O Vôo dos Pássaros Nortenhos [PARTE I]

Prólogo

Valentina sabia que aquele Reino iria cair.

   Ela sabia que era só uma questão de tempo para que ele fosse desolado. Pressentia isso. Via isso nos sonhos e visões. Era exatamente o que fazia uma bruxinha coruja ser tão especial, e definitivamente essencial em um lugar governado por tiranos.

   Valentina vivia ali por muitos anos, mas bem longe da realeza, afastada, em seu próprio "mundinho transcendente". Não estaria, e nem tampouco desejaria estar, entre aqueles poderosos quando o reino se tornasse apenas um montão de ruínas. "Este é apenas o começo do final de uma bela história que teve um belo início, mas com um fim tão trágico. Mas nada que não estivesse tudo nos Planos Universais da natureza.", pensou a coruja.

* * *

   Esse reino era governado por um pássaro ditador: o galo-de-campina. Ou ao menos, assim pensavam os súditos.

   O Palácio Real era uma maravilha arquitetônica que rivalizava com qualquer palácio dos Gigantes que andam sobre duas pernas, já construído. Localizado no topo de uma colina elevada, cercado por jardins exuberantes e florescendo com uma variedade de flores e árvores tropicais, o palácio era um verdadeiro testemunho da grandeza da civilização avícola.

   O edifício principal era alto e esbelto, com várias torres, cúpulas e abóbadas em forma de penas que pareciam flutuar no ar. Era um palácio em rocha natural, esculpido e aperfeiçoado pelos construtores joões-de-barro, há algumas centenas de anos.

   O exterior era adornado com mosaicos coloridos de pedras preciosas, retratando cenas da história dos pássaros e da sua cultura. Paredes maciças de pedra opalina deixavam passar a luz do sol brilhante durante o dia, enquanto lanternas mágicas de cristal de rocha iluminavam o palácio à noite, criando um ambiente celestial.

   Ao entrar no grande salão principal, os visitantes — que, a propósito, a tempos não eram encontrados ali — eram recebidos por uma visão espetacular: um grande lustre de plumas brilhantes cintilava acima, e colunas de madeira esculpidas com motivos florais sustentavam a abóbada. A mobília era feita de madeira finamente trabalhada e forrada com penas macias para garantir o máximo conforto. Ao lado da sala principal, uma galeria levava ao pátio que dava acesso à Torre Central que abrigava os aposentos privados do rei.

   O jardim interno era como algo saído de um conto de fadas — um exuberante tapete de grama macia era salpicado com fontes de água, flores florescentes, arbustos de frutas, e pequenas esculturas avícolas em madeira. No centro do jardim, havia um lago cristalino, onde peixes coloridos saltavam sobre lírios d'água flutuantes. As árvores frutíferas cercavam o jardim e forneciam frutas frescas para o abastecimento dos cortesãos.

   O palácio era cercado por uma extensa propriedade, com jardins adicionais, lagoas, campos de cultivo e prados amplos, tudo cercado por um grande portão de pedra enredado com trepadeiras floridas. A torre de vigia no alto do palácio oferecia uma vista deslumbrante do horizonte, com as asas de vários pássaros de guarda esvoaçando ao redor; esta era a Torre do Rei.

   O Palácio Real do Reino dos Pássaros era um testemunho da beleza, da elegância e da vida maravilhosa que pode ser vivida quando se tem asas. Era também um símbolo de poder e grandeza e serve como um lembrete da importância da cultura e da história em suas vidas.

   No Reino dos Pássaros do Norte, a nobreza patrícia era composta, em sua grande maioria, pelos cardeais-do-nordeste, que eram considerados os pássaros mais belos e estonteantes que já foram vistos.

   A eleição dos reis era feita pelo Conselho Secular dos Pássaros, composto por 24 cardeais, e o periquito Joseph, a mente estrategista do reino. Quando um rei ficava velho ou incapacitado, o Conselho elegia um novo soberano que governaria o reino com sabedoria e beleza.