Ela une todas as coisas

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Ela está em todas as coisas
Até no vazio que me dá
Quando vejo a tarde cair
E ela não está

[Nero]

Os dias passaram frios, e como sempre confusos.

Dirigia para o cafofo agora para respirar um pouco, estava cansado, amedrontado, tinha diversas dúvidas e diversos medos passando pela minha mente.

Já não ligava mais para Giovanna todos os dias, ou, aparecia em sua casa para buscá-la.

Eu estava naqueles momentos de todo artista, poeta, de todo homem apaixonado.

A solidão.

Minha mente estava vazia, minha inspiração era confusa, já não sabia mais sobre o que escrever, ou sobre o que ler, ou sobre o que cantar.

Procurava tudo que podia expressar o que eu estava sentindo, e certamente, não conseguia.

Era verdade meu afastamento de tudo, e de todos, até mesmo nos corredores do trabalho evitava muitas conversas, e faltando apenas três meses para acabarmos as gravações, e menos de um mês para o nascimento de Noá, toda minha cabeça estava agitada.

Quando me encontrava com Giovanna no camarim, mal trocávamos palavras, existia um silêncio perturbador mas um toque acolhedor.

Era certo, que nossa rota de fuga para todos os problemas era os braços um do outro.

Vanessa iria se reunir com alguns amigos em sua casa, e com a Karen indo, Giovanna decidiu não ir.

A mulher deixava claro o seu desconforto com a presença de Karen, e vice versa, e é claro que aquilo também me causava embrulhos.

Dirigia a caminho da reunião, totalmente desanimado, sem falar muito, nem cerveja de graça conseguia me tirar a angústia. Estranho não?

Chegando no ambiente cumprimentei as pessoas com um riso falso no rosto, ouvia Karen reclamar baixo em meu ouvido, pedindo para que eu mudasse a cara.

Ouvia reclamações o tempo inteiro, sobre a minha cara, a minha ausência que se tornou presença distante, eu estava lá, mas não estava.

Assistia todos conversarem, se divertirem, enquanto eu apreciava a música para fugir da maldita socialização.

- Canta pra gente ?

Vanessa se aproxima.

-Hoje não Van.

Recuso com riso no rosto, mas a plateia restante pede até eu ceder.

A realidade é que cantar, seja lá em que lugar ou momento, me fazia tão bem que sentia meus demônios serem exorcizados a cada melodia que eu havia de cantar.

- Tá legal, eu canto.

Tomo o violão em minhas mãos, dedilhei algumas notas.

Naquele momento fui invadido por saudades, por medos, e por um momento de epifania quando comecei a cantarolar a letra de Jorge Vercillo.

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