eu encarar seus olhos castanhos que traziam um misto de sentimentos estranhos. Gustavo se afastou de mim e quando ela seguiu na direção contrária ele foi atrás sem se importar comigo.
— Jura, Gustavo?
— Onde você tava?
— Não vem com essa merda. Você realmente tá com alguém, aqui?
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🏳️🌈| O Mar que Aqui Retorna
Fiction généraleTobias é ex-presidiário e dependente químico que tenta retomar a vida no mesmo ritmo que o mundo retorna de uma pós pandemia. Através de reencontros, deseja refazer os laços com o filho e zelar pela vida de pessoas que um dia ajudaram ele, mas isso...