Jouie estava encharcado; caíra em uma poça de água, numa cavidade do chão de pedra do interior da caverna. Os rouxinóis chamaram-na de depressão residual. Mas o que isso importava? Para que Jouie iria querer saber a definição de uma poça de água no chão de uma caverna? O que importava era que tinha caído, e estava doendo; ao entrar naquela escuridão, as rouxinóis Valéria, Vanessa e Viviane acompanhavam os dois filhotes, Bek e Jouie, para as profundezas daquela formação rochosa. Elas não viram a borda do precipício à frente. Jouie também não. Portanto, por imprudência mesmo, Jouie escorregou na beirada e escapuliu para baixo; a queda foi feia, salpicando água para todos os lados. Mas se não fosse a poça d'água, naquela detestável depressão residual, Jouie teria morrido, com certeza. Teria batido seu frágil tórax no chão de pedra, e consequentemente, não poderia sobreviver. Por isso, generosa poça d'água!
Ele saiu dali todo encharcado e com frio e se recompôs. Não podia voar, somente bater suas asas despenadas. As rouxinóis fêmeas voaram para o nível inferior, onde Jouie caíra, surpresas. Bek as acompanhou.
- Criança! - exclamou Valéria. - Assim, você se acaba! Venha, deixe-me te ajudar. - A rouxinol o agarrou pelas pequenas asas e o levantou, levando-o para um local seco.
- Bem, isso tinha que acontecer justo comigo! Não é incrível? - disse Jouie, em tom de deboche. Seu corpo agora ficara mais dolorido do que já estava. - Obrigado, Sra. Valéria. Obrigado também, Sra. Poça.
- Ora, não me chame de "senhora"; pode me chamar apenas de Valéria.
- Não vejo a hora de aprender a voar.
- Confesso que irá demorar um pouco, pequenino. Os azulões demoram cerca de um mês para começarem a voar. Sabe quantos dias faz que nasceu?
Pelo senso de tempo de Jouie, quando sua mãe desapareceu e Muri o resgatara, ele tinha 5 dias de vida; no sexto dia, as águias invadiram; aquele era o fim de seu sétimo dia de vida.
- Acho que sete. - disse ele.
- Então, talvez demore de 20 a 23 dias até que consiga voar. - disse Valéria.
Jouie entristeceu-se e baixou a cabeça.
- Por que todos vocês voam e eu não? - perguntou ele.
- Ora, dê tempo ao tempo, pequenino! - disse Viviane. - Ninguém nasce sabendo tudo. Vamos aprendendo as coisas aos pouquinhos.
Jouie ouvia os cantos de rouxinol que vinham lá de fora. Seriam Coração Valente e os outros rouxinóis machos do bando, negociando com as águias-serranas, ou desencaminhando-as. Na segunda opção, teriam que levá-las para bem longe e enganá-las da forma mais eficaz possível. Se Valente era eficaz, Jouie não sabia. O que sabia era que estava com muito medo.
- Não se preocupe, Jouie. - disse Bek, tentando consolar o amigo. - Você vai ver, logo logo você vai estar voando por aí, livre e feliz.
- É, mas até lá, eu vou ter que ficar aqui, nessa caverna escura e úmida, enquanto vocês se divertem lá fora. - resmungou Jouie.
— Ora, mas não iremos ficar aqui para sempre, creio eu; estou certo? — disse Bek.
- Não é bem assim, Jouie. - disse Vanessa. - Nós não estamos nos divertindo, estamos nos escondendo das águias-serranas. Elas são muito perigosas e querem nos devorar.
- E por que elas querem nos devorar? - perguntou Jouie.
- Porque elas são más, Jouie. - disse Viviane. - Elas não se importam com os outros animais, só pensam em si mesmas.
- Mas por que elas são más? - insistiu Jouie.
- Ah, Jouie, isso é uma longa história. - disse Valéria. - Talvez um dia nós te contemos, mas agora não é o momento.
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O Vôo dos Pássaros Nortenhos [PARTE I]
AventuraEsta é uma Saga Épica de Coragem e Mistério. Para admiradores de narrativas heróicas e o maravilhoso mundo das aves, "O Vôo dos Pássaros Nortenhos" oferece uma viagem inesquecível ao coração de um reino perdido. Liderados por John Brason, um conjunt...