CAPÍTULO 12

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Quando olhavam para mim, mesmo sem dizer uma palavra, sentia aquela sensação estranha no ambiente

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Quando olhavam para mim, mesmo sem dizer uma palavra, sentia aquela sensação estranha no ambiente. Daquela rua, eu era o menino mais problemático e da mesma maneira que sempre tentam justificar, ou dizer os reais motivos pelos quais alguém se torna o que se torna, comigo, pessoas que não sabiam nada sobre mim, falavam que era por conta da falta de uma presença materna, do meu pai não ter dado conta de dois filhos, das amizades erradas, de todos os bailes que eu ia, da minha mania de ficar batendo perna pelas ruas e vielas da favela.

Aquele era eu. Não tinha nada mais além daquilo para ser dito sobre mim.

Eu ia morrer da maneira que essa gente falou que eu ia morrer, sem ninguém se importar e sozinho em algum canto.

Gustavo ficou falando que a gente ia dar um jeito, porque ele, com seu jeito de se apegar as coisas boas, tinha certeza que os curativos do UPA e a melhora gradual dos meus machucados eram um reflexo perfeito de como as coisas poderiam se resolver. O problema era que ele não sabia que eu precisava que outra pessoa puxasse o gatilho pra mim, porque eu sozinho nunca conseguiria fazer aquilo... comecei a entender como o Vicente se sentia.

— Onde você vai? — Ouvi sua voz da porta da cozinha.

Queria que ele não tivesse percebido até eu passar pela porta.

— Dar uma volta. — Meu olho esquerdo ainda estava dolorido, assim como algumas partes do corpo que eu não sabia especificar porque essas dores pareciam se alastrar por todo o canto.

Gustavo estava pegando no meu pé, mantendo aqueles olhos piedosos e tristes toda vez que não sabia como chegar perto de mim. Estava ficando com raiva daquilo.

— Você não tá levando isso a sério.

Bati a porta com força ao perceber que não conseguiria sair dali.

—O que você quer que eu faça? — Elevei o tom de voz.

— Qualquer coisa que não seja sobre desistir assim! — Revidou com um sentimento de revolta.

Eu ri.

— Acho que não tenho muitas opções.

Passei a língua pelo lado interno do lábio inferior machucado.

Gustavo não revidou porque sabia daquilo, mas não queria aceitar.

Era difícil acreditar como ele sempre se colocava nesse lugar de suportar todas as dores do mundo e dos outros só para não ficar sozinho. O seu desejo estúpido em lutar pela minha vida era tão egoísta quanto tudo o que sentia por mim.

— Você realmente não tá se importando com isso? — Dei de ombros sem conseguir me afetar pela maneira doída com a qual me olhava enquanto diminuía a distância entre nós dois. — Mesmo?

— Gustavo, corta essa...

— Por que? Me explica o porquê de depois de todo esse tempo você se tornar um tremendo babaca? — Empurrou meus ombros ao chegar perto demais.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora