Soluço on
Eu estava surpreso com essa revelação. Então quer dizer que foi culpa do meu pai o Arkyn ter se afastado? Sem nem perceber, acabei deixando escorrer livremente pelo meu rosto uma lágrima, eu nunca entendi o motivo dele ter começado a me ignorar e se afastar cada vez mais. Agora que eu sei o que houve, farei de tudo para voltarmos a conversar, e acho que não tem momento melhor do que esse. De forma silenciosa me aproximo dele, isso até Banguela me ver e me olhar, o que fez com que o viking também me olhasse, fazendo seus olhos se arregalarem e o mesmo se levantar de forma rápida da pedra que estava sentado.
Soluço: É, oi.
Arkyn: Oi.
Soluço: Vejo que conhece o Banguela.
Arkyn: É o que parece - um silêncio se instala sobre nós e isso parece o deixar nervoso, já que começa a brincar com seus dedos e balançar a perna. - Bom, eu vou indo, não quero atrapalhar, ah e também eu não volto mais se quiser - ele diz se afastando quase correndo, eu não posso deixar que ele fuja assim, posso não ter mais essa chance. Sem nem perceber acabo gritando seu nome, o que o faz parar abruptamente e ficar estático no lugar.
Soluço: Não vá embora, fique, por favor - não ganho nenhuma resposta, mas posso perceber seus ombros se tensionando. - Arkyn eu... - não sei o que dizer, mas preciso achar alguma coisa, qualquer coisa, só para o manter aqui. - Eu não quero que fuja.
Arkyn: ... Não estou fugindo.
Soluço: Está sim, por quase 8 anos.
Arkyn: ... Como disse, não estou fugindo.
Soluço: Então me diga, porque parou de falar comigo? - Ele não respondeu nada, apenas permaneceu parado. - Arkyn, me responda, por favor, você se lembra, não é? Quando éramos crianças e adoravamos vir aqui nessa enseada brincar de jogar pedrinha no lago, apostar corrida até a vila, subir a montanha para ver as estrelas e acabar dormindo por lá mesmo. Me diga, porque abandonou tudo isso? Me abandonou? - Minha voz já sai meio cortada, devido às lágrimas que começaram a se formar em meus olhos.
Arkyn: ... Eu, e-eu não sei-
Soluço: Sabe sim! - O corto antes que ele pudesse mentir. - Eu quero a verdade.
Arkyn: ... Lamento Soluço, mas eu não posso lhe dizer.
Soluço: Porque não?! Eu ouvi você falando sobre isso!
Arkyn: Então sabe o porque fiz isso.
Soluço: Sei o que te levou a fazer, mas não sei o porque escolheu fazer - ele não me responde, somente solta um suspiro, ainda de costas para mim. - Arkyn, eu, e-eu não entendo, você nunca foi alguém que se importa com a opinião dos outros, nunca foi de seguir algo que não acredita ser certo, então porque? É porque eu sou inútil-
Arkyn: Você não é inútil, Soluço - ele me corta antes mesmo que eu possa terminar a frase - Por favor, não diga mais isso.
Soluço: Então pare de me enrolar e me diga!
Arkyn: Eu não tive escolha, tá'?! -Diz se virando para mim e pude ver que seu olho brilhava, provavelmente pelas lágrimas que ele segurava.
Soluço: Não teve escolha...?
Arkyn: Na verdade eu tive, mas eu pensei que essa seria a certa - fiz sinal para que ele continuasse e ele soltou um suspiro. - Depois que eu sai de perto de casa, eu fui correndo para a floresta procurar por você, eu não iria me afastar, iria enfrentar seu pai e o arquipélago inteiro se precisasse, mas ai eu vi você conversando com o Perna-de-Peixe sobre alguma coisa e eu percebi que eu estava afastando as crianças de você devido aos meus ideais de não matar dragões, eu vi que se eu me afastasse você poderia ser aceito e fazer mais amigos, eu pensei que o Stoico pudesse estar certo e que eu estava te prejudicando, então eu decidi me afastar para que assim você tivesse uma vida melhor.
