CAPÍTULO 16

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Todas as vezes que dava banho no Seu Venceslau, colocava Cartola pra tocar no celular

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Todas as vezes que dava banho no Seu Venceslau, colocava Cartola pra tocar no celular. O som ecoava no banheiro e ficávamos nós dois cantarolando, enquanto o sambista, cria da Mangueira, cantava verso por verso. O homem vez ou outra lembrava de alguma coisa muito distante de tudo o que estava ali entre eu e ele. Por mais silencioso que fosse da sua parte, os olhos ainda prestavam bastante atenção nas cartas que colocava durante o jogo com o Seu Antunes e reclamava da comida, da Tina que dava vacina nele e detestava os exercícios de manhã.

Era um saco e eu não forçaria ele a entrar nessa contra a sua vontade. Aí ficávamos os dois olhando de longe, aqueles idosos todos levantando e abaixando os braços, movimentando o corpo e suando em dez minutos de exercício físico. Era engraçado e ver ele rindo era melhor ainda.

Akin me ligou de novo. Por dias seguidos o moleque ficava quase uma hora comigo no telefone, falando sobre as coisas mais doidas e incompreensíveis pra mim. Não estava acostumado com aquilo, mas era tão bom. Meu filho falava comigo como se eu fosse o melhor amigo dele, e porra, aquilo não tinha preço.

Você acredita nisso? Foram vinte pontos à mais do que eu. Aí eu perdi, fiquei tristão. — Achei graça, mas ele falava sério. — Não é pra rir, eu lutei muito pra chegar naquele nível.

— Eu sei, é coisa séria.. — O tempo havia melhorado e no fim daquela tarde estava todo mundo pegando um fresquinho na área externa da casa.

A mainha me falou que mês que vem me leva pro Rio. A gente vai de avião.

Fiquei nervoso só em imaginar em ter ele ali, tão perto.

— Tá com medo?

Oxente, lógico que não. Eu não tenho medo. Você tem?

— Muito.

Do que que você tem mais medo? — Demorei pra ter uma resposta, mesmo tendo todas as palavras comigo.

— Do que você tem mais medo?

Oxê, eu perguntei primeiro.

Eu ri.

— Ainda tô pensando, você podia me ajudar.

Fez um som com a língua.

Deixa eu ver. — Ficou em silêncio por um tempo. — Tá. Eu tenho muito medo do mar.

Tive uma sensação estranha no estômago.

— Do mar? Por que?

Ele é grande demais, não tem onde se segurar e eu não sei nadar.

Tinha um misto estranho de sentimentos em mim.

O mar para mim era liberdade e pro meu filho era sinônimo de ser engolido.

As águas salgadas cresceram no meu peito.

— Então você tem medo de se afogar, não do mar.

Não falou nada por um tempinho.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora