Ritual de Renascimento

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Wilhelm estava ainda inconsciente. Ele repousava em um ninho espaçoso e confortável, feito de penas, galhos secos e plumas de diversas cores e tamanhos, colocado cuidadosamente dentro do oco daquele carvalho.

   Valentina estava ao seu lado, ansiosamente esperando pelos ingredientes solicitados para a conclusão do ritual de cura. O pardal Vento Viajante estava próximo a eles.

   Asas bateram lá fora. Os dois outros pardais que haviam saído estavam retornando, provavelmente.

   Eles entraram, ofegantes e enérgicos, examinando cuidadosamente o buraco ao entrarem. Um deles, Raio de Sol, trazia um pouco de água em uma bolsa confeccionada com folhas de bananeira, que ele trazia em seus pés. O outro, Semente de Algodão, trazia em outra bolsa de folhas de bananeira, um punhado de terra. Ele depositou-o aos pés de Valentina.

   — Não despeje a água agora, Raio de Sol; segure-a no ar por alguns instantes.

   Assim ele fez.

   — Por que demorou tanto, Algodão? — perguntou Valentina. — Foi muito longe à procura da terra?

   — Não, senhora. — respondeu o outro. — Logo encontrei o que me pediu; só que fiquei esperando Raio de Sol voltar do rio para entrarmos juntos.

   — Foi sábio! — disse Valentina. — Não faria o ritual só com 3 ingredientes. São necessários os 4 elementos: Fogo, Água, Terra e Ar.

   — Espere um pouco, senhora! — disse Raio de Sol. — A senhora disse que precisa dos “quatro elementos”, mas eis aqui somente três deles. A lufada de Vento Viajante será o elemento ar; mas e o fogo?

   — Espere e verá, meu pequeno e corajoso passarinho! — Valentina se preparou para começar o ritual. Posicionou-se na frente de Wilhelm e invocou forças ancestrais, as forças da natureza. — Agora, vamos colocar o elemento Terra. — Sua expressão estava muito tranquila. Tomou o punhado de terra e o colocou sobre o papo do cardeal adormecido. Depois, fez um sinal para que Raio de Sol a entregasse a bolsa com a água; ele a entregou e Valentina, imediatamente, despejou a água sobre o punhado de terra. — Agora, Vento Viajante!

   O pardal bateus suas asas fortemente quando a água caiu sobre o corpo de Wil; ao mesmo tempo, simultaneamente, Valentina abriu as asas e um clarão abrasador, de cor amarelado, surgiu no ambiente. Todos ficaram com muito medo, e viram que saía de um círculo de luz que fora gerado ao redor de Valentina.

   O contato entre os elementos gerou uma descarga elétrica, em forma de miniraio, que caiu sobre o peito do cardeal. No mesmo instante, Wil despertou. Estava completamente recuperado.

* * *

   Wil ajeitou-se no ninho e olhou em sua volta. Três pardais e uma coruja, que devia ser a "maga", a "sábia", olhavam para ele.

   Ele ergueu as asas, para alongá-las. Elas estavam duras e sem flexibilidade; fechou-as novamente e abriu-as de novo, como se estivesse se exercitando.

   — Feito. — disse um dos pardais. — E o jovem rei nos foi dado novamente. Quase o perdemos! Quase.

   — Não, meu caro Semente de Algodão! — disse Valentina. — Ele estava apenas cansado e um pouco ferido. Não era muito acostumado a apanhar tanto como apanhou. Vocês, caríssimos ilhéus da ilha Primeira, não conheciam a personalidade militar de John Brason; quando este está obcecado com um objetivo, ele não poupa esforços para atingi-lo com êxito. E isto sem falar em seus programas de treinamento como instrutor e treinador de aves. Este é um exemplo vivo disto que vos falo. Ora, viva, nobre Wilhelm! Como vossa futura majestade está?

O Vôo dos Pássaros Nortenhos [PARTE I]Onde histórias criam vida. Descubra agora