25. Leão

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sou fato ou hipótese, sou rei, cigano ou nômadeeeee
desculpe esse meu jeito soberano, mas hoje é por você que eu canto

boa leitura <3

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"Sentimentos" são uma coisa muito complicada.

Aphelios se encarou no espelho com uma expressão nada além de triste e suspirou fundo, passando a mão nos olhos molhados.

Não importava quanto tempo passasse, ele, de forma alguma, iria compreender o que é sentir as coisas.

Para aquele targoniano, tudo tinha que ser intenso. Se não fosse intenso, deveria ser fraco. Não havia um intermediário entre isso, então, inconscientemente, acabava sempre sendo intenso demais.

Mas Aphelios não sabe o que é sentir paixão. Ele não sabe sentir amor por ninguém mais que não seja Alune.

Isso o deixava melancolicamente confuso.

Sabia que era tão feio que doía, então sentir a tristeza da feiura era comum e, para ele, aceitável. Sabia que sua irmã era incrível demais, então sentir que a amava era algo que ele entendia. Sabia que não era bom em matemática, então sentir a frustração disso era aceitável.

Só que todo o ideal de "se apaixonar" ainda era uma ideia muito nova na sua cabeça.

Sett era um homem que, na maioria das vezes, era bom. Ele fazia o coração de Aphelios descompassar a cada toque e a sensação de línguas se tocando, que outrora achava tão desagradável, parecer melhor. E ele não achava aceitável sentir isso.

Sett fazia com que Aphelios quisesse tentar ser algo melhor. Fazia com que ele quisesse tentar tomar banho todos os dias, com que ele quisesse escovar os dentes, com que ele quisesse ser tocado, com que ele quisesse falar.

Phel, em negação, lutou muito tempo contra tudo isso.

Ele era apenas um retardado nojento, indigno de amor, compaixão ou piedade. Aphelios era um viadinho que não merecia paixão ou empatia.

Sofrer. Sofrer e sofrer e sofrer e sofrer. Viver era um inferno, e isso era tudo o que sabia.

Mexeu duas ou três vezes no cabelo, colorido de um vermelho forte com as pontas roxas, que foi a parte em que Alune não conseguiu tirar.

Sempre que olhava para sua irmã gêmea, o rapaz suspirava fundo. A mulher era extrovertida, bonita, interessante, inteligente. Não era nada com Aphelios. Ele queria ser que nem ela – sempre quis.

Na sua tola ingenuidade infantil, ir para um "convento para meninas" parecia melhor do que sentar e ser escarificado por horas.

Ela era educada, falante, engraçada e amada, enquanto ele, que teve seu diagnóstico muito mais cedo que Alune, era excluído, quieto, sério.

Foi por conta disso que Aphelios sofreu as punições.

Sem ter para onde correr, agarrou-se a pornografia. Criou um fascínio quase incompreensível, e sempre vivia assistindo.

Sem falar pessoalmente, também descontou tudo na Internet. Seu humor consistia em piadas envolvendo falos e vaginas e, para ele, era perfeitamente aceitável.

Porém não para seus pais, que pegaram seu telefone uma vez e viram todo o histórico nas redes sociais.

Muito traumatizado pelo o que aconteceu naquele dia (que não te interessa, obrigado), sua única lembrança, fora dos pequenos gatilhos, era uma cicatriz de escarificação em formato de lua cheia perto de seu peito esquerdo. Foi a partir daí que começou a odiar máquinas de pirografia.

Limiar da Noite [SettPhel]Onde histórias criam vida. Descubra agora