Arkyn: E-Eu não imaginava que você seria excluído e odiado, e quando percebi isso até pensei em falar contigo de novo, mas eu pensei que estivesse com raiva de mim por ter te ignorado e que não quisesse mais minha amizade, então fui covarde e deixei que as coisas continuassem assim, m-mas eu não queria, eu juro que não queria que você ficasse triste, só pensei que seria o melhor.
As lágrimas que ele lutou tanto para segurar a este ponto já escorriam livremente pelo seu rosto, me deixando surpreso, pois nunca havia o visto chorar. Sem pensar muito ando até o mesmo e o abraço, escutando um ruído de surpresa saindo de sua boca. Ele demora uns segundos, mas logo me abraça de volta, rodeando minha cintura com seus braços e colocando seu rosto na curvatura do meu pescoço.
Arkyn: Me desculpa.
Soluço: Você não precisa pedir desculpa, você pensou que essa era a melhor escolha, não tinha como você adivinhar o que viria depois.
Arkyn: Eu sei, mas eu poderia ter voltado a falar com você, poderia-
Soluço: Não precisa se justificar, o passado ficou para trás, não precisa ficar se remoendo por isso, o que você poderia ter feito não importa mais, o que importa é o que você vai fazer daqui para frente - Digo e me afasto poucos centímetros, ainda com meus braços ao redor do seu pescoço e os dele ao redor da minha cintura, para conseguir olhar em seu olho castanho, já que o outro estava tampado.
Passei meus dedos por suas bochechas para limpar as lágrimas e o vejo sorrir levemente, ainda mantendo minhas mãos nas laterais de seu rosto. Não sei quanto tempo ficamos nos olhando, mas aquele momento estranhamente bom foi cortado por um barulho de dragão, nos fazendo sair do transe e consequentemente nos afastarmos, ambos com os rostos corados e eu completamente constrangido.
Soluço: Então, é, tá' ficando tarde né, e, eu, hm - tropeço em uma pedra e ele ri um pouco, uma risada doce que faz meu rosto esquentar mais.
Arkyn: Fique um pouco com o Banguela, acho que ele está com saudades de você - diz dando um sorriso que eu não via a anos, um sorriso lindo. Ele passa por mim e começa a andar em direção a saída da enseada. - Soluço - ele me chama e viro bruscamente em sua direção, ouvindo meu pescoço estralar. - Você continua o mesmo. Obrigado, por tudo. Te vejo amanhã, Sol.
Soluço: Tchau... - Digo e o vejo e sair da enseada. Sol. O apelido que ele me chamava na infância, eu não sei se era uma abreviação de Soluço ou se era referente ao sol mesmo, mas independente do significado, ouvir isso faz meu rosto esquentar ainda mais, o que achei ser impossível, e também me fez sentir meu estômago se revirar de um jeito bom. Sem nem perceber um sorriso bobo se abre em meu rosto e acabo soltando um suspiro. Saio dos meus pensamentos ao sentir uma movimentação ao meu lado, virando a cabeça e vendo o Banguela me olhar de uma forma meio brincalhona, como se soubesse exatamente o que pensava e o que era todas essas sensações que nem eu mesmo sei.
Soluço: Que foi? Perdeu alguma coisa? - Ele solta uns grunhidos que parece ser uma risada e se afasta, que dragão doido. Olho de volta para a saída da enseada e começo a pensar em tudo que aconteceu hoje. É, talvez minha vida esteja mudando para melhor, muito melhor.
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Talvez Mais
FanficEm um mundo onde o respeito é conseguido através da morte de um dragão, Arkyn Hermod, um adolescente que veio de uma família que se recusa a matar um desses animais, é levado ao isolamento. Mas as coisas começam a dar certo quando uma dessas criatur...