CAPÍTULO 09

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Eu não tinha planos

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Eu não tinha planos. Sabe aquela maneira singular que os dias passam? Era como eu costumava viver. Não servia para ter projetos a longo prazo, porque sempre tive essa noção de que tudo poderia terminar no próximo segundo. Talvez em casa, na rua, sem eu menos esperar, então de que servia perder tempo com essas coisas? Era em vão, mas isso era diferente quando eu pensava no Akin. Ele era novo demais para não ter planos, nem sabia o que era viver de verdade.

Meu filho não deveria carregar o fardo de ser para mim um inibidor de sensações ruins. Só queria ser para ele um pai que o meu pai nunca foi pra mim, o ruim era que eu parecia pior do que o Haroldo.

O sofá no apartamento do Inácio ficou super desconfortável naquela noite e mais ainda quando vislumbrei ele, me observando com a cadeira estacionada próxima a poltrona do sofá naquela manhã de Domingo. Quando abri os olhos totalmente, ele se distraiu com o livro grosso entre as mãos.

Afastei o lençol e desviei os olhos para a janela atrás do sofá. Dava para ver uma parte do céu azulzinho. Aquele era o Rio, preso em maravilhas e desastres.

— Que horas tem? — Demorou para me responder.

Inácio nem sabia disfarçar a sua dificuldade de se encontrar em uma leitura que ele mesmo não estava prestando atenção.

— Ei!

Suspirou.

— Nove e pouca. — Nem olhou pra mim.

Levantei e ajeitei a samba canção em meu corpo ao contornar o sofá até a janela fechada. Sem perguntar se podia abrir, arreganhei as vidraças sentindo aquela brisa gostosa contra o meu rosto. A quantidade imensa de prédios no Centro conseguia deixar aquela região bem mais fresca do que a maioria dos bairros do Rio. O tempo estava bonito demais.

Apoiei a lateral do corpo na janela e passei os dedos pelo abdômen à mostra.

— Bora na praia. — Sugeri ao voltar os olhos para Inácio, que me analisava em silêncio. Achei graça daquilo.

— Não. — Pareceu inquieto com a própria atitude.

— Ah! Qual foi? Olha esse tempo, tá perfeito pra ir.

— Vai sozinho. — Voltou a ler o livro, ou a fingir que lia o livro.

— A leitura tá boa aí? — Caçoei. Ele não respondeu. — Quem diria que ele sabe ler coisas interessantes.

Suspirou sem me dar a menor bola.

Olhei pela janela e lá de cima, em meio aos galhos da árvore na frente do prédio, observei algumas pessoas com guarda-Sol, cadeira, cooler. Dava para ir andando até a Praia do Flamengo de boa.

— Olha, o Ives já consertou o elevador e dá pra chegar no Flamengo rapidinho. — Voltei o olhar para ele, que parecia realmente concentrado naquela quantidade imensa de letras nos papéis intermináveis. — Ouviu?

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora