20. Tudo que eu sempre sonhei

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minha desculpa é: fiz bolo e fiquei o dia fora de casa

aliás, boa parte desse capítulo é pulável. Caso deseje pular, vá para o "*" :)

boa leitura

*

— Está me escutando bem, Aphelios? — Soraka pergunta, a voz um pouco travada no microfone. De qualquer forma, ele assente com a cabeça, esperando que ela captasse os movimentos do outro lado.

Ela estava usando um blazer branco que descia pelos seus ombros como se fosse feito sob medida. A blusa azul-marinho fazia um contraste bonito. Os cabelos loiros estavam amarrados em um coque e, devido ao tamanho da câmera, não era possível ver uma parte do chifre.

"Desculpe por tomar seu tempo.", sinalizou.

— É meu trabalho, não está tomando meu tempo. Além disso, consigo ver que está bem abatido. — seu tom de voz exibia preocupação. — Aphelios, como já faz muito tempo que não temos uma sessão, vou te informar novamente. — ela cruzou as mãos. — Caso você exiba perigo a sua própria vida, como pensamentos suicidas e automutilação, eu vou ter que avisar sua irmã para que ela tome algumas medidas, tudo bem?

Aphelios se remexeu na cadeira, desconfortável com a fala. Odiava essa parte, se sentia exposto.

"Isto é realmente necessário?", indagou, fazendo uma expressão triste.

Soraka coçou a cabeça e fungou antes de responder.

— Infelizmente, Aphelios, faz parte do nosso código de conduta ética. Se eu pudesse, só diria caso você realmente estivesse ameaçando sua própria vida... — ela mexeu em uma mecha solta do cabelo.

Phel abaixou a cabeça por alguns segundos, pensando no que diria a seguir.

"Muita coisa aconteceu.", gesticulou lentamente, apreensivo, "Soraka, eu sou gay.", admitiu.

Ela endireitou a postura e estalou o pescoço.

— Ser gay te faz sentir-se mal?

"Não.", mais um longo suspiro, "O problema é que sempre acho que serei hostilizado por isso.".

— Por quê?

"Como a senhora bem sabe...", ele começou a sinalizar, mas ela o cortou.

— Pode me chamar por "você" ou "Soraka" mesmo, não tem problema. — pediu, dando um sorriso gentil.

"Tudo bem.", fungou, "Como você bem sabe, o ambiente em que cresci nunca foi muito bom, nem para mim e nem para Alune. As pessoas eram – não, elas são muito homofóbicas por lá. Ouvi coisas horríveis sobre os homens e, quando percebi que eu não gostava de mulheres, passei anos me sentindo horrível.", tirou tudo do peito, vendo a mulher em silêncio quando ele parou para respirar um pouco, "Alune ficou doente e eu passei anos achando que a culpa era minha por ser um viadinho nojento, então escondi. Mas algo aconteceu recentemente e eu contei para ela.".

Soraka mexe novamente nas madeixas, levando a mecha solta para trás da orelha.

— E o que houve?

"Tem esse garoto na minha sala. Ele estava aqui quando você veio junto a Atreus para contar as... 'notícias', mas não sei se chegou a vê-lo.", coçou a parte de trás da cabeça.

A mulher bebericou um pouco de água.

— Nós jantamos e tomamos café juntos esse dia. O nome dele é Sett, não é?

"Ah, não lembrava disso, perdão.", engoliu seco, "Sim, o nome dele é Sett. Alguns dias antes disso, ele tinha vindo aqui e descobriu que eu não sou mudo."

Limiar da Noite [SettPhel]Onde histórias criam vida. Descubra agora