23. All falls down

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— Se precisar de alguma coisa, me manda mensagem. — Sett se despede, entregando o guarda-chuva amarelo nas mãos de Aphelios.

— Boa noite. — diz, em resposta.

Antes de abrir a porta do carro e correr como um louco para dentro de sua propriedade, ele puxa o ruivo para um último beijo, terminando com um selinho estalado extremamente alto.

Aphelios corre para fora, batendo a porta do carro com uma força maior do que gostaria e se sentindo culpado por isso.

O aroma petricor invadiu-lhe as narinas, enquanto os respingos de chuva molhavam sua calça e o sapato, deixando aquela sensação de molhado em sua meia. Lembrete pessoal: lavar seu tênis depois.

Quando chegou ao batente da porta, finalmente sendo coberto pela varanda, fechou o guarda-chuva, abriu a porta e, antes de entrar, retirou do pé o Yeezy para não sujar o chão. Diana passaria dias reclamando caso isso acontecesse.

O primeiro sinal de que o horário em que ele ficou fora foi grande demais foi que todas as luzes estavam apagadas. Isso significava que sua família estava dormindo.

Engolindo seco, ele fechou a porta e caminhou cuidadosamente pelo escuro, incapaz de pegar o celular no momento. O único barulho que ele escutava era o dos próprios passos com as meias molhadas que faziam um barulho engraçado contra o mármore.

Passando pela sala, ele pôde jurar ter visto um vulto passando atrás do sofá. Seu coração acelerou e Aphelios igualmente agilizou seus passos. Se ignorasse, então não havia visto nada. Podia pensar que aquilo desapareceu.

Quando colocou o primeiro pé na escada, contudo, algo encostou em seu pulo. Seu peito subia e descia loucamente e ele começou a tremer e suar frio. Suas orelhas zumbiram, sendo quase impossível identificar os sons.

— Aphelios. — a voz feminina ecoou pela sala. — Você chegou tarde. — Tenso, ele olhou para o lado, apenas para ver Alune.

Todas as sensações cessaram, mas ainda estava com a respiração e o coração acelerados. Não esperava que sua irmã fosse ficar acordada até tarde esperando por ele; geralmente, era Phel quem ficava a aguardando.

— Me assustou. — o de cabelos azuis murmurou, a mão livre sendo colocada sobre o peitoral.

— Vamos para o seu quarto. — Alune pediu. — Eu quero conversar.


No pequeno cômodo, era mais fácil perceber como ela cheirava engraçado. Na verdade, era o cheiro de acetaldeído [1] que trazia aquela sensação.

Era como o aroma de seu pai, Kalliope, parecia em dias de sexta-feira à noite, quando ele chegava muito mais tarde do que deveria. Era como ele cheirava quando se sentava na cama de Aphelios e chorava, reclamando da vida. Era o odor que ele sentia quando seu pai o abraçava antes de sair do quarto e lhe dizia que o amava. Era com esse cheiro que as memórias de seu pai pareciam – e era com ele que elas iriam perecer.

— Como foi sua noite? — Alune indagou, sentada na ponta da cama.

A voz torpe e fedida era algo que não podia negar suas ações. Se fora por conta própria ou junto de Leona e Diana, isso já não poderia dizer. Era eflúvio, mas estava ali – e Aphelios não iria ignorar aqui.

— Por que bebeu? — indaga, sem muita enrolação.

A mulher de cabelos azuis suspira, jogando uma mecha para trás da orelha antes de encará-lo.

— Me chateei porque pensei que estava chateado comigo.

— Não estava.

— Mas eu achei que sim. — ela virou o rosto e fungou.

Limiar da Noite [SettPhel]Onde histórias criam vida. Descubra agora