Tobias é ex-presidiário e dependente químico que tenta retomar a vida no mesmo ritmo que o mundo retorna de uma pós pandemia. Através de reencontros, deseja refazer os laços com o filho e zelar pela vida de pessoas que um dia ajudaram ele, mas isso...
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Não conseguia sentir qualquer coisa pelo Gustavo.
Aquilo me deixou triste porque eu gostava dele, gostava de estar com ele, de permanecer naquela casa e fingir que não existia mais nada fora dali. Eu realmente quis que não existisse mais nada para além de nós dois agarrados por incontáveis dias naquela cama, se beijando, transando e fingindo que os toques singelos, e a maneira amável com a qual ele me olhava era amor... mesmo não sendo, mesmo não tendo a capacidade de compreender aquilo.
O fato de ter desistido de ir às aulas aos Sábados e no meu eterno silêncio, Luena persistir nas mensagens, me fez querer que ela desistisse como a Sônia fez, mas Luena era feito o Sol, forçando espaço em tempos nublados.
— O pior é eu nem saber onde você tá.
Expeli a fumaça pelos lábios, observando o Beto, os rapazes e o Gustavo reunidos na varanda da casa no outro lado da rua. Alguns estavam sentados no murinho da entrada e outros de pé com a marmita na mão. Diferente da animação da meia dúzia de homens ao seu redor, Gustavo prestava atenção em mim sentado no meio fio.
— Fiquei doente... — Tossi.
— Parece que ainda tá.
Não respondi. Joguei as cinzas no chão, observando a trilha de formigas no canto do paralelepípedo.
— Fui numa roda de samba e senti falta da tua companhia.
Senti um incômodo no estômago.
— Até parece que você não tá em boa companhia.
Riu alto.
— Essa é a sua desculpa pra se afastar? — Soou divertida, mas estava falando sério.
Um silêncio estranho ficou entre a gente.
— Luena, — Suspirei. — eu não tava bem e... — Umedeci os lábios. — queria te ver. — A formiga carregava uma folha verde maior do que ela.
— Pena que os dias andam nublados. — Meu silêncio concordou com suas palavras. — A Talita vai embora Sábado, vamos num samba na Sexta. — Traguei o cigarro, voltando a olhar para a casa do outro lado. Gustavo não estava ali. — Assim você conhece ela e eu conheço o Gustavo. — Ela estava animada com aquilo.
Não queria que a relação que tinha com o Gustavo saísse da nossa bolha.
—A obra termina essa semana e a gente tá saindo tarde...
— Não tem problema. — Insistiu de maneira doce. — Pensei em ir na Prainha.
Não queria que fosse mais ninguém além de nós dois.
— Tá bom.
Mesmo assim eu aceitei.
Luena pediu para que eu não desaparecesse até lá e nos despedimos. Eu tinha que ajudar na obra e ela tinha que dar suas aulas EAD. Quis estar a distância de mim mesmo também, talvez assim conseguiria perceber coisas que não conseguia perceber nem se olhasse no espelho.