Capítulo 2

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Chegando na vila, consigo perceber os olhares julgadores dos vikings, nada fora do comum, simplesmente os ignorei e fui em direção a primeira parada: a ferraria. Estranhamente o Bocão adora os vegetais que nós plantamos e sempre pega bastante, então sempre dou preferência para ele. Além de que ele respeita eu e meu pai de igual para igual.

Bocão: Olha só o que o vento trouxe. Arkyn! Faz tempo desde a última vez que apareceu por aqui.

Arkyn: Olá Bocão, pois é, acontece que eu tenho a leve impressão de que eu não sou muito bem-vindo - aponto com a cabeça para as pessoas que me olhavam torto.

Bocão: Bobagem, só estão com inveja que vocês tem a melhor fazenda daqui, e falando em fazenda, o que você trouxe?

Arkyn: O de sempre Bocão, que por sinal é o seu favorito, colhido especialmente para você.

Bocão: Ah, você sabe como manipular um velho viking, bom, passe pra' cá - assim que resolvemos tudo, eu estava prestes a sair quando uma pessoa que eu não queria ver aparece bem do meu lado.

Melequento: Eaí' Bocão.

Bocão: Oi Melequento, do que precisa?

Melequento: Preciso que afie esse meu machado - diz entregando o machado para Bocão. - Sabe, todos os melhores guerreiros precisam que seus machados fiquem brilhando.

Bocão: Certo, vou ver o que posso fazer - ele se vira e vai pra dentro da ferraria, e eu ia saindo dali esperando não ser notado, mas parece que hoje não é meu dia de sorte.

Melequento: Olha só o que temos por aqui, o frágil Arkyn.

Arkyn: O que você quer?

Melequento: Isso lá é jeito de tratar o seu velho amigo?

Arkyn: Não somos amigos.

Melequento: Que insensível, por isso não consegue uma namorada.

Arkyn: Sabe Melequento, nem todos precisam de uma garota para satisfazer o próprio ego, além de que eu tenho coisas mais importantes na minha vida do que ficar procurando por mulher.

Melequento: É por isso que ninguém gosta de você.

Arkyn: Não preciso que gostem, tendo meu pai pra' me fazer companhia já basta - vejo Astrid e os demais adolescentes chegando.

Melequento: Que idiota.

Arkyn: Pra' você deve ser, afinal, você nunca deve ter experimentado o carinho de um pai.

Todos ali abrem a boca, chocados pelo que eu disse, é, se antes eu não tinha amigos, agora é que eu não faço mais. Enquanto todos me olham surpresos, eu pego o carrinho que eu trouxe e me afasto, indo para o meu próximo ponto de parada. Talvez eu tenha falado demais? Bom, quem liga? É o Melequento, ele falaria pior.

Arkyn off - Narrador on

Astrid: Caramba, essa foi-

Cabeça-dura: Incrível! - Todos olham de forma reprovadora para ele. - O que foi? Vai dizer que não foi legal ouvir o pequeno Arkyn dizer isso?

Perna-de-Peixe: Ele tem seu tamanho, você sabe né'?

Cabeça-quente: Geralmente ele só ignora o que nós dizemos e vai embora.

Cabeça-dura: Pois é, eu nunca imaginaria que ele possuía tamanha grosseria dentro dele.

Cabeça-quente: Talvez ele não seja tão idiota assim - ambos os gêmeos se olham.

Cabeça-dura: Não, ele continua um idiota medroso.

Perna-de-Peixe: Medroso?

Cabeça-quente: Ele não quer matar dragões.

Cabeça-dura: Isso é só uma desculpa para disfarçar o medo dele por essas temíveis feras.

Narrador off- Arkyn on

Sinceramente, as pessoas dessa vila são muito irritantes, ainda bem que já terminei tudo e estou voltando pra casa, infelizmente não consegui descobrir nada.

Xxx: Você ficou sabendo? Estão dizendo que o Soluço acertou um Fúria da noite.

Yyy: Isso é mentira daquele moleque, nunca que uma espinha de peixe como ele conseguiria fazer isso.

Espera um pouco, o Soluço acertou um Fúria da noite? Bem que eu tinha visto uma sombra caindo do céu em direção a floresta... Eu preciso ir atrás dele e impedir que isso aconteça.

Arkyn off - Soluço on

Estava andando pela floresta em busca do Fúria da noite que eu derrubei, preciso pegar o coração ou a cabeça dele e levar até a vila, assim irei provar que sou um verdadeiro viking, e quem sabe descolar uma namorada, ia ser incrível jogar na cara do Melequento que eu matei um dragão antes dele. Olhei para o mapa em minhas mãos e fechei os olhos, torcendo para que o dragão estivesse na minha frente, mas assim que os abri, recebi a mesma visão de todos os outros lugares em que procurei, só um monte de árvores e pedras. Com raiva de mim mesmo, risquei o mapa inteiro e fechei o livro.

Soluço: Ah, os deuses me odeiam. Tem gente que perde a faca, perde o escudo, mas eu não, eu consigo perder um dragão inteiro - bati em um galho com força e ele volta na minha cara. É, eu tenho um azar gigante. Olho em direção ao galho e percebo que ele estava quebrado, como se uma coisa grande tivesse batido nele e reparando melhor, na direção em que o galho se quebrou forma uma trilha, junto de algumas marcas no chão, talvez minha sorte estivesse mudando.

Desço a pequena ladeira que se formou e olho por cima do monte de terra, logo me assustando e me escondendo, mas assim que levanto, percebo algo enroscado em algumas cordas... Um dragão, o Fúria da noite. Procuro pela minha faca, a qual eu sempre carrego comigo, e a levanto, indo em direção ao dragão.

Soluço: Olha só, e-eu consegui... Ah eu consegui! Isso vai limpar minha barra! É! Eu derrubei essa fera poderosa- Ai! - o dragão se mexe assim que eu coloco o pé na cabeça dele, me assustando e me fazendo ir até uma pedra, mas logo vou até ele novamente e aponto a faca para o mesmo, e como se tudo não pudesse ficar ainda mais assustador, o dragão abre o olho, enquanto solta alguns grunhidos. Respiro fundo algumas vezes, tomando coragem e o olho atentamente.

Soluço: Agora eu vou te matar dragão, e depois eu vou tirar o seu coração e vou levar para o meu pai. Eu sou um viking. Eu sou um viking! - Digo olhando para seus olhos, e o dragão resmunga em resposta. Respiro de novo e ergo a faca, mas travo e olho novamente para o Fúria da noite, vendo nos seus olhos algo como medo (?). Me concentro e ergo mais a faca e o dragão desiste de tentar lutar, se entregando para a morte, então eu levanto a faca novamente e... Desisto. Apoio ela em minha cabeça e olho para o dragão, sentindo o arrependimento bater com tudo em mim.

Soluço: O que foi que eu fiz...? - Estava indo embora, quando olho novamente para o Fúria da noite, analisando a situação das cordas, se eu o deixar assim, ele irá morrer e eu não posso fazer isso, não quando a culpa foi minha, então eu tomo uma atitude que eu com certeza vou me arrepender depois.

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