A queda e a busca por sobrevivência

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Jouie fora largado ali, no solo arenoso da Mata Sul, próximo a um pequeno córrego que cantarolava sobre as pedras lisas que estendiam-se ao longo de toda a correnteza.

- Beba. - ordenou Muri, examinando ligeiramente o lugar. Não havia ninguém. Este bebeu alguns goles. A água escorreu pelo bico e respingou as penas amarelas do peito.

Jouie provou a água; refrescante e saborosa, pensou ele. Sua mãe nunca levara água para o ninho, se é que poderia. Era a primeira vez que a experimentava.

Sentindo-se agora mais revigorado, o corpo um pouco mais aliviado da queda do ninho, olhou levemente para cima. Uma majestosa árvore de caule branco erguia-se à sua frente, com galhos grossos bem distribuídos e sua altíssima copa que se elevava até o céu; bem, na verdade, não era assim tão alta para um pássaro adulto com asas fortes, mas para um filhote quase recém-nascido, era outra história.

- Esta é minha casa. - declarou o canário-do-mato, admirando a árvore. - É uma catingueira velha, e pertence à nossa Família por seis gerações. Já fora habitada, provavelmente, por outras espécies antes de nós. É um bom lar para qualquer pássaro nesta região de esquecidos. - aquilo saiu em tom de escárnio, embora Jouie não tivesse compreendido. - Não somos incomodados aqui; somos ótimos guerreiros.

- Vejam! Ele já chegou! - exclamou uma voz acima de suas cabeças. Três jovens canários-do-mato desceram da árvore ao encontro de Muri.

- Ah, aí estão vocês! - exclamou Muri. - Onde está sua mãe, Baik? - Muri dirigiu-se à um deles.

- Está lá em cima, com os recém-nascidos. - falou o maior dos três, o que havia falado acima. - Ela disse que um se chamará Lurm e o outro Yist.

- Excelentes nomes! - exclamou Muri. - Espero que ela não os mime tanto quanto mimou vocês. - Virou-se para Jouie. - Deixe lhe apresentar meus filhos. Este é meu primogênito, Baik. - este tinha um certo ar petulante. - O outro é Rarg; nasceu no mesmo dia que Baik. - Rarg tinha quase o mesmo tamanho que Baik, só algumas penas de diferença. O tom do amarelo do mais velho era mais intenso. - E eis o mais novo: Bek. - Jouie gostara imediatamente de Bek, mesmo sem saber por quê. Ele era bem menor que os outros, ainda com penas a nascer no peito e nas costas. A tonalidade do amarelo era bem mais pálida.

- Mas o que diabos é isto, pai? - perguntou Baik, o mais velho, em tom de escárnio, olhando para Jouie.

- É um filhote de azulão, não está vendo? Caiu do ninho, o pobrezinho. - dava para se ver que o pai dos canários sentia muita dó de Jouie.

- Nunca pensei que um azulão filhote fosse tão feio! E o senhor o trouxe para cá? - retrucou Baik. - A mãe não irá gostar nada disso.

E você também não gostou, pelo que vejo, pensou Jouie. Mas o pássaro tinha todo o direito de reclamar; afinal, estava em sua casa e no entanto, Jouie não passava de um intruso ali.

- Ah, Baik! Onde será que está o senso de misericórdia e compaixão desse moleque? - Muri perguntou a si mesmo. - Será que o Criador de Todas as Aves não nos recompensará? Será que não nos abençoará por esse gesto de caridade?

Baik estava claramente envergonhado com a repreensão. Bek riu dele. Rarg fechara-se e fora para cima.

- Vamos todos para cima. - Muri ordenou.

Jouie já estava começando a acostumar-se com as garras de Muri em sua pele sensível. Ele o agarrou pelas pequenas asas novamente e o levou para um dos galhos mais altos da catingueira, onde a mãe dos canários estava em seu ninho, alimentando os filhotes. Jouie não gostava nem um pouco de ser carregado, mas era isso ou ser deixado para morrer no chão da floresta. Baik acompanhou-os, assim como Bek. Este voava um pouco atrapalhado, como se ainda estivesse a aprender a arte do vôo; e realmente estava aprendendo, confessara Muri depois. Jouie começou a pensar quando fosse ele a aprender, se iria conseguir. Era o que mais queria.

O Vôo dos Pássaros Nortenhos [PARTE I]Onde histórias criam vida. Descubra agora