Dois reis na Praia

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Aquele cardeal-do-nordeste desvairado vinha na direção deles. Surgiu no Sul da Praia de Apiques com toda a coragem e intrepidez não tão natural de um dos conselheiros; então, definitivamente, não era nenhum deles, John pôde perceber.

Era um pássaro jovem, na flor da idade. Com certeza, não era um soldado; Brason sabia mais que ninguém que não existiam soldados solitários no Reino dos Pássaros; soldados cardeais só voavam em pelotões.

"É um espião! Mas, tão jovem... E belo..." pensou Brason. "Não. Não pode ser. É o cardeal-do-nordeste mais bonito que já vi em toda a minha vida! Isso me faz lembrar de mim nessa idade; tão belo! Com tanta energia! Quando abaixava-me para ver meu reflexo na Lagoa dos Patos; jamais houvera visto semelhante imagem desde aquela época."

- Cacimba Salgada! - chamou Brason. - Vá averiguar, quem quer que seja. Leve um bando pequeno contigo; não o machuquem muito. Tente uma abordagem que não o assuste; qualquer descuido poderá comprometer nossa posição e revelar nosso levante. Pode ser uma armadilha; verifiquem os arredores da praia.

Imediatamente, o atobá chamou 10 aves de sua centúria, a maioria, atobás-grandes, para garantir a eficácia do impedimento daquele jovem imprudente. Mas o que aquele tolo pensava estar fazendo, afinal?

O bando foi em direção ao oeste, como quem não quisessem nada. Então, voaram na direção Sul, para dar a volta, ir na direção do jovem cardeal, e finalmente, pegá-lo por trás.

John Brason viu de longe quando Cacimba se aproximou, sem ser notado, com seu grupo; ele lançou as patas em direção ao cardeal, agarrou-o pelas asas e o jogou na areia. Foi uma tremenda queda.

- Socorro! - queixou-se o jovem e belo cardeal. - Pare, quem quer que seja! Eu sou seu rei! Me largue!

Seria possível?! Como Brason não tinha pensado nisso antes? Estava na cara; belo daquele jeito, só podia ser o Rei Cardeal.

- A-ha! - exclamou Cacimba. - Então, temos dois reis por aqui?! Espere até ver o verdadeiro rei. - arrastou o cardeal na direção onde Brason estava, em um coqueiro da praia.

John desceu e pousou na areia branca. O exército o rodeava. Os que estavam nos coqueiros também desceram; todas as aves se encontravam sobre a areia.

- E eu que sempre achei que você seria o único cardeal-do-nordeste que eu veria na vida! - disse Cacimba, dirigindo a palavra a John. - Estou com uma sensação de que este é só o começo, e que veremos ainda mais. Afinal, estamos na terra de vocês. Isto é esplêndido!

Cacimba Salgada tinha um certo fascínio por cardeais-do-nordeste; John não sabia por quê.

- Sim, meu amigo. Isso é só o começo. - disse Brason. - Espere só até conhecer os outros... Garanto que se surpreenderá.

O jovem "Rei" encarava John Brason, surpreso e um pouco assustado.

- Então, Vossa Majestade - começou John -, você é o Rei dos pássaros! Suspeitei pela sua bela aparência. O que não consigo entender é por que está tão longe de casa. Deve haver uma explicação, não é mesmo?

Valentina chegou da caça. A coruja-orelhuda não estava tão surpresa em ver o jovem rei ali.

- Majestade - ela dirigiu-se a John -, este é Wilhelm, o novo rei depois do senhor; o senhor já deve saber.

- Sim. - disse Brason.

- Ele foge da morte, neste momento, conhecida por Invasão das águias-serranas. Várias aves do Reino fugiram para o sul, outras para o leste, outras para oeste. As que ficaram, uma parte foi morta, outra parte escravizada. - Valentina já lhe contara todo o ocorrido.

O Vôo dos Pássaros Nortenhos [PARTE I]Onde histórias criam vida. Descubra agora