Capítulo 10: let's go back to the start

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- Então, como tem se sentido?

Fazia pouco mais de uma semana desde que Enid estava na casa dos pais, e tinha que admitir, foram os dias mais tranquilos e fáceis que viveu desde o acidente. Por alguns dias, tentou livrar-se da ideia, e da pressão, de que tinha que trabalhar sua memória para lembrar-se dos 5 anos passados.

Estava apenas cansada demais de tentar e falhar, então decidiu que, nem que fosse somente pelos dias que antecedem o casamento de sua irmã, iria ocupar sua cabeça com outras preocupações. E de fato, os momentos com a família e as tarefas para a cerimônia eram as ocupações perfeitas que Enid poderia ter para se distrair.

- Me sinto ótima. - Agora, sentada de volta em um consultório com a Dra Shepherd à sua frente, lhe examinando, sentiu todo o nervosismo voltar a fluir por seu corpo, assim como havia sentido semanas antes, na última vez que esteve no hospital.

- É mesmo? Sem tonturas, desorientação ou sonolência?

- Nada. - respondeu simples e com um sorriso de lábios cerrados, apenas na tentativa de passar segurança no que afirmava para a médica.

- Ótimo. Bem, estou feliz em afirmar que a sua TC parece muito boa, é um alívio. Mas e quanto às suas memórias que foram afetadas, algum progresso? - A Shepherd perguntou, depois de fazer rápidas anotações da consulta no prontuário de Enid.

- Nenhum, na verdade. - A loira suspirou.

Não teve dificuldade em voltar para atividades comuns, como tarefas domésticas e pessoais. As dores de cabeça estavam cada vez menos frequentes, e apesar de tudo, não sofria com desorientação ao sair de casa. Enid estava bem, seu prognóstico, em sua maior parte, era animador. Não totalmente, pois isso não poderia ser dito quanto à sua memória, que não sofreu progresso nenhum.

- Isso não é normal, né? Eu ainda não conseguir lembrar de nada? - Insegurança era tudo o que inundava sua mente, fazendo seu peito afundar em apreensão.

- Veja bem, quando se trata do cérebro, podemos fazer algumas previsões, mas nem sempre acertamos, pois nenhuma lesão cerebral é igual a outra. - A Dra explicou sem perder o tom de voz calmo, captando em Enid o nervosismo crescente. - É claro que, em um cenário mais positivo, a essa altura você já lembraria de alguma coisa, mas isso não ter acontecido ainda não quer dizer que não pode vir a acontecer.

- Mas tudo está bem! Enid parece perfeitamente ser quem era novamente, é maravilhoso. - A voz de Esther, que estava sentada próximo à janela folheando uma revista enquanto acompanhava a consulta, se fez presente na conversa.

- Senhora Sinclair, eu posso falar a sós com Enid por um momento, por favor? - Após perceber o deleite na fala da mãe e a expressão vazia e incerta no rosto de Enid, que permaneceu em silêncio, Amélia pediu educadamente voltando-se para a mais velha.

- Está tudo bem, mãe. - A loira afirmou para a mulher, ao ver que em sua face mostrava relutância em seguir o pedido da médica.

- Certo. - A Sinclair então cedeu e levantou-se da cadeira de onde estava, lançando um último olhar silencioso para Enid, e em seguida para a Shepherd, para finalmente deixar a sala, fechando a porta atrás de si.

- Enid, você quer mesmo recuperar a sua memória? - Amélia começou, sendo direta.

- Quero.

- Acontece que alguns pacientes, quando sofrem de algum trauma assim, têm medo de que com a recuperação das memórias, a memória do trauma volte também.- A médica explicava pacientemente, mostrando compreensão diante de todo o caso. Se iam manter o foco na recuperação total de Enid, e isso significava não desistir das memórias, teriam que ser bem claros quanto aos esforços necessários para isso.

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