Capítulo 3

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Soluço on

Cortei as cordas. Sim, eu peguei a faca e cortei as cordas. Assim que eu cortei a última corda, o dragão pulou em cima de mim, me prendendo na pedra que tinha atrás. Eu sabia que eu ia me arrepender, agora eu vou ser morto e nunca vou poder provar que sou um viking, e também nunca vou ter uma namorada, que maravilha.

Olhei nos olhos do dragão, verdes, iguais aos meus, profundos e ameaçadores, mas por algum motivo eu consegui me ver neles, e não to' falando de reflexo. O fúria da noite abre suas asas e mostra seus dentes, acho que minha hora chegou, passarei pelos portões de Valhalla, pelo menos terei uma morte digna, morto pelo grande e temível fúria da noite, tudo porque eu não consegui o matar. Ele se prepara e abre sua boca, eu fecho os olhos esperando ser devorado, mas tudo o que eu recebo é um grande rugido no meu ouvido, que provavelmente vai me deixar surdo.

Assim que ele para de rugir, se vira e vai embora, voando e batendo uma pedra. Eu estou vivo. Eu. Estou. Vivo. Me deito no chão apoiado na pedra e respiro algumas vezes, mas depois me levanto, observando o dragão continuar com seu vôo, ou pelo menos tentando. Assim que me viro para ir para casa, tudo escurece e eu desmaio.

Soluço off - Arkyn on

Cheguei na fazenda e guardei o carrinho, logo entrando em casa para guardar o dinheiro. Ia saindo quando uma figura alta, de cabelos pretos presos em um meio rabo com coque e que iam até um pouco abaixo do ombro, com olhos azuis como o céu e com a barba e bigodes raspados aparece em minha frente.

Ragnar: Posso saber onde o mocinho estava indo?

Arkyn: Pai, veja bem, eu estava indo para a floresta dar uma volta-

Ragnar: Como você disse, estava, não está mais.

Arkyn: Pai, deixa eu ir.

Ragnar: Só depois que você se alimentar, não quero você desmaiando de fome por aí.

Arkyn: Mas pai, eu to' bem.

Ragnar: Então vai ficar ainda melhor quando comer.

Arkyn: Quando eu voltar eu como.

Ragnar: Não faz diferença comer agora ou depois - eu ia falar que se não faz diferença, então eu comia depois, mas ele me cortou antes. - Então você pode muito bem comer agora, e quanto antes começar a comer, antes vai terminar para sair.

Por falta de opções, cá estou eu comendo sob supervisão do meu pai.

Arkyn: Eu não sou uma criança que precisa de supervisão pra comer, já tenho 15 anos - resmungo enquando como.

Ragnar: Jura? Agindo assim não parece, e nós dois sabemos que se eu não te vigiar, você passa o dia sem comer.

Arkyn: Calúnia!

Ragnar: Sim, claro.

Bem, o que ele disse não é totalmente mentira, eu realmente não como muito e se deixar eu passo o dia sem comer, mas que culpa eu tenho se eu esqueço? Ficar sem comer nunca me afetou. Enfim, terminei de comer, me despedi do meu pai e fui rumo a floresta, espero que o Soluço ainda esteja lá para me indicar o caminho até o fúria da noite, mesmo que sem saber que estaria fazendo isso.

E se está se questionando sobre eu acreditar nisso, eu prefiro não pagar para ver ele aparecendo com a cabeça do dragão embaixo do braço, se bem que eu duvido muito que ele vá matar um dragão. Depois de um tempo andando, e com andando eu digo correndo como se minha vida dependesse disso, eu achei uma árvore quebrada e um viking desmaiado embaixo dela... É o Soluço! Corri em direção a ele, ainda está respirando, mas o que aconteceu aqui? Bom, melhor eu levar ele até a vila, mas sem deixar que os outros vejam, senão irão me acusar por algo que nem fiz.

Arkyn off - soluço on

Acordei em um lugar diferente de onde desmaiei, é uma árvore próxima da vila, inclusive posso ver minha casa daqui, mas a verdadeira questão é: como eu vim parar aqui? A única resposta possível seria se alguém tivesse me trazido até aqui, mas não acho que alguém da vila faria isso além do meu pai e do Bocão, e se fossem eles eu estaria em casa e provavelmente levando bronca.

Bom, seja lá quem tiver feito, eu agradeço, mas agora acho melhor eu ir para casa. Assim que chego, entro nela tentando passar despercebido, já que meu pai está ali, mas graças a porta isso não é possível, então ele me chama quando estou na metade da escada.

Stoico: Soluço.

Soluço: Pai, é... Eu preciso falar com você, pai.

Stoico: É, eu também preciso, meu filho.

Soluço/ Stoico: Eu decidi que eu não quero combater dragões/ Você pode aprender a combater dragões, o que? - Dissemos ao mesmo tempo.

Stoico: É, fala primeiro.

Soluço: Não, não, não, não, não, fala você.

Stoico: Muito bem, você venceu, o treino com dragões começa amanhã cedo.

Soluço: Ah, eu devia ter falado primeiro, hã, sabe o que eu tava pensando pai, é que nós, nós já temos um excesso de vikings para combater dragões, entendeu?, mas não temos tantos vikings padeiros e nem vikings quebra-galhos.

Stoico: Vai precisar disto - me entrega um machado.

Soluço: Eu não quero combater dragões, pai.

Stoico: Ora, é claro que quer.

Soluço: Traduzindo, pai, eu não consigo matar dragões.

Stoico: Mas você vai matar dragões.

Soluço: Não, eu tenho mega, hiper certeza de que eu não vou.

Stoico: Chegou a hora Soluço.

Soluço: Você não tá' me ouvindo?

Stoico: Isso é muito sério, filho. Quando levar este machado, levará todos nós com você, quer dizer que você andará como nós, falará como nós, pensará como nós, acabou tudo... Isso - aponta para mim.

Soluço: Mas você tá' apontando para eu todo.

Stoico: Entendeu?

Soluço: Essa conversa tá' me parecendo mais um monólogo.

Stoico: Entendeu?! - Diz mais firme e eu solto um suspiro.

Soluço: Entendi.

Stoico: Ótimo. Treine firme. Eu vou voltar, talvez.

Soluço: E eu vou ficar aqui, talvez.

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