36. Last words of a shooting star.

278 25 133
                                    

olá!

nos encontramos uma última vez e eu peço desculpas pela demora. estive em uma crise depressiva ruim.

boa leitura!

*

A boca de Aphelios se entreabriu e ele ficou ali, surpreso, parado, apenas pensando sobre ser amado.

Além de sua irmã, ninguém nunca disse que o amava.

Nos dezessete anos de vida que passou com seus pais, ele nunca tinha ouvido um "te amo" sequer vindo deles, mesmo que se esforçasse muito quando fazia cartinhas e os entregava, tentando agradá-los. Eventualmente, ele as encontraria picotadas e jogadas no lixo da cozinha, onde todos podiam ver, então todo o seu esforço e zelo havia sido jogado fora.

Seus dedos rodopiaram os bíceps de Settrigh, sentindo cada veia que passava por ali.

— Eu também acho que te amo. — sussurrou, extremamente baixo.

Os corpos se encontraram novamente, e Aphelios soube que estava no lugar certo.


A turbulência de estar vivo jamais seria explicada ou justificada.

Quando as semanas se passaram e Aphelios não melhorou em nada, ainda se sentindo tão sujo e impuro quanto sempre, ele quis chorar.

Ser amado. Isso ainda o atordoava.

Aphelios era amado. Ele era amado por alguém que não foi criado para isso. Que não foi criado para apreciá-lo. Que não viveu junto de si sua vida inteira. Que não gostava apenas pela comorbidade.

Ele era amado. Amado por Settrigh, seu namorado.

Quando a lâmina voltou ao ar e o sangue subiu para a superfície, tão vermelho e aguado, chorou mais. Chorou mais, mais e mais.

Suas mãos ensanguentadas passaram pelo rosto, deixando um rastro rubro abaixo dos olhos quando limpou as lágrimas.

Phel é incapaz de entender como alguém poderia realmente amá-lo, como era capaz de apreciar sua presença, sendo que ele é assim, tão patético e fraco.

No que deveria ser a décima oitava vez que a navalha tocava sua pele, nada ardeu mais. Suas lágrimas pingavam naquele vermelho característico por causa da mancha no rosto, e ele novamente estava patético.

Morder o lábio para retardar a vontade de chorar não adiantou de nada, apenas o machucou mais quando o líquido metálico encontrou sua língua. Mesmo desagradado, lambeu. A cara feia que fez, reagindo àquele sabor horroroso, foi inevitável.

Na vigésima quinta vez, ele caiu de joelhos no chão, agarrando o cabelo colorido e gritando de raiva, dor e frustração. Simplesmente porque podia, então o fez.

Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que?

Por que ele é tão miserável? Por que ele não consegue se sentir feliz? Por que ele não consegue se sentir bem?

Ele é amado, tem um namorado incrível, uma irmã que o apoia e duas figuras maternas que o amam.

Mas ele não tem a felicidade.

Aphelios não tem a capacidade de amar.

O próximo grito foi um urro depressivo. Algo como dor.

No final de tudo, Aphelios sempre quis morrer, pois nunca quis existir, em primeiro lugar.

*

Foi no meio do expediente de Sett que uma mensagem apressada e mal escrita chegou, vinda de Alune.

Limiar da Noite [SettPhel]Onde histórias criam vida. Descubra agora