Tempestade e resistência

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Sabe por que eles não te respondem?”, perguntara John a Wil. Ele, confuso como sempre, disse algo como: “Estão zangados porque você os obrigou a vir para esta terra perigosa com você.”

   Brason dissera: “Tem certeza? Agora, esta é uma ‘terra perigosa’? Mas, pensei que fosse a Ilha Primeira a terra perigosa… contaram muitas coisas estranhas para nós, jovem Bico-torto. Mas você deve confiar apenas em si mesmo, em suas próprias experiências e vivências, e não nos outros, entendeu?”

    O jovem cardeal-do-nordeste digerira aquilo lentamente e com um certo estranhamento. Suas ilusões se dissipavam aos poucos, Brason percebera.

   “Estas aves que vê aqui hoje neste acampamento entendem cada palavra que diz.” disse Brason. Wil ficara indignado. “Elas tem o hábito peculiar de dirigir a palavra apenas a quem confiam, não importando o que diga ou o que faça para elas. Achas que elas vieram para cá forçadas? Cada ave que tu vês decidiu, por livre e espontânea vontade, seguir-me a esta nossa terra desolada, mas nenhum deles sabia, nem tampouco eu, que estava assim desta forma. Cada um teve a escolha de ficar ou seguir-me, e não porque eu lhes impus algo, mas, acredite ou não, por pura amizade e afeto da parte deles por mim. Cada um deles, ouso dizer, tem mais coragem que todos os pássaros deste continente reunidos. Eles não conhecem o medo, e vivem uma vida autêntica, em cada dia dela.”

* * *

   Brason estava agora entocado na copa de uma mangueira, ao norte do Palácio Resplandecente, em um sítio chamado “Sítio Real” — e realmente estava bem próximo da majestosa estrutura rochosa.

   Depois de passarem por uma série de extensas cordilheiras ao sul do Sítio Canto Verde, onde ficava o acampamento, lá onde o restante do grupo de aves tinha ficado, Brason e algumas de suas melhores aves do bando, selecionadas por ele, haviam se esgueirado por detrás das montanhas até chegarem na copa daquela mangueira velha, onde ficava também uma cacimba com excelente água, debaixo de suas raízes. Chegaram cuidadosamente e silenciosamente, por sorte, sem serem detectados. Eles haviam vindo espionar, analisar o território, as rondas, os pontos fracos do inimigo, etc. John conhecia o famoso alcance da visão aquilina e não poderia arriscar muito; muitas coisas estavam em jogo naquela etapa.

   Era de tarde e, para sua surpresa, haviam pouquíssimas águias voando e rondando ao redor do Palácio.

   Estavam ali na mangueira John Brason, Florêncio, Penas Brancas, Cacá e vários outros da confiança desses centuriões e do próprio John Brason.

   — Velha Floresta Frutífera, onde sempre chamarei de lar! — lamentou Brason. — Tu estás tão triste e desolada, como nunca jamais vi! Ó, como merecestes tal resultado, velho lar! Por causa de teus governantes, caíste em desolação e foste castigada pelo Grande Senhor dos Pássaros e por todas as demais forças da natureza!

   — Sim, senhor. — disse Valentina, que apareceu ao seu lado sem ser notada. — E como foi! Eu que o diga.

   — Valentina! Não ordenei que ficasse no acampamento e cuidasse de Wilhelm?  — questionou Brason.

   — Sim, senhor. Mas tive que desobedecê-lo desta vez. Supus que o senhor precisaria de meus conselhos e auxílio aqui.

   — Se eu precisasse, não acha que eu a teria chamado?

   — Ora, senhor! Eu estou exatamente onde devo estar e onde a situação exige minha presença. Veja só! Vamos mudar de assunto. Que tal continuar a sua lamentação por este reino devastado?

O Vôo dos Pássaros Nortenhos [PARTE I]Onde histórias criam vida. Descubra agora