Capítulo 18: eu vejo, na tua cara, que ainda é tempo.

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"Prometo ajudá-la a amar a vida, te abraçar sempre com ternura, e ter a paciência que o amor exige. Falar quando palavras são necessárias e compartilhar o silêncio quando elas não forem. Concordar em discordar do bolo red velvet. E viver dentro do calor do seu coração e sempre chamá-lo de lar."

— Eu poderia ter pedido sua ajuda pra escrever os meus votos. — Deena provocou, desviando os olhos da tv que exibia a gravação do casamento para lançar um sorriso zombeteiro na direção de Enid, e logo tendo o rosto acertado por uma almofada lançada pela própria esposa.

Fazia algumas horas que o casal havia chegado no apartamento de Enid, e desde então a loira não havia lhes dado uma pausa em ouvir seu lamento, ou melhor, seu drama por se sentir sobrecarregada com tantas emoções, dúvidas e inseguranças.

Havia circulado a sala e andado de um lado para o outro no cômodo mais vezes do que poderia contar. Inspirado profundamente e suspirado pesadamente tantas vezes que seu peito já mostrava sinais de cansaço por toda a agitação.

Sua irmã e cunhada, por outro lado, se divertiam em lhe provocar.

E só agora, com a gravação de seu casamento rodando pela terceira vez naquela tarde na tv, a loira encostou as costas na parede oposta ao sofá e deixou o corpo escorregar, até estar sentada no chão, com uma exagerada expressão de frustração no rosto.

— Me diz como é que você promete que o coração dela vai ser sempre o teu lar e depois dá um fora nela? — Agora foi a vez de Sam fingir uma careta de indignação ao implicar com a irmã.

— Sam... — Enid protestou, soando quase como um choramingo.

— Desculpa, é que te ver caidinha assim é sempre um grande entretenimento. — Deena disse, levantando-se de seu assento no sofá, antes de ir em direção à cozinha para pegar mais pipoca. Isso mesmo, o casal havia feito pipoca para assistir ao drama da mais nova. — mas de verdade, Enid, o que está te impedindo de só, sei lá, ligar pra ela?

— De aparecer na porta dela com olhinhos de filhote carente e implorar pra ela te botar na coleira de novo? — Sam, que também estava sentada no chão e tinha as costas apoiadas no sofá, empurrou a irmã de leve com o próprio pé, enquanto sustentava uma expressão de profundo deleite em ver a loira corar.

— Sam! — Enid ralhou, seu rosto se tornando mais e mais vermelho a cada segundo. — Ugh, eu não sei! Eu... a nossa convivência não foi muito boa depois do acidente. Tivemos momentos de paz, claro. Mas não o suficiente para compensar pelas milhões de vezes em que fui simplesmente horrível com ela...

A voz de Enid ia morrendo à medida que concluía sua linha de pensamento. Não era mais hora de esconder o quão se sentia culpada por seu comportamento.

Por mais que tentasse justificar suas atitudes com o fato de ter passado por um evento traumático que apagou parte de sua memória, não poderia fingir que essa era realmente uma desculpa para descontar suas frustrações e medos em quem estava ao seu redor. Principalmente em quem estava ao seu lado, fazendo de tudo para lhe ajudar e deixar o máximo confortável possível.

Estaria mentindo, realmente, se dissesse que não tentou usar essa justificativa para si mesma várias e várias vezes. Mas seu coração agora pesava ao remoer o pensamento, sabendo que estava apenas tentando aliviar a própria consciência.

— E mesmo assim, eu só vi ela se afastar quando pensou que isso fosse o melhor pra você. — Samantha respondeu, adotando um tom um pouco mais sério ao falar dessa vez.

— E talvez fosse o melhor pra ela também. — Enid rapidamente retrucou, uma feição não-tão-feliz em seu rosto, ao praticamente cuspir as palavras, e sequer conseguia ouvir a própria voz ao falar. Se a separação era, de verdade, o melhor para ambas, então por que a injustiça da situação ainda deixava um sabor amargo na boca?

The Vow | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora