CAPÍTULO 05

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Gatilhos de agressão doméstica

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Gatilhos de agressão doméstica.

8 anos atrás...

Papai ia voltar de onde estava preso e não tinha nos deixado em paz mesmo longe.

Quase todas as semanas desses quatro meses que estava preso, tinham cartas na nossa porta nos ameaçando, mamãe não me deixava ler, mas era o suficiente pra ela desfazer as malas varias e varias vezes, em todas tentativas de ir embora.

— Porquê você escolheu o papai? - pergunto sentando-me ao lado da mamãe, que estava sentada no sofá olhando fixamente para a porta, com uma mala e uma mochila do lado.

Mamãe sorri de lado, relaxando no sofá antes de me olhar, seus olhos estavam vermelhos.

— Seu pai era tão tão diferente, meu filho. - uma lágrima solitária escorreu dos olhos dela, que logo se apressou pra limpar. — a gente se conheceu na faculdade, eu nem gostava dele, então Samuel veio com rosas, chocolates, elogios, era mágico. - mamãe suspira, como se contasse uma história de fantasia. — Então cometi o pior erro da minha vida e que a unica coisa boa que veio dessa escolha, foi ter você, jamais aguentaria tudo isso se não fosse por você. - mamãe acaricia meus cabelos, bagunçado.

— Então minha mãe se foi, logo depois meu pai também, fiquei sozinha no mundo e Samuel parecia algo bom, seu pai me convenceu a vender a casa que eram dos meus pais, mudar de cidade com ele, abandonar tudo e começar do zero e então tudo mudou.

Mamãe tomba a cabeça, apoiando-a no encosto do sofá.

— Eu não deveria falar essas coisas com você, só tem 11 anos. - murmura pra si mesmo. — E ele não vai nos deixar em paz, não tenho muito pra te manter, não iríamos muito longe.

— Ta tudo bem mamãe, eu não sou mais criança, posso ajudar. - tento conforta-la, mas por dentro é uma grande mentira, estou apavorado imaginando ele entrar pela porta.

— Não Thomas, não tem que se preocupar com essas coisas, mamãe vai estar segura agora, você vai brincar e ser uma criança normal, eu prometo, tudo bem? Chega disso. - mamãe tinha um sorriso esperançoso, mas parecia com medo assim como eu, então só a abracei, seu choro fez eu querer chorar, mas fui forte e aguentei.

Mamãe em partes tinha razão, papai me ignorava dentro de casa, era como se eu não existisse, mas ainda tinha os barulhos de noite, mas nunca a vi mais machucada.

Desde que papai voltou ele não machucava ela com as mãos, mas todo dia eu o ouvia dizer coisas que pareciam machucar.

— VOCÊ É UMA ESTÚPIDA, SE NÃO FOSSE AQUELE IMBECIL DA CASA DO LADO, EU ARREBENTAVA VOCÊ. - ouço ele gritar, faz semanas que os fones perderam a eficácia, cada vez mais alto, eu não conseguia mais só ignorar. — Por sua culpa tenho que ir naquelas reuniões de gente bêbada e tenho que aguentar aquele verme da casa ao lado me ameaçando, saiba que você não vale isso.

— PARA COM ISSO, EU JÁ ENTENDI, MAS MESMO ASSIM VOCÊ NÃO NOS DEIXA IR. - mamãe grita de volta.

— você já tentou isso quando tava grávida, se lembra? - papai gargalhava como se tivesse se lembrando de algo engraçado. — mas eu te achei, sempre vou achar e se você tentar de novo, vou fazer o que fiz novamente, mas com o Thomas.

Meus pés recuam, eu não deveria escutar pela porta, não mais.

— Por favor, só para com isso. - escuto a mamãe implorar chorando, esse som era o pior de toda noite e eu estava lá, só parado, com medo, eu queria matar ele, mas tudo que eu fazia era travar.

Saio de casa o mais rápido possível, andando como se fosse achar uma solução, super força, alguém que ajudasse a mamãe de verdade.

A sola dos meus pés doem, meu celular descarregou mas não parei, até que vi um galpão enorme com barulhos estranhos, perecia uma briga, fiquei parado por alguns segundos pensando se corria de volta pra casa ou espiava só um pouco.

Olhei em volta na rua que passei poucas vezes antes, mesmo de noite ainda tinham algumas pessoas por aqui.

Respirei fundo, caminhando em direção a enorme porta preta, abrindo-a para espiar só um pouquinho. Meus olhos arregalam quando vejo um ringue, igual os da tv, mamãe não deixa eu ver, diz que não quer que eu seja uma pessoa violenta, mas as vezes de madrugada eu desço pra ver.

Tinham poucas pessoas em volta, mas o principal eram os dois dentro do ringue, dei um passo para trás quando um caiu no chão com um golpe.

— Está gostando do que vê? - levo um susto com a voz grave atrás de mim, quando me viro, esbarro num cara enorme, assustador, ele mal tinha uma sombrancelha, estava cheia de cicatrizes.

O homem parece perceber pra onde eu estava olhando, já que passa uma das mãos nessa parte do rosto.

— Muita pancada. - reponde, a pergunta que nunca saiu pela minha boca. — Quando anos você tem garoto?

O homem pergunta olhando o relógio do pulso, mas eu estava em dúvida se respondia ou dava um jeito de fugir, Ele me encara esperando uma resposta, porém eu olho para o único espaço que eu tinha pra correr.

— Entendi. - ele murmura. — tudo bem, se quiser vim ver outros dias, a porta continuará aberta, amanhã é terça e terça é dia de frango frito pra todo mundo.

O homem termina de falar, tirando o corpo enorme da minha frente.

— Onze anos. - o repondo antes de ir embora andando rápido, ele diz mais alguma coisa, mas não paro pra ouvir.

Depois de voltar pra minha rua andando o mais rápido que podia, paro em frente a minha casa, respirando aliviado, então observo a casa ao lado, Crystal e eu não nos falamos mais, por culpa dela me tiraram da mamãe por dois dias, ela disse que não ia contar, mas contou.

E papai podia saber de algum jeito que Crystal que tinha contado, e se ele fosse atrás dela por isso?

Às vezes isso era chato, eu queria que ela ainda fosse minha amiga, ver filmes juntos, eu até achei um livro na biblioteca da escola que ensinava a falar que nem ela.

Mas todas as vezes, na hora de ir embora, eu ia muito tempo depois pra ter certeza que não iriamos nos ver.

Suspiro, sentado na escadinha da varanda, foram os melhores momentos do meu ano.

Vou sentir falta disso.

Vou sentir falta disso

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