Quando a nova professora entrou na sala (que, honestamente, Aphelios não fez questão de lembrar-se de seu nome), tudo foi repetido novamente. Dessa vez, porém, Morgana não precisou abrir a boca e se pronunciar, uma vez que a sala toda apenas disse que ele era mudo. As piadinhas com a tal Sona, porém, vieram neste round também. Quanto tempo daria para que eles percebessem que isso não tinha graça? E, se já estava sendo assim para ele, imagine para Sona, seja lá quem ela fosse?
Seu corpo continuou ardendo de nervosismo por horas. Não via a hora de tudo aquilo acabar e ele poder voltar para casa e se trancar em seu quarto. O quarto de Aphelios era seu lugar de conforto e, geralmente, sair dele lhe dava muitas crises. Os ouvidos zumbiam e ele só pensava em desaparecer.
Quando o sinal tocou indicando o início do horário de almoço, Phel não pôde se sentir mais satisfeito. Morgana pegou em sua mão para, como combinado, levá-lo para um passeio pela instituição. Quando já estavam no corredor, porém, alguém parou Aphelios, pondo a mão pesada em seu ombro. O toque fez com que entrasse quase em pânico completo, a respiração acelerando ainda mais. Sentia que iria entrar em combustão. Ele se virou, com a mulher o acompanhando após sentir a parada repentina do rapaz.
Segurando o ombro de Aphelios, estava (quem ele acreditava ser) Sett. Seu rosto se contorcia em uma carranca que, estranhamente, deixava ele bonito. Lhe deu medo, talvez por ser um homem mais alto que ele, uma vez que o Lunari não era baixo – de maneira alguma, tinha 1,83. Estava mais que acima da média.
— Aí, ô, mudinho. — Sett proclamou. Com a voz dele, algo (provavelmente seus neurônios) tilintou dentro da cabeça de Aphelios, como se já tivesse ouvido essa voz antes. Os pelos se eriçaram.
— Ele tem nome, Sett. É Aphelios. — Morgana parecia brava, rangendo os dentes, agora também segurando o ombro de Phel. Com todos aqueles toques indesejados, ele sentia vontade de chorar e desaparecer. Sett (que realmente era seu nome) revirou os olhos.
— Tanto faz. Só vou avisar uma coisa pra você. — ele deu um aperto no ombro de Aphelios. — Não me importo com o que essa daí diz, tanto faz. Mas você, menino, se por algum motivo decidir agir que nem ela… — flexionou o bíceps, mostrando seus músculos. Naquele ponto, o homem de cabelos pretos queria enfiar a cabeça num buraco e chorar. Se sentia completamente intimidado. — Cê vai descobrir o porquê de me chamarem de Chefe. — Sett retirou a mão do ombro de Aphelios, que se sentiu mais tonto ainda. Será que iria apanhar agora? Não conseguiu fazer nada além de encarar o chão. — Se cuidem. Isso foi uma ameaça. — e saiu, deixando uma Morgana irritada e um Phel assustado para trás. Os estudantes que presenciaram a cena cochicharam entre si.
— Tá vendo que quis dizer com "as pessoas são vingativas e impuras"? — os olhos roxos dela brilhavam em raiva. — Vem, vou te mostrar a escola. Você quer comer algo primeiro? — embora estivesse com fome, ele apenas recusou com a cabeça. Não queria comer na frente de tantas pessoas. Na verdade, estava tão nervoso que sabia que a textura da comida não seria agradável e acabaria vomitando tudo. Nojento. — Tudo bem. — ela saiu andando na frente e Aphelios, em passos lentos, seguiu sua… Como poderia descrevê-la? Guia? Dupla? Amiga? Ele balançou a cabeça para si, em negação. "Amiga" era exagerado demais e, em sua concepção, ninguém além de Alune o merecia.
Morgana mostrou para ele a maioria dos locais. Durante o caminho, o rapaz se perguntava se sua dupla (que foi como decidiu chamá-la, uma vez que parecia mais adequado) também não estaria com fome. Em silêncio, porém, decidiu que não iria perguntar nada. Não queria ser inconveniente.
Quando o sinal tocou, os dois estavam no terraço, conversando em linguagem de sinais para que as poucas pessoas ali presentes não entendessem o que conversavam. Embora a mulher errasse alguns sinais vez ou outra, Aphelios sempre a ajudava a corrigir. Aquele tipo de comportamento lembrava-lhe sua infância, quando Alune trouxe sua "solução infalível para os problemas do Phelzinho da Alu" e, muito embora quisesse evitar demonstrar expressões, não conseguiu deixar de sorrir.
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Limiar da Noite [SettPhel]
FanfictionViver parecia um inferno. Convivendo com a sua própria infelicidade, Aphelios não sabe viver e não sente vontade de existir. Em sua mente, a felicidade não viria a ele de forma alguma. "A felicidade nunca poderia estar atada com as coisas materiais...