"Há alguém aqui!"

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Coração Valente acordou.

- Despertem! - disse ele.

Eles continuaram dormindo; estavam exaustos ainda, do dia anterior.

Todos os dias, pela manhã, Coração Valente, ao acordar, ia nos poleiros de cada rouxinol de seu bando - 6 no total - e os cutucava com seu bico. Como eram preguiçosos, demoravam um pouco para despertar e ficarem a postos de voar.

Porém, desta vez, Coração Valente se deparou com uma cena um tanto esquisita para a normalidade cotidiana; descendo devagar e cuidadosamente de seu galho no salgueiro, analisando cada centímetro daquele ambiente e virando sua pequenina cabeça para um lado e o outro, em busca de possíveis inimigos ocultos, ele desceu para o chão. As folhas secas e amarelas estavam reviradas no solo da mata, como se um bicho ou ave grande estivesse passado por ali. Ele foi até o mapa, rapidamente; ele ainda estava lá, intacto na árvore.

Voltou ao seu grupo de rouxinóis e voltou a chamá-los:

- Despertem! Isto não é um jogo!

Os seis rouxinóis despertaram, todos ao mesmo tempo, bruscamente.

- O que houve, senhor? - disse a rouxinol Valéria.

- O que houve? - perguntou Valdemar, o Valenteiro.

Viviane, a Valenteira, saltou logo do galho de salgueiro e pôs-se a voar. Foi para o galho onde Coração Valente estava. Vitor, o Valentão, era o mais calado; acordou e foi ao encontro de Valente. Depois veio Vanessa, e depois Vicente, o Valentino, braço direito de Coração Valente.

- Acho que alguém esteve aqui. - disse este.

- Sim, senhor! Sinto o cheiro de ave de rapina no ar. - disse Vicente. - Está espalhado em todo canto.

- Isso não é nada bom. - disse Valéria. - Se tiverem nos vigiado, temos um grande problema; o esconderijo está em perigo, assim como nossas vidas.

O sol finalmente mostrou sua face no leste.

- Mas, fico pensando... Por que não nos atacaram? - indagou Coração Valente. - Por que nos deixaram em paz?

- Talvez porque tenham algum respeito por quem esteja dormindo. - disse Vitor.

- Ou talvez porque nos acharam muito pequenos e tiveram pena de nós! - disse Valdemar.

- Normalmente - continuou Valente -, aves de rapina como essas que invadiram o Reino, não têm piedade de pobres pássaros como nós, por mais pequenos que sejam. E mais: há dias que voam por aí atrás de nós, pelo que ouço falar. Eles sabem quem somos nós.

- Mas não nos conhecem direito! - exclamou Vicente. - Não nos viram ainda pessoalmente.. pelo menos, não todos eles. São muitos, né?

- Pior que sim, Valentino. - disse Vitor. - Já lutamos contra eles na Batalha de Invasão das Águias. Estávamos do lado de alguns pardais, sanhaçus e canários; algumas sabiás-de-laranjeira estavam também entre nós, lembra? Podem não se lembrar de todos nós, mas sabem que os rouxinóis não têm uma fama muito boa pela floresta, principalmente rouxinóis guerreiros e rebeldes!

- É verdade. - disse Valente. - Mas, temos que encontrar outro esconderijo, agora. Que tal lá pelas bandas do norte, perto da toca deles? Eles sabem que vivemos no sul da floresta; sempre nos caçarão por aqui.

- É verdade. - disse Viviane. - Mas, não será muito arriscado, senhor, irmos para perto do Palácio? As águias têm excelente visão, e nos verão de longe. A menos que...

O Vôo dos Pássaros Nortenhos [PARTE I]Onde histórias criam vida. Descubra agora