CAPÍTULO 15

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— Não sei como não tá caindo um temporal agora

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— Não sei como não tá caindo um temporal agora.

Luena era uma pessoa bem espirituosa.

O Sol mais uma vez estava lindo demais no horizonte sem amarras da praia do Flamengo.

— Cuidado com o que você deseja.

Ela riu sentada ao meu lado sobre a canga.

— Olha esse céu, duvido que uma palavra minha traga nuvens carregadas pra cá.

Observei ela de perfil. No seu braço, sobre a extensão da pele retinta, Luena tinha ossos de costela tatuados com flores que sufocavam lá dentro, buscando espaço através dos pequenos galhos que saíam para fora. Olhar aquilo era angustiante e uma das vezes que perguntei, ela disse que era sobre lembrar de respirar apesar de todas as amarras.

Era isso que a gente estava fazendo naquele Domingo. Já haviam se passado duas semanas desde que o Fabrício apareceu lá no prédio e até o momento estava tentando entender o motivo de ter apagado o número dele. Inácio não queria falar mais sobre aquilo, mas o pouco que havia dito pra mim naquele dia foi suficiente para saber que família não deveria ser tão enaltecida socialmente.

A dele o rejeitava, a minha desapareceu da minha vida, a da Amália era a culpada pelos seus traumas na adolescência, a do Vicente abandonou ele em algum canto quando era um bebê... Isso estava cada vez mais vivo na minha cabeça porque o fim de ano estava chegando. Dezembro era na próxima semana e eu tinha medo da noite de Natal. Fazia décadas que aquela noite não tinha um sentido pra mim. Foi minando e apesar das vezes que comi alguma besteira ao lado de Amália e Vicente em um barraco minúsculo, foi apenas um momento pequeno demais perante todos os outros caóticos que definiam aquela noite como a pior para pessoas solitárias como eu.

— Já pensou onde vai passar o fim de ano?

Luena fez aquela mesma pergunta há três dias atrás quando assistimos uma daquelas cenas de Natal em uma série.

Ainda não tinha resposta.

— Você já?

Ela sorriu ao perceber que eu fugia do assunto.

— Talvez vá para a casa da minha mãe em Caxias, mas não tenho certeza. Ano passado eu e meu irmão discutimos feio. — Voltei a encarar o oceano. — Não tô a fim de brigar com ele de novo.

Não tinha conselhos para dar pra ela.

— Então não vai.

Desviei os olhos para o seu rosto.

— Mas sinto falta dela.

Seu tom acastanhado encontrou o meu.

— Então vai.

Ela sorriu.

— Nem tudo é só uma coisa ou outra, né?

Não tive reação, nem sabia o que dizer para ela.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